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domingo, 24 de março de 2013

Bento XVI colocou a Liturgia à frente e no centro

Por Trent Beattie – National Catholic Register, em 20/03/2013
Tradução: Salvem a Liturgia

Papa Bento XVI dá Comunhão a uma religiosa. 28 de outubro, Missa de Encerramento do Sínodo dos Bispos para a Nova Evangelização. Foto: CNA/Anne Hartney
O forte interesse do Papa Bento XVI pela liturgia é bem conhecido aos católicos devotos. Ainda antes de seu papado, os livros do Cardeal Joseph Ratzinger, como The Feast of Faith [A Festa da Fé, ainda sem tradução para o português] e Introdução ao Espírito da Liturgia, foram formativos para muitos dos fiéis em busca de princípios litúrgicos verdadeiros.

Durante seu Pontificado, documentos como a Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, de 2007, continuaram a catequese de Bento sobre a fonte e o ápice da vida cristã. Enquanto estes escritos têm sido muito significantes para a Igreja, padres e bispos próximos ao agora aposentado Santo Padre acreditam que seu exemplo tem sido ainda mais [significante].

Mons. James Moroney teve o privilégio de trabalhar com o Papa Bento XVI na conclusão da nova tradução do Missal Romano para o inglês, implementada no Advento de 2011.

O esforço começou com o Papa João Paulo II, que nomeou Mons. Moroney consultor para a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Ele é também secretário executivo do Comitê Vox Clara, fundado com o propósito de auxiliar a congregação na emissão de uma nova tradução ao inglês dos textos litúrgicos.

Mons. Moroney,  que atualmente é reitor do Seminário São João, em Boston, acredita que o Papa Bento XVI é, em muitos aspectos, o melhor articulador da reforma litúrgica pós-conciliar.

“Isto era verdade ainda antes de seu papado”, disse Mons. Moroney. "Como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, ele era um líder em corrigir equívocos populares sobre o que os Padres Conciliares disseram em vários tópicos, inclusive na liturgia.”

“A revivificação da verdadeira reforma litúrgica foi inspirada não tanto pelas palavras do Santo Padre, por mais importantes que elas fossem”, disse ele. “Ela foi inspirada primeiramente pelas suas ações. Ele tinha uma devoção para com a liturgia que era manifestada no modo alegre e solene em que a celebrava. Ele sabia que ela era a fonte e o ápice da vida cristã, de modo que este entendimento trouxe alegria e maravilha ao seu coração, o que era percebido em sua face.”

Contribuição em Três Partes

No centro do legado litúrgico do Papa Bento, de acordo com Mons. Moroney, está a própria definição de “plena e ativa participação de todo o povo”, recomendada pela Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium. Mons. Moroney acredita que a contribuição do Santo Padre para o entendimento do que significa participar na liturgia pode ser resumida em três partes.

“A primeira”, disse ele, “é a ênfase de Bento na participação interior na liturgia. Nossa participação não é constituída principalmente de ações exteriores, mas de [ações] interiores. A celebração adequada da liturgia somente é possível quando uma compreensão do mistério pascal está presente. Esta compreensão é o coração da verdadeira participação litúrgica.”

A segunda parte é o apoio excepcional de Bento à retradução do Missal Romano ao inglês. Ele continuou o trabalho de seu predecessor, devido a um desejo para “uma cada vez mais profunda e plena participação dos fiéis”, que se fez possível com uma tradução mais precisa.

“A terceira parte”, disse Mons. Moroney, “da contribuição de Bento para uma definição mais apropriada de participação na liturgia, é sua promoção do mistério e da solenidade inerente ao culto oficial da Igreja. Ele sabia que a liturgia não era algo que inventamos, mas algo que recebemos, e que era um encontro com o Deus Vivo, a fonte do nosso bem-estar.”

Interpretação Autêntica do Vaticano II

O Padre Ambrose Criste, dos Cônegos de São Norberto, atualmente serve como mestre dos noviços da Abadia São Miguel, em Silverado, Califórnia. Os padres da abadia oferecem tanto o Novus Ordo como a Missa tradicional. Na verdade, várias das Missas dominicais oferecidas na Forma Extraordinária no sul da Califórnia são rezadas pelos Cônegos de São Norberto, que se aventuram em paróquias fora da abadia.

Pe. Criste, como Mons. Moroney, acredita que a maior contribuição do Papa Bento à sagrada liturgia é a interpretação autêntica dos escritos dos Padres do Concílio Vaticano II.

“Tantas falsas idéias sobre a liturgia foram espalhadas após o Concílio. Foi refrescante ter o Papa Bento esclarecendo as coisas, o que ele realmente começou a fazer muito antes de seu pontificado”, disse o Pe. Criste.

Após o Cardeal Ratzinger se tornar o Papa Bento XVI, ele deu um passo à frente no sentido de tornar seus ensinamentos litúrgicos prévios aparentes, de acordo com o Pe. Criste. Em 2007, ele promulgou o Summorum Pontificum, que possibilitou aos fiéis terem um maior acesso ao rito tradicional da Missa. Na carta que acompanha o motu proprio, o Santo Padre deixou claro que a Missa oferecida de acordo com o Missal de 1962 nunca foi abrogada.

“Isso foi muito significativo”, disse o Pe. Criste, “porque a liturgia autêntica nunca é uma questão de romper com o passado, mas uma continuação dele. Pode haver desenvolvimentos legítimos, certamente, mas fazer algo sem conexão alguma com o que o precedeu é decididamente não-católico.”

Padre Criste teve a honra de servir como diácono do Santo Padre em duas Missas. Dessas ocasiões, ele disse: "A humildade e reverência com as quais Bento conduziu-se foram extraordinárias. Não havia nada de casual no que ele fez. Ao invés disso, você podia ver que ele estava dedicado profundamente e em espírito de oração à Sagrada Liturgia. Ele sabia que ela não era uma questão de criatividade ou novidade, mas fidelidade e tradição".

“Bento mostrou com êxito que o Vaticano II era todo sobre fidelidade e tradição, também”, acrescentou o Pe. Criste. “Para uma correta interpretação do ‘espírito do Concílio’, ele recomendou a leitura da letra do Concílio. Isto vem acontecendo gradualmente, com o passar dos anos, e estamos mais próximos do que os Padres Conciliares pretenderam a respeito da liturgia.”

Bispo Conley

O Bispo James Conley, de Lincoln, Nebraska, vê a promoção da beleza da liturgia do Papa Bento como seu legado primário.

“Quando vim a primeira vez à Roma, em 1989, como um padre estudante, tive a sorte de presenciar muitas das Missas do Cardeal Ratzinger”, disse o ex-auxiliar de Denver. “Elas eram na Forma Ordinária, mas em latim. Elas eram sempre feitas com reverência, dada a percepção do cardeal para a natureza transcendente da liturgia. Ele sabia que casualidade não era aceitável quando se encontra o Todo Poderoso”.

“Ele sabia, ainda antes de seus dias como o Cardeal Ratzinger, que sem reverência – que está intimamente ligada à fidelidade às rubricas – não se permite que a liturgia influencie a alma”, disse o bispo Conley. “Pelo contrário, você é quem cria sua própria liturgia à sua própria imagem”.

O bispo Conley acredita que a edição do Summorum Pontificum foi um enorme ponto de virada na vida litúrgica moderna da Igreja porque tornou a Forma Extraordinária do Rito Romano mais acessível aos fiéis e eliminou quaisquer sombras que poderiam ter sido associadas com ele. Isto influenciou não apenas aqueles que participam da forma extraordinária, como também os que participam da forma ordinária.

“Tornou-se mais comum testemunhar o uso da língua latina, do órgão de tubos e do canto gregoriano na Forma Ordinária”, apontou o bispo de Lincoln. “Bento queria demonstrar que as duas formas estão muito conectadas. Esta realidade esteve obscurecida na maioria dos lugares após o Concílio porque os escritos dos Padres Conciliares frequentemente foram ignorados. Bento quis deixar claro que, assim como seu núcleo, a liturgia da Igreja é una, embora tenha várias formas.”

“Para qualquer forma da liturgia ser eficaz, ela deve expressar a ordem, harmonia e o apelo a Deus. A beleza não é opcional, mas essencial, para a liturgia adequada”, explicou o bispo Conley. “Isto foi ensinado pelos Padres Conciliares, de uma forma muito particular aos bispos, no artigo 124 da Sacrosanctum Concilium, que diz: ‘Tenham os Bispos todo o cuidado em retirar da casa de Deus e de outros lugares sagrados aquelas obras de arte que não se coadunam com a fé e os costumes e com a piedade cristã, ofendem o genuíno sentido religioso, quer pela depravação da forma, que pela insuficiência, mediocridade ou falsidade da expressão artística.’”

A Majestade de Deus

O bispo Conley afirmou que Bento sabe que a arte sacra não é sobre a autoexpressão, mas sobre apontar para a fonte da beleza – Deus Onipotente. A arte sacra, seja visual ou auditiva, nos possibilita transcender as nossas vidas diárias e encontrar o Deus Vivo de um jeito que é frequentemente muito mais eficaz do que meramente relatar fatos sobre Deus.

“Bento pensa que os argumentos mais poderosos para a fé são a arte cristã e as vidas dos santos”, disse o bispo Conley. “Estas duas entidades são muito intimamente relacionadas, porque os santos receberam as graças necessárias para suas vidas exemplares através da liturgia da Igreja, que é o manancial da arte cristã.”

“Somos gratos ao Papa Bento por muitas coisas. No que diz respeito à liturgia, especificamente, creio que sua contribuição mais notável foi chamar nossa atenção para a majestade de Deus. Isso foi feito através de seus escritos e ações, que dirigiram nossa meta para fora do nosso próprio círculo e em direção a uma relação mais completa com o nosso Criador, Redentor e Santificador.”
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