Aparentada à salmodia antifonada e responsorial é aquela que poderíamos quase chamar de litânica, isto é, de versículos alternados entre o sacerdote e a assembleia, e cujos traços Baumer crê poder encontrar desde o primeiro século. Os antigos comumente lhe davam o nome de Litania. Diferentemente das formas salmódicas precedentes, a litania não tomava seu texto exclusivamente do Saltério; e, mesmo quando dependia dele, era com tanta liberdade que a composição salmódica perdia sua unidade literária (mantida inalterada pela antifonia e pelo responsorius) para se tornar um vivo diálogo entre o povo e o celebrante. Emancipando-se do texto do Saltério, a litania representou novo frescor de inspiração, um excelente senso de atualidade e crescimento do vigor espiritual.
A última parte de nossa Litania Maior, ou litania dos santos, e as preces do Breviário na Hora Prima e nas Completas, estão entre os mais belos exemplos desta litania, que era antigamente como a fórmula de transição entre a vigilia e a Missa que seguia, na aurora. A coleta caracterizava a litania, cujo pensamento geral resumia e determinava. O Gloria que agora, na Missa, se interpõe entre a oração litânica e a coleta, representa uma interpolação de origem mais recente.
E-)
Bem diferente da salmodia alternada era o salmo in directum ou tractus, confiado exclusivamente à habilidade de um solista. Cassiano conta que os monges do Egito celebravam suas vigílias noturnas recitando doze salmos in directum: parili pronunciatione, contiguis versibus; e São Bento prescreveu a salmodia in directum nos ofícios diurnos, quando o pequeno número de monges os desobrigava da salmodia antifonada. O in directum é o gênero salmódico mais fácil e mais cômodo, e acabou por prevalecer universalmente no uso eclesiástico. Tanto Cassiano como São Bento observaram que era o único gênero de salmodia indicado para comunidades pouco numerosas, cujos membros já estivessem exaustos pelas tarefas do dia.
O in directum é assim chamado tractus, e no entanto tractus não indica nenhum gênero especial de salmodia in directum supostamente mais grave ou ornada de melodias mais ricas. Alguns querem atribuir sua origem ao andamento lento da execução; outros pensam que significa simplesmente a continuidade salmódica que lhe é própria, isto é, sem nenhum refrão intercalado.
O fato é que o directaneum do solista, precisamente por ser mais ágil e menos fatigante, era preferido pelos antigos monges egípcios; o subtrahendo, prescrito para o invitatório responsorial das vigílias é, ao contrário, na Regra de São Bento, sinônimo de morose, e indica uma execução bem diferente.
Mais recentemente alguns liturgistas quiseram reconhecer no tractus um caráter quase lúgubre, próprio, portanto, aos tempos penitenciais. Observemos, enquanto isso, que o tractus Laudate Dominum da Vigília Pascal, e o oitavo tom gregoriano ao qual pertencem muitos tractus não são nada inspirados pela tristeza nem pelo luto; veremos que o tractus era mesmo o cântico dos Domingos e das Festas da Liturgia Romana, antes da introdução do versículo aleluiático para todos os Domingos fora da Quaresma.
O solo do cantor e a continuidade da modulação salmódica, sem nenhuma interrupção nem refrão da assembleia, eram as características do tractus. Menos importante, ao contrário, nos parece o fato de que, na Liturgia Eucarística, o tractus seja coordenado intimamente à lição escriturística que o prece (Cf. Cantemus Domino do Sábado Santo e as Benedictiones do Sábado das Têmporas, depois da lição dos três jovens na fornalha).
F-)
O psalmus gradualis não é, propriamente falando, um gênero salmódico distinto, mas indica simplesmente um cântico responsorial cujos solos são executados nos degraus do ambão. Alguns autores dizem que deriva de uma transformação do tractus, depois de este se haver revestido de uma forma melódica muito mais ornamentada e de caráter antifônico, tornando-se assim uma verdadeira antifonia responsorial. Sabemos, porém, que o responsorius-gradualis já estava em uso antes de São Leão I e coexistia com o gradual.
Mas antes de terminar esta rápida revisão das diversas formas salmódicas utilizadas pelos antigos, devemos ao menos mencionar a lei que mede e determina a estética de todos esses prolongamentos melódicos e refrãos. Queremos falar do paralelismo, que é como um eco entre dois membros de um mesmo versículo salmódico.
O paralelismo bíblico foi definido por Dom Cabrol como a rima dos pensamentos e dos sentimentos; ela nos conserva como o último traço da forma poética primitiva dos salmos e dos cânticos, compostos segundo leis métricas que estudos recentes nos revelaram pela primeira vez.
A redundância dos paralelismos é comparável a um sereno equilíbrio da alma sobre as pias afeições, cuja suavidade o espírito inebriado evoca; é o efeito de um pensamento intenso, complexo, que deseja ser traduzido em partes e repetições, prolongando assim o deleite espiritual da alma.
O paralelismo antitético, ao contrário, diferentemente da redundância, se oferece como um violento contraste de sombra e luz, e por vezes por elevar o lirismo religioso a uma altura que nenhum outro gênero literário profano atingiria com facilidade. Mas nestes dois paralelismos o elemento característico que nos importa aqui é a ligação recíproca e o apelo mútuo dos diversos membros do versículo ou das partes de um salmo; é precisamente o que constitui o fundamento estético da salmodia em estrofes e em forma responsorial. Enquanto o Salmo 70 nos oferece numerosos exemplos de paralelismo em semiversículos, o Salmo 106 nos apresenta quatro medalhões de incomparável candura, separados entre si por um mesmo versículo eucarístico: Confiteantur Domino misericordiae eius, et mirabilia eius filiis hominum [Agradeçam ao Senhor por sua misericórdia, e pelas maravilhas em favor dos homens].
[Os "quatro medalhões" são: um pobre perdido no deserto, que vai morrer de fome; um prisioneiro; um enfermo; um navio agitado pela tempestade prestes a submergir nas águas. O versículo eucarístico de que fala o Beato Schuster se repete nos versículos 8, 15, 21, 31 deste Salmo 106]
Reencontramos, assim, as origens de nossas formas salmódicas menos nos costumes da sinagoga do que nas próprias leis da estética literária dos povos semitas, dos quais nós, aedificati super fundamentum Apostolorum et Prophetarum [edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas], herdamos, com pleno direito, não apenas o depósito bíblico, mas também o veículo artístico que o envolve. É, pois, momento de examinar o emprego que dele fez a Igreja, a qual, como a esposa mística prefigurada no Cântico de Débora, distribui, toda jubilosa, aos fiéis, o tesouro com a qual é enriquecida por seu Divino Esposo em regresso do combate, vencedor da morte e do inferno.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Beato Cardeal Schuster: Poesia e música nas sinaxes eucarísticas, parte II, final
Por
Alfredo Votta
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Continua e termina aqui o texto Poesia e música nas sinaxes eucarísticas, do Beato Ildefonso Cardeal Schuster. A primeira está publicada neste link. Comunicamos aos amigos que estão sendo preparadas novas traduções de escritos do Beato Schuster, as quais esperamos publicar em breve.
Imagem de liberius.net
Ildefonso SCHUSTER
Beneditino
Cardeal-Arcebispo de Milão
(1880-1954)
*
D-)
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Jubileu da Ordem da Visitação de Santa Maria
Por
Pedro Ravazzano
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VIVA + JESUS!
1610 - 2010

A Igreja este ano se alegra por um especial acontecimento, o 4º Centenário de fundação da Ordem da Visitação. A Ordem é formada por religiosas contemplativas de estrita clausura, normalmente chamadas de visitandinas ou filhas de Santa Maria.
A venerável Ordem foi fundada em 1610 em Annecy - França por São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal, a história da fundação reúne as melhores características dos dois fundadores. São Francisco de Sales bispo de Genebra, conhecido por sua habilidade em dirigir as almas nos caminhos da santidade e por seu grande zelo pastoral; Santa Joana de Chantal viúva e mãe de seis filhos depois de muito sofrer dentro do próprio lar encontrou em São Francisco de Sales um diretor espiritual que correspondia aos seus desejos. Mais tarde uma de suas filhas viria a ser também sua companheira na Ordem.

O nome “Visitação” surgiu como sinal da vocação especifica das religiosas que como a Virgem Santíssima deveriam carregar com simplicidade, humildade, vida interior a presença de Deus dentro do próprio coração, como Ela fez indo a sua prima Santa Isabel levando no ventre o Verbo Encarnado.
O bispo de Genebra no início não tinha em mente constituir uma ordem, seu

A Ordem começou suas atividades oficialmente em seis de junho de 1610, Domingo da Santíssima Trindade. A viúva baronesa de Chantal foi designada como primeira superiora, com ela Jacqueline Marie-Favre, Charlotte Brechard e Anne-Jacqueline Coste que seria a primeira irmã conversa* da comunidade.
O primeiro convento da Ordem ficava no subúrbio de Annecy, logo após sua fundação o instituto foi alvo de severas críticas por sua “aparente” frouxidão na vida religiosa e por não seguir os antigos costumes. As primeiras noviças da Ordem foram Perrone-Marie de Chatel e Marie-Amee de Blonay.

A ousadia de Francisco e Joana não conhecia limites, decidiram aceitar sem reservas não somente as virgens, mas também viúvas com a condição de que os filhos pudessem viver sem dificuldades e também mulheres doentes ou com debilidades físicas seriam aceitas. O desejo de “união perfeita com o Amor Divino” era a única exigência da qual não se abria mão.
As austeridades do claustro foram ao máximo reduzidas, não recitavam o Ofício Divino de madrugada, não possuíam camas duras ou com utensílios mortificantes, não faziam abstinência perpetua de carne nem jejuns prolongados. A única mortificação aceita por São Francisco de Sales foi o uso da disciplina toda sexta-feira. A intenção de São Francisco, que conhecia profundamente as almas, era reduzir as mortificações exteriores para exigir uma profunda mortificação interior na observância das votos religiosos e da vida comunitária.

Os hábitos, cruzes, rosários, livros devocionais eram regularmente trocados entre as religiosas para que não se apegassem aos objetivos. A obediência para com a superiora deveria ser total e sem frivolidades, mas sempre sincera e cordial. O dia das monjas era dividido entre as orações no coro e leituras espirituais com momentos de recreação nos quais eram tratados temas espirituais de forma livre.
A Ordem da Visitação foi erigida canonicamente em 1618 pelo Papa Paulo V e louvada por seu testemunho em uma Bula de Urbano VIII de 1626. No primeiro centenário em 1710 foi definida como “admirável pela sabedoria, discernimento e moderação, elementos que tornam a perfeição religiosa mais acessível.” Quando São Francisco de Sales partiu para as alturas celestes suas filhas estavam reunidas em 13 conventos, ao morrer Santa Joana (1641) o número era de 86.

Outras religiosas ilustres testemunharam à vida e o amor dócil desejado pelos fundadores, entre elas Anne-Madeleine Rémuzat visitandina de Marselha responsável pela propagação do Sagrado Coração. Madre Marie de Sales Chappuis, religiosa suíça foi fundadora de vários mosteiros e dos Oblatos e Oblatas de São Francisco de Sales. A serva de Deus Marie-Marguerite Bogner testemunhou no século XX o amor de Deus e a segura via da doutrina salesiana.
Coroam a Ordem sete religiosas mártires em Madrid durante a guerra civil espanhola em 1936, todas elas fuziladas. O Papa João Paulo II, de louvável memória, beatificou as monjas em 1998.


*Monjas conversas: eram religiosas normalmente analfabetas que eram admitas dentro do claustro para executarem as atividades domésticas. Não possuiam direto ao voto no Capítulo.
Observância das normas litúrgicas e “ars celebrandi”
Por
Rafael Vitola Brodbeck
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No sábado, postamos uma frase do Pe. Mauro Gagliardi para reflexão aqui no Salvem. Hoje, Zenit nos traz o artigo completo, que vale a pena ler.
Vale a pena ler!
Crismas na forma extraordinária pelo Cardeal Arcebispo de Bordeaux
Por
Rafael Vitola Brodbeck
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Na paróquia da Fraternidade Sacerdotal São Pedro, o Arcebispo de Bordeaux, Cardeal Jean Pierre Ricard, crismou, em 13 de junho último, vários fiéis utilizando o usus antiquor do rito romano, com os livros de 1962.
Fotos do Le Forum Catholique:
domingo, 11 de julho de 2010
Paróquia Cristo Ressuscitado – Rio de Janeiro RJ
Por
Maite Tosta
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sábado, 10 de julho de 2010
Frase para reflexão no fim-de-semana
Por
Rafael Vitola Brodbeck
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Do Zenit, em inglês:
"O caráter mais 'aberto' das novas normas litúrgicas (nota: do pós-Concílio) não pode ser usado como pretexto para perverter a natureza do culto público da Igreja." (Pe. Mauro Gagliardi, professor de liturgia no Athenaeum Pontificium Regina Apostolorum, dos Legionários de Cristo, em Roma, e consultor do Escritório de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice)
Missa Solene de Pentecostes do ano de 2009, na Igreja Imaculada Conceição, no Distrito de Albuquerque, município de Corumbá, MS, celebrada por S. Exa. Revma. D. Segismundo Martínez Alvarez, SDB
Por
Rafael Vitola Brodbeck
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Sabem qual é o fato mais interessante disso tudo? É que se trata de uma paróquia RURAL!!!! Isso mesmo. Não uma cidade pequena, e sim no interior do município mesmo! É uma paróquia em um distrito, fora da cidade! E com tanto zelo que faria corar de vergonha tantas paróquias urbanas…
Notem o arranjo beneditino.
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