Tradução:
Salvem a Liturgia
Papa Bento XVI dá Comunhão a uma religiosa. 28 de outubro, Missa de Encerramento do Sínodo dos Bispos para a Nova Evangelização. Foto: CNA/Anne Hartney |
O forte
interesse do Papa Bento XVI pela liturgia é bem conhecido aos católicos
devotos. Ainda antes de seu papado, os livros do Cardeal Joseph Ratzinger, como
The
Feast of Faith [A Festa da Fé, ainda sem tradução para o português] e Introdução
ao Espírito da Liturgia, foram formativos para muitos dos fiéis em busca de
princípios litúrgicos verdadeiros.
Durante seu Pontificado,
documentos como a Exortação Apostólica Sacramentum
Caritatis, de 2007, continuaram a catequese de Bento sobre a fonte e o
ápice da vida cristã. Enquanto estes escritos têm sido muito significantes para
a Igreja, padres e bispos próximos ao agora aposentado Santo Padre acreditam
que seu exemplo tem sido ainda mais [significante].
Mons. James
Moroney teve o privilégio de trabalhar com o Papa Bento XVI na conclusão da
nova tradução do Missal Romano para o inglês, implementada no Advento de 2011.
O esforço
começou com o Papa João Paulo II, que nomeou Mons. Moroney consultor para a
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Ele é também
secretário executivo do Comitê Vox Clara, fundado com o propósito de auxiliar a
congregação na emissão de uma nova tradução ao inglês dos textos litúrgicos.
Mons.
Moroney, que atualmente é reitor do
Seminário São João, em Boston, acredita que o Papa Bento XVI é, em muitos
aspectos, o melhor articulador da reforma litúrgica pós-conciliar.
“Isto era
verdade ainda antes de seu papado”, disse Mons. Moroney. "Como chefe da
Congregação para a Doutrina da Fé, ele era um líder em corrigir equívocos
populares sobre o que os Padres Conciliares disseram em vários tópicos,
inclusive na liturgia.”
“A
revivificação da verdadeira reforma litúrgica foi inspirada não tanto pelas
palavras do Santo Padre, por mais importantes que elas fossem”, disse ele. “Ela
foi inspirada primeiramente pelas suas ações. Ele tinha uma devoção para com a
liturgia que era manifestada no modo alegre e solene em que a celebrava. Ele
sabia que ela era a fonte e o ápice da vida cristã, de modo que este
entendimento trouxe alegria e maravilha ao seu coração, o que era percebido em
sua face.”
Contribuição em Três Partes
No centro do
legado litúrgico do Papa Bento, de acordo com Mons. Moroney, está a própria
definição de “plena e ativa participação de todo o povo”, recomendada pela
Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, Sacrosanctum
Concilium. Mons. Moroney acredita que a contribuição do Santo Padre para o
entendimento do que significa participar na liturgia pode ser resumida em três
partes.
“A
primeira”, disse ele, “é a ênfase de Bento na participação interior na liturgia.
Nossa participação não é constituída principalmente de ações exteriores, mas de
[ações] interiores. A celebração adequada da liturgia somente é possível quando
uma compreensão do mistério pascal está presente. Esta compreensão é o coração
da verdadeira participação litúrgica.”
A segunda
parte é o apoio excepcional de Bento à retradução do Missal Romano ao inglês.
Ele continuou o trabalho de seu predecessor, devido a um desejo para “uma cada
vez mais profunda e plena participação dos fiéis”, que se fez possível com uma
tradução mais precisa.
“A terceira
parte”, disse Mons. Moroney, “da contribuição de Bento para uma definição mais
apropriada de participação na liturgia, é sua promoção do mistério e da
solenidade inerente ao culto oficial da Igreja. Ele sabia que a liturgia não
era algo que inventamos, mas algo que recebemos, e que era um encontro com o
Deus Vivo, a fonte do nosso bem-estar.”
Interpretação Autêntica do Vaticano II
O Padre
Ambrose Criste, dos Cônegos de São Norberto, atualmente serve como mestre dos
noviços da Abadia São Miguel, em Silverado, Califórnia. Os padres da abadia
oferecem tanto o Novus Ordo como a Missa
tradicional. Na verdade, várias das Missas dominicais oferecidas na Forma
Extraordinária no sul da Califórnia são rezadas pelos Cônegos de São Norberto,
que se aventuram em paróquias fora da abadia.
Pe. Criste,
como Mons. Moroney, acredita que a maior contribuição do Papa Bento à sagrada
liturgia é a interpretação autêntica dos escritos dos Padres do Concílio
Vaticano II.
“Tantas
falsas idéias sobre a liturgia foram espalhadas após o Concílio. Foi
refrescante ter o Papa Bento esclarecendo as coisas, o que ele realmente
começou a fazer muito antes de seu pontificado”, disse o Pe. Criste.
Após o
Cardeal Ratzinger se tornar o Papa Bento XVI, ele deu um passo à frente no
sentido de tornar seus ensinamentos litúrgicos prévios aparentes, de acordo com
o Pe. Criste. Em 2007, ele promulgou o Summorum
Pontificum, que possibilitou aos fiéis terem um maior acesso ao rito
tradicional da Missa. Na carta
que acompanha o motu proprio, o Santo
Padre deixou claro que a Missa oferecida de acordo com o Missal de 1962 nunca
foi abrogada.
“Isso foi
muito significativo”, disse o Pe. Criste, “porque a liturgia autêntica nunca é
uma questão de romper com o passado, mas uma continuação dele. Pode haver
desenvolvimentos legítimos, certamente, mas fazer algo sem conexão alguma com o
que o precedeu é decididamente não-católico.”
Padre Criste
teve a honra de servir como diácono do Santo Padre em duas Missas. Dessas
ocasiões, ele disse: "A humildade e reverência com as quais Bento
conduziu-se foram extraordinárias. Não havia nada de casual no que ele fez. Ao
invés disso, você podia ver que ele estava dedicado profundamente e em espírito
de oração à Sagrada Liturgia. Ele sabia que ela não era uma questão de
criatividade ou novidade, mas fidelidade e tradição".
“Bento
mostrou com êxito que o Vaticano II era todo sobre fidelidade e tradição,
também”, acrescentou o Pe. Criste. “Para uma correta interpretação do ‘espírito
do Concílio’, ele recomendou a leitura da letra do Concílio. Isto vem
acontecendo gradualmente, com o passar dos anos, e estamos mais próximos do que
os Padres Conciliares pretenderam a respeito da liturgia.”
Bispo Conley
O Bispo
James Conley, de Lincoln, Nebraska, vê a promoção da beleza da liturgia do Papa
Bento como seu legado primário.
“Quando vim
a primeira vez à Roma, em 1989, como um padre estudante, tive a sorte de
presenciar muitas das Missas do Cardeal Ratzinger”, disse o ex-auxiliar de
Denver. “Elas eram na Forma Ordinária, mas em latim. Elas eram sempre feitas
com reverência, dada a percepção do cardeal para a natureza transcendente da
liturgia. Ele sabia que casualidade não era aceitável quando se encontra o Todo
Poderoso”.
“Ele sabia,
ainda antes de seus dias como o Cardeal Ratzinger, que sem reverência – que
está intimamente ligada à fidelidade às rubricas – não se permite que a
liturgia influencie a alma”, disse o bispo Conley. “Pelo contrário, você é quem
cria sua própria liturgia à sua própria imagem”.
O bispo
Conley acredita que a edição do Summorum
Pontificum foi um enorme ponto de virada na vida litúrgica moderna da
Igreja porque tornou a Forma Extraordinária do Rito Romano mais acessível aos
fiéis e eliminou quaisquer sombras que poderiam ter sido associadas com ele.
Isto influenciou não apenas aqueles que participam da forma extraordinária,
como também os que participam da forma ordinária.
“Tornou-se
mais comum testemunhar o uso da língua latina, do órgão de tubos e do canto
gregoriano na Forma Ordinária”, apontou o bispo de Lincoln. “Bento queria
demonstrar que as duas formas estão muito conectadas. Esta realidade esteve
obscurecida na maioria dos lugares após o Concílio porque os escritos dos
Padres Conciliares frequentemente foram ignorados. Bento quis deixar claro que,
assim como seu núcleo, a liturgia da Igreja é una, embora tenha várias formas.”
“Para
qualquer forma da liturgia ser eficaz, ela deve expressar a ordem, harmonia e o
apelo a Deus. A beleza não é opcional, mas essencial, para a liturgia
adequada”, explicou o bispo Conley. “Isto foi ensinado pelos Padres Conciliares,
de uma forma muito particular aos bispos, no artigo 124 da Sacrosanctum
Concilium, que diz: ‘Tenham os Bispos todo o cuidado em retirar da casa de Deus
e de outros lugares sagrados aquelas obras de arte que não se coadunam com a fé
e os costumes e com a piedade cristã, ofendem o genuíno sentido religioso, quer
pela depravação da forma, que pela insuficiência, mediocridade ou falsidade da
expressão artística.’”
A Majestade de Deus
O bispo
Conley afirmou que Bento sabe que a arte sacra não é sobre a autoexpressão, mas
sobre apontar para a fonte da beleza – Deus Onipotente. A arte sacra, seja visual
ou auditiva, nos possibilita transcender as nossas vidas diárias e encontrar o
Deus Vivo de um jeito que é frequentemente muito mais eficaz do que meramente relatar
fatos sobre Deus.
“Bento pensa
que os argumentos mais poderosos para a fé são a arte cristã e as vidas dos santos”,
disse o bispo Conley. “Estas duas entidades são muito intimamente relacionadas,
porque os santos receberam as graças necessárias para suas vidas exemplares
através da liturgia da Igreja, que é o manancial da arte cristã.”
“Somos
gratos ao Papa Bento por muitas coisas. No que diz respeito à liturgia,
especificamente, creio que sua contribuição mais notável foi chamar nossa
atenção para a majestade de Deus. Isso foi feito através de seus escritos e
ações, que dirigiram nossa meta para fora do nosso próprio círculo e em direção
a uma relação mais completa com o nosso Criador, Redentor e Santificador.”