A Liturgia das Horas, ou Ofício Divino, condensada no livro
denominado tradicionalmente breviário, é parte das ações litúrgicas da
Santa Igreja. Pois bem, no Triduum, a recitação das Matinas (hoje
denominadas Ofício de Leituras, na forma ordinária) e das Laudes,
adquirem um colorido todo especial. De tal sorte, ambas as horas canônicas são unidas no que se chama de Ofício de Trevas, ou Tenebrae. Há o Tenebrae de
Quinta-feira Santa, o de Sexta-feira Santa e o do Sábado Santo. Como
são Matinas e Laudes, são ofícios próprios para a manhã de quinta, sexta
e sábado. Tradicionalmente, porém, o de Quinta-feira Santa era
celebrado na noite de Quarta-feira Santa, uma vez que a manhã da quinta era dedicada à Missa In Coena Domini, visto que antes de 1955, não tinha esta retornado ao seu horário natural à tardinha.
Com
a reforma de Pio XII, acomodando a Missa da Ceia do Senhor segundo o
veritas horarium, a manhã de Quinta-feira Santa pôde, então, ter seu Tenebrae celebrado
no próprio dia, sem antecipar para o dia anterior. Corrigiu-se, pois,
uma outra imperfeição lógica dos ritos de Semana Santa pré-1955,
voltando à natureza das coisas, tal qual era séculos antes.O Ofício de Trevas da Quinta-feira Santa é, pois, celebrado na manhã da própria Quinta-feira Santa e não na noite da quarta. Uma exceção foi permitida pelas rubricas: nas Catedrais, como há, na manhã da quinta a Missa Chrismatis, o Tenebrae
é celebrado na noite da quarta, exatamente como antes. Isso porque o
motivo que autorizava, antes de 1955, o Ofício de Trevas da quinta ser
celebrado na noite de Quarta-feira Santa, permanece, qual seja a Missa
na manhã da quinta-feira.
Alguns argumentam contra esse tema do Tenebrae que
celebrar à noite dá mais profundidade espiritual ao drama narrado no
ofício, por conta das trevas, das luzes que se apagam. Ora, mas se
fossem para ser celebrados à noite ou tardinha anterior seriam Completas
ou, no mínimo, Vésperas. E são Matinas - oração da madrugada - e Laudes - oração da manhã. Ademais, o período para celebrar o Tenebrae não
é necessariamente o dia claro, como se Laudes ou até Tércia fosse: é
possível fazê-lo de manhã bem cedo, madrugada, sem o sol ter nascido, e
até mesmo após a meia-noite, pois o dia litúrgico começa e termina nesse
horário. Meia-noite já não é mais Quarta-feira Santa, mas Quinta-feira
Santa, e a escuridão própria para o Tenebrae é a mesma da noite de quarta.
Obviamente, estamos falando do Ofício de Trevas litúrgico, não de celebrações para-litúrgicas inspiradas no Tenebrae. Assim, se um grupo de pessoas, um convento, ou uma igreja que não seja catedral, desejam celebrar o Tenebrae de
Quinta-feira Santa, devem fazê-lo no próprio dia de quinta (ou seja,
após a meia-noite, seja na madrugada, seja na manhã), não podendo
antecipar para a quarta. Só o Tenebrae de quinta da Catedral pode ser celebrado na Quarta-feira Santa à noite. Isso na forma ordinária, de 1969, ou na forma extraordinária, de 1962. Já as ações devocionais inspiradas no Tenebrae, e que só levam esse nome por conta da inspiração mesma, podem ser celebrados em qualquer dia da Semana Santa.