quarta-feira, 26 de maio de 2010
Santa Missa na Forma Extraordinária no CEN - "Parte 5"
Dom Fernando José Monteiro Guimarães, CSSR, apóia o Salvem a Liturgia!
O grande Bispo defensor da forma extraordinária e da forma ordinária bem celebrada, que organizou o seminário sobre o rito tridentino em sua diocese, também apóia o nosso apostolado.
De todo o coração, com muita alegria, invoco sobre todos a bênção de Deus! A Eucaristia é fonte de comunhão. Nós temos que criar a comunhão profunda na diversidade das riquezas dos carismas que Deus suscita na Igreja de hoje. A diversidade dos carismas se torna força para a Igreja quando, juntos, procuramos acolher o dom do Espírito Santo e viver como discípulos, partilhando da Eucaristia, que fonte de união. Então, sobre todos e sobre este apostolado tão bonito que vocês fazem, peço que Deus os abençoe, pelas mãos da Virgem Maria, Mãe da Igreja.
+ Dom Fernando José Monteiro Guimarães, CSSR
Bispo de Garanhuns, PE
Missa no rito ordinário, em latim e versus Deum, celebrada nas Filipinas
Pois é... Engana-se quem quer culpar o Concílio pelos abusos litúrgicos, ou, por outro lado, quer invocá-lo para justificar suas bizarrices na Missa...
terça-feira, 25 de maio de 2010
O rito celta
Do excelente blog do Thiago de Moraes, do Recife, PE:
(São João, livro de Mulling)
A falta de evidências sobre a prática litúrgica nas localidades onde o rito celta foi usado não permite que se tenha um quadro muito claro sobre ele. Todavia, podemos afirmar que nunca houve um rito celta no sentido estrito, como é o moçarábico ou o ambrosiano (fora que, na verdade, o que havia eram ritos).
Os monges celtas, incansáveis missionários que levaram o Evangelho para terras distantes, nunca quiseram criar uma nova liturgia. Parece que eles escolhiam elementos de diferentes tradições e os combinavam. Desse modo, os rituais celtas acabavam sendo uma composição eclética de costumes estrangeiros, tanto romanos quanto galicanos. Na Escócia, na Irlanda, em Gales, na Cornualha e na Bretanha existiam várias especificidades. Essas especificidades ficavam patentes na forma da tonsura (tonsura magorum - eles raspavam toda a cabeça, como os antigos druidas), na data da Páscoa (uma controvérsia que eu particularmente não entendo e acho muito chata para pesquisar), e nas leituras e unções durante uma ordenação. Após um sínodo fracassado em 603, o Sínodo de Whitby conseguiu a completa submissão dos celtas. Mesmo assim, traços de uma liturgia independente continaram a existir em partes da Irlanda até o Sínodo de Cashel (1172) quando o rito anglo-romano foi introduzido. A Bretanha provavelmente perdeu seus rituais distintivos na época de Luiz I, o Pio (817), e a Escócia no século XI pelos esforços da rainha Margarida (canonizada em 1250).
Até onde vão as evidências, pode-se afirmar que o rito celta foi muito influenciado pelo rito galicano no seu nascimento e gradualmente se romanizou. Não existem registros anteriores ao século V.
O rito celta é estudado a partir de três fontes principais: o Antifonário de Bangor, o Missal de Bobbio e o Missal de Stowe – todos de origem monástica. Como se depreende de seu nome, o Antifonário de Bangor é uma coleção de antífonas, versículos, hinos, cantos, etc., e deve ter sido compilado para uso dos abades do famoso mosteiro de Bangor na Irlanda. Ele data do final do século VII (entre 680 e 690) e se encontra na Biblioteca Ambrosiana em Milão. O Missal de Bobbio, um curioso manuscrito descoberto por J. Mabilion em Bobbio, Itália, é uma das testemunhas mais antigas da história do Canon Romano; ele apresenta uma liturgia local influenciada por Roma. Por fim, o Missal de Stowe, um manuscrito dos século VIII ou IX, foi composto provavelmente para a abadia de Tallaght perto de Dublin. Ele contém, além do Evangelho de São João, o ordinário da Missa, três próprios e os ritos do Batismo, da Unção dos Enfermos e da ministração do Viático. Além dessas obras, há vários fragmentos de manuscritos irlandeses e algumas outras completas (como o Livro de Mulling).
(Missal de Stowe)
Na Missa, a preparação das oblatas era feita antes da entrada do celebrante, como nos ritos galicanos. As orações iniciais incluiam uma confissão dos pecados e longos pedidos de perdão, bem como uma ladainha com o nome dos santos irlandeses. A primeira parte da Missa, na sua forma mais tardia, como está no Missal de Stowe, seguia uma forma romana: Gloria, uma ou mais Coletas, Epístola, Gradual e Aleluia. Nesse ponto era dita uma ladainha, a Deprecatio Sancti Martini, como nos ritos orientais (também presente no rito ambrosiano tradicional – pelo menos na Quaresma). Após mais duas orações, um descobrimento parcial das ofertas e uma invocação tripla sobre elas, o Evangelho era cantado, seguido pelo Credo (com o Filioque). No Ofertório, após o descobrimento total das ofertas, o cálice e, às vezes, a patena, era elevado. Em seguida era feito o Memento dos defuntos e a leitura das intenções pelos falecidos do lugar. O Prefácio, com seu diálogo preliminar, vinha em seguida, acompanhado pelo Sanctus e o pós-Sanctus. Mesmo que no Missal de Stowe o canon seja chamado de Canon dominicus papae Gilasii, o que temos de fato é o Canon Gregoriano com alguns santos irlandeses citados. Após o Memento dos vivos era lida uma lista com mais de 100 nomes de santos (de personagens vétero-testamentários a monges irlandeses). Vários cantos eram designados para a Communion, incluindo (no Antifonário de Bangor) o belo Sancti venite:
Sancti venite,
Christi corpus sumite,
sanctum bibentes,
quo redempti sanguinem.Salvati Chrsiti,
corpore et sanguine,
a quo refecti
laudes dicamus Deo.Hoc sacramento
corporis et sanguinis
omnes exuti
ab inferni faucibus.Dator salutis,
Christus filius Dei,
mundum salvavit
per crucem et sanguinem.Pro universis
immolatus Dominus
ipse sacerdos
existit et hostia.Lege praeceptum
immolari hostias,
qua adumbrantur
divina mysteria.Lucis indultor
et salvator omnium
praeclaram sanctis
largitus est gratiam.Accedant omnes
pura mente creduli,
sumant aeternam
salutis custodiam.Sanctorum custos,
rector quoque, Dominus
vitam perennem
largitur credentibus.Caelestem panem
dat esurientibus,
de fonte vivo
praebet sitientibus.Alpha et Omega
ipse Christus Dominus
Venit venturus
iudicare homines.Uma grande liberdade parece ter sido deixada para os mosteiros na organização do Ofício Divino, e detalhes sobre isso podem ser encontrados em várias regras monásticas (como a de São Columbano). O rito celta teve ampla influência no desenvovimento do sacramento da Penitência, já que é devido a ele que hoje a confissão é auricular (e não pública).
Fontes:
Cabrol, Dom Fernand. The Mass of the Western Rites.
Jenner, Henry. "The Celtic Rite." The Catholic Encyclopedia. Vol. 3. New York: Robert Appleton Company, 1908.16 May 2010 http://www.newadvent.org/cathen/03493a.htm
Sancti Venite. Disponível em: http://www.preces-latinae.org/thesaurus/AnteMissam/SanctiVenite.html. Acessado em 17 de maio de 2010.
Sheppard, L. C. “Celtic rite” New Catholic Encyclopedia. Vol. 3. The Catholic University of America, 1967.
Oração de São Pio de Pietrelcina, após a Comunhão
Santo Padre Pio.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Santa Missa na Forma Extraordinária no CEN - "Parte 4"
Um artigo sobre a carta dos Bispos do Brasil aos sacerdotes, em 2010
Recebi do caríssimo Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa, do clero diocesano de Anápolis, GO, e amigo do Salvem a Liturgia, que se encontra em Navarra, cursando o doutorado em teologia, o seguinte artigo.
Temos uma obrigação moral de publicá-lo: é lúcido e com um senso de oportunidade raríssimo nestes nossos dias insensatos.
Deleitem-se:
PENÚLTIMO PARÁGRAFO!
Considerações sobre a Carta dos Bispos aos Presbíteros de maio de 2010
13 a 16 de maio de 2010 foram dias de graça para Brasília e para o Brasil. O XVI Congresso Eucarístico Nacional realizado no coração do Brasil bombardeará o sangue bom para todo o nosso querido Brasil. A ante-sala do Congresso foi a 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que aconteceu também em Brasília. Um dos frutos daquela magna Assembléia foi a belíssima Carta dos Bispos aos Presbíteros. Eu, como sacerdote, gostaria de agradecer aos nossos bispos pela proximidade a todos nós, presbíteros, seus mais imediatos colaboradores, e também a orientação muito oportuna nesses tempos de desconcerto: muito obrigado, senhores bispos!
Efetivamente, os casos vergonhosos, já publicados, envolvendo os ministros do Senhor, têm causado sofrimento ao Povo de Deus. Nós, presbíteros, perdemos um pouco a credibilidade. Esses dias um irmão sacerdote comentava com tristeza que ao sair à rua, uma pessoa de uns 40 anos lhe insultou aos gritos: “–pederasta!”. Quanta indignação! Isso não é justo!
Ao mesmo tempo, paradoxalmente, aumentou a credibilidade dos sacerdotes. Quando as pessoas vêem nas suas paróquias os seus párocos tão entregues à missão evangelizadora; quando vêem que são homens que rezam, que visitam os doentes, que atendem as confissões e lhes celebram a Eucaristia piedosamente; quando o nosso povo vê que o sacerdote ama a sua vocação e promove novas vocações, percebe que essas notícias são exageradas e vendedoras de gato por lebre.
O mais importante é a glória de Deus e o bem das almas!
Nesse panorama, a Carta dos Bispos aos Presbíteros nos oferece um verdadeiro e maravilhoso horizonte de vida e espiritualidade sacerdotais. Trata-se de uma carta em continuidade com os documentos eclesiais sobre o sacerdócio mais conhecidos, como o Decreto Presbyterorum Ordinis do Concilio Vaticano II, a Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis do Papa João Paulo II e o Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros da Congregação para o Clero. Depois de ler essa carta, acolhendo-a de coração agradecido aos nossos bispos, chamou-me a atenção especialmente o penúltimo parágrafo por ser tão concreto e tocar, por assim dizer, as questões mais importantes e mais urgentes.
O texto reza assim: “Pedimos que zelem pela comunhão eclesial, alimentando-a com a celebração cotidiana da Eucaristia, com a oração fiel e generosa, de modo especial a Liturgia das Horas, com a busca freqüente do Sacramento da Penitência e a orientação espiritual, com um estilo de vida sóbrio, que tome distância dos apelos do consumismo, da cultura da banalidade, da invasão do secularismo. Recomendamos, também, que tenham um zelo especial na administração dos bens que lhes são confiados, destinados, sobretudo, para o serviço dos mais pobres”.
Gostaria de partilhar com os irmãos sacerdotes algumas das impressões que essas palavras causaram na minha alma sacerdotal. Os temas que saem nesse parágrafo são de tal densidade que valeria a pena estudar cada um deles, meditá-los, e fazer propósitos para pô-los em prática com maior amor:
- comunhão eclesial;
- celebração cotidiana da Eucaristia;
- oração fiel e generosa, de modo especial da Liturgia das Horas;
- confissão freqüente e direção espiritual;
- virtude da pobreza e sobriedade;
- virtude da obediência e responsabilidade pessoal;
- serviço aos pobres.
Comunhão eclesial
Há, efetivamente, muitas palestras sobre fraternidade e sobre comunhão; há muitas reuniões. E isso é bom, mas... O que é, concretamente, essa realidade que chamamos “comunhão eclesial” que é alimentada pela celebração da Eucaristia, da Liturgia das Horas, pelo serviço aos pobres, etc.? Em primeiro lugar, a comunhão é um dom que vem de Deus-comunhão – a Trindade Santíssima. Essa comunhão se deixa participar na terra na communio que é a Igreja. A maneira de cada presbítero viver a comunhão é variada e gradativa: comunhão com Deus, com o Papa, com os bispos em comunhão com o Papa, com os irmãos no presbitério, com todos os demais fiéis, especialmente aqueles que lhe foram confiados.
O sacerdote é um homem que ama Igreja: o presbítero, configurado a Cristo Cabeça, é, em Cristo, esposo da Igreja. O normal é que o esposo ame a sua esposa! Desse amor pela Igreja deve brotar uma união efetiva e afetiva para com o Santo Padre e com os Bispos em comunhão com ele. Outro fruto desse amor por Cristo e pela Igreja é a fraternidade no próprio presbitério e a caridade pastoral que nos leva a cuidar do povo que nos foi confiado. Essa união tem que traduzir-se numa disposição para aceitar com uma obediência amorosa tudo o que a Igreja ensina. Significa formar uma muralha de unidade doutrinal forte, de tal maneira que não fique nenhuma só brecha para o assalto do inimigo nessa cidade de Deus, que é a Igreja. Precisamos estudar, ler, conhecer a fundo o Magistério eclesiástico. Livre-nos Deus de “ser do contra”. Não permitamos nenhuma fissura em questões de fé e de moral. Caso isso acontecesse, teríamos fundadas razões para duvidar das nossas muitas reuniões “cheias de fraternidade”.
Comunhão eclesial significa também obediência ao próprio bispo. Obedecer de verdade! Logicamente, o plano de pastoral pode ser melhorado. Nós somos colaboradores e podemos, e devemos em algumas ocasiões, manifestar as nossas opiniões para melhorar as coisas na Diocese. Façamo-lo com discrição, sem fazer guerra, conversando franca e amigavelmente com o nosso bispo. Caso o bispo ache melhor fazer de outra maneira, contanto que não seja ofensa de Deus, bendita seja o Senhor. Obedeçamos!
Comunhão eclesial é procurar que as nossas comunidades paroquiais sejam presença viva da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, com as características próprias da Igreja particular da qual faz parte. Tudo isso sem nenhuma reserva e em todas as suas expressões: Missas bem celebradas, horários de confissões adaptados às necessidades reais das pessoas (horário de confissão só durante o dia não é adaptado às necessidades daquelas pessoas que trabalham pela manhã e pela tarde!), estudo da Bíblia e do Magistério, reza duma parte do rosário, direção espiritual das pessoas. É preciso acreditar, de verdade, que Deus chama a todas as mulheres e a todos os homens a serem santas e santos e que nós, sacerdotes, chamados também à santidade, somos instrumentos nas mãos de Deus para que ele faça verdadeiras obras de arte das pessoas que estão encomendadas à nossa caridade pastoral. Entre outras coisas, comunhão eclesial é pensar com um coração grande, universal, com um interesse por toda a Igreja. Interessemos-nos também pela Igreja gloriosa, para contarmos com a sua intercessão, e pela Igreja padecente, para ajudá-la em sua purificação. Também nós, Igreja militante, precisamos purificar-nos!
Celebração cotidiana da Eucaristia
Desde o Concilio Vaticano II, pelo menos, já é comum afirmar que a Eucaristia é a fonte, o centro e a cima da vida espiritual de cada cristão e de cada assembléia que se reúne para louvar ao Pai por Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo. Procuremos celebrar a Santa Missa sempre com a alegria da primeira: dignamente, atenciosamente, devotamente! Celebrar a Santa Missa todos os dias não é um dever para nós, é simplesmente o nosso tesouro, o nosso bem, o nosso centro, o nosso tudo. Se não a celebrarmos, acabaremos descentrados.
Com amor generoso e total, não tenhamos reparos em oferecer o melhor que temos ao culto divino, também no que se refere ao exterior, reflexo do interior: igreja e sacristia limpas; paramentos sacerdotais belos e dignos na estética e na limpeza, com a nobre simplicidade que o Concilio pede na liturgia (cfr. SC 34); não nos esqueçamos que “a não ser que se disponha de outro modo, a veste própria do sacerdote celebrante, tanto na Missa como em outras ações sagradas em conexão direta com ela, é a casula ou planeta sobre a alva e a estola” (IGMR, 337). Mais ainda: que os cálices, as patenas, as galhetas, os corporais, os sanguíneos, os manustérgios e tudo o que se refere ao culto eucarístico esteja bem cuidado! Não tenhamos medo: esses detalhes de amor para com o nosso Deus não escandalizam as pessoas mais pobres, que são – geralmente – as mais generosas para com Deus.
A melhor catequese sobre a Missa é própria Missa bem celebrada: as rubricas, os cantos, a concentração, tudo isso transmite uma esfera sagrada que expressa que estamos diante de um mistério transcendente e próximo ao mesmo tempo. Que bom seria se um dos livros da nossa biblioteca sacerdotal fosse a Instrução Geral do Missal Romano lida e relida várias vezes; de fato, o texto oficial da CNBB saiu em 2008.
Um dos frutos do Congresso Eucarístico poderia ser exatamente esse: que as nossas celebrações eucarísticas sejam expressivas, verdadeiramente expressivas, do Mistério de Deus. Como a Eucaristia é o coração da vida espiritual dos fiéis, não nos esqueçamos que nós, sacerdotes, temos certa semelhança com aqueles bons médicos que em cada intervenção nesse órgão tão central vão com cuidado. É melhor seguir a experiência da Igreja e não inventar nem experimentar por nossa conta. Poderia ser fatal!
Não se trata de defender princípios “tradicionalistas”. Tampouco se trata de ser rubricistas e pouco pastorais. A Tradição da Igreja admite progresso no entendimento e na vivência. A tradição litúrgica, salvo o substancial, admite mudança. No século passado, Pio X, Pio XII, João XXIII e Paulo VI foram bem conhecidos por introduzir oportunas reformas na liturgia e, sem dúvida, podem ser introduzidas outras no futuro (nenhum problema!). Graças a Deus, queridos irmãos sacerdotes, na Igreja há quem faz mudanças, os Papas e os bispos juntos com o Papa. Nós, simplesmente, não recebemos esse encargo.
Oração fiel e generosa
Todos nós recordamos daquelas imagens tão edificantes do queridíssimo João Paulo II na sua capela privada em oração. Uma oração fiel e generosa, principalmente da Liturgia das Horas, mas não só da Liturgia das Horas, é imprescindível. Já sabemos que temos que celebrar todos os dias, integralmente, a Liturgia das Horas: Oficio de Leituras, Laudes, uma Hora Média, Vésperas e Completas. No entanto, precisamos alimentar diariamente a nossa vida espiritual: oração de meditação, uma parte do Rosário, leitura espiritual, exames de consciência, visitas ao Santíssimo, etc. Por quê? Por que Deus nos ama, ele nos chamou e nós o amamos apaixonadamente.
Rezar é fácil! Rezar não é fácil! É fácil porque se trata de falar, dialogar, conversar com o Pai e com o Filho e com o Espírito Santo. Não é fácil por vários motivos. Depois de um dia cheio de tarefas pastorais, estamos cansados; daí a importância de não deixarmos a oração para as últimas horas, mas encher o nosso dia com a oração. Numa sociedade barulhenta, o silêncio resulta incômodo, também para nós; não tenhamos medo ao silêncio da oração no dia-a-dia, nos dias de recolhimento e nos retiros espirituais. Nós não rezamos porque gostamos ou deixamos de gostar, mas porque Deus gosta, porque queremos ser fiéis e sabemos que sozinhos é-nos simplesmente impossível.
Que edificante para o povo ver o seu pároco de joelhos diante do Santíssimo em oração pessoal, não por dois minutinhos, mais por um tempo razoável. O sacerdote é, em Cristo, mediador, não somente durante a celebração eucarística, mas em todos os momentos. Como é importante rezar, ser piedosos e orar muito pelo povo que nos foi confiado. Lembremo-nos do Cura d’Ars rezando durante horas e horas diante de Jesus Sacramentado pela conversão do seu povoado. A graça operou maravilhas em Ars! E pode fazer maravilhas nas nossas paróquias!
Confissão freqüente e direção espiritual
É comum escutarmos que um bom confessor é sempre um bom penitente. E isso é verdade! O fato de um sacerdote confessar-se semanalmente ou quinzenalmente não é nenhum exagero. De fato, o sacerdote, ministro de Cristo, deseja parecer-se cada vez mais com aquele que representa: Jesus Cristo. Com esses vivos desejos, o presbítero percebe a necessidade de contínuas purificações para que todas as suas ações sejam cada vez mais atuações de Jesus Cristo através dele.
O pecado sempre é feio, Deus sempre é belo. Há uma oposição radical entre Deus e o pecado, entre a beleza e a feiúra. Sem dúvida, Deus é Uno, bom, verdadeiro e belo. Todo o nosso ser, templo do Espírito Santo, deve ser cada vez mais à semelhança do Senhor. Deus sempre atua através dos seus sacerdotes, e infalivelmente nos Sacramentos. Mas, é verdade, Deus atua mais através dos sacerdotes mais santos. Quem é “santo santifique-se ainda mais” (Ap 22,11), nos diz o Espírito Santo.
Direção espiritual! Não é coisa só do tempo do Seminário. Não! Como é bom poder contar com outro irmão sacerdote com quem partilhar – com toda sinceridade – o próprio caminho espiritual, os nossos êxitos e fracassos! O diretor espiritual nos dará conselhos, idéias, sugestões, que nos ajudarão a ver aquelas coisas que nós mesmos não conseguimos ver em nós, que nos farão estar sempre na presença de Deus, que nos mostrarão metas a alcançar na vida espiritual. A direção espiritual é uma ajuda eficaz na pastoral e é, simplesmente, uma garantia de fidelidade.
A virtude da pobreza e a sobriedade
Os sacerdotes seculares não fazem votos de pobreza, castidade e obediência, como os religiosos-sacerdotes. Isso não quer dizer que não tenhamos que viver as virtudes da pobreza, da obediência e da castidade, não como votos, mas como virtudes, como qualquer cristão. Ao mesmo tempo, a causa de um novo título, o da ordenação sacerdotal, o presbítero tem que ir adiante nessas virtudes mostrando o caminho ao Povo de Deus. Recordemo-nos que essas virtudes foram vividas perfeitamente por Cristo e que os Apóstolos o imitaram. Portanto, a nossa pobreza sempre é cristológica e apostólica!
O desprendimento, também dos bens materiais, é essencial para que tenhamos um coração realmente entregue a Deus e aos irmãos. Que pena se depois de renunciarmos tantas coisas, ficássemos apegados a uns míseros reais... Que bobagem!
Tenhamos sempre consciência de que nós entregamos tudo a Deus e de que o nosso tesouro é seguir o Cristo pobre, desapegado dos bens dessa terra. Nós somos Cristo que passa pelas ruas das nossas cidade e que vai curando, pregando, expulsando demônios, chamando as pessoas para viver bem perto de Deus. Os bens dessa terra têm que estar ao serviço de Deus. Daí a importância de levar em sério a administração da paróquia de uma maneira bastante profissional, de evitar os gastos desnecessários, de sermos também nós generosos com os mais pobres (nós que tanto falamos do dízimo aos nossos fiéis!). Uma coisinha: a roupa clerical também ajuda a viver a virtude da pobreza, pois dessa maneira evitaremos, por exemplo, a preocupação da moda: um sacerdote que se veste segundo o seu estado sempre está na moda!
A virtude da obediência e a responsabilidade pessoal
“Prometes respeito e obediência a mim e aos meus sucessores?” Essa foi uma das perguntas que o bispo nos fez no dia da nossa ordenação. E nós respondemos cheios de convicção: “Prometo”. Realmente, seria muito interessante repassar de vez em quanto esses momentos que tanto marcaram a nossa vida. De fato, é exatamente isso que fazemos na quinta-feira santa ao renovar as promessas sacerdotais.
Nós amamos a liberdade, que é “irmã” da responsabilidade. A liberdade é aquela capacidade que Deus nos deu para que façamos o bem de maneira inteligente e sem nenhuma coação. Infelizmente, é possível que também nós, sacerdotes, funcionemos com um conceito de liberdade mundano. A liberdade de eleição é somente um sinal de que há liberdade, mas não é a essência da liberdade, muito menos da liberdade cristã, que leva consigo, necessariamente, a identificação da nossa vontade com a Vontade de Deus. Cristo, totalmente livre, submeteu-se em tudo ao Pai. Esse é o nosso modelo de liberdade, e de obediência!
Uma liberdade concebida dessa maneira nos faz mais verdadeiros, nos faz mais nós mesmos. Anteriormente, falávamos de liberdade como capacidade de fazer o bem de maneira inteligente. Logicamente, liberdade e obediência, na vida do cristão, e em conseqüência do presbítero, precisam estar sempre unidas. Como é importante aprender a obedecer livremente e ser livre obedecendo. Não é um mero jogo de palavras: quando se recebe uma ordem, é mais obediente e mais livre aquela pessoa que é capaz de obedecer da maneira mais perfeita possível. Nesse desejo de obedecer bem, entra em jogo a nossa inteligência e vontade, e a graça de Deus.
Obediência cadavérica? Nem pensar! Obediência de seres vivos, dotados de uma capacidade intelectual e volitiva e elevados pela graça de Deus. Concretamente, obedecer ao Papa e ao bispo diocesano é, para cada um de nós, identificação com Cristo que obedeceu em tudo. Além do mais, é garantia de eficácia apostólica. Se cada um quisesse fazer a sua própria “diocese paroquial”, a pastoral iria a menos e se mostraria – mais cedo ou mais tarde – a deterioração que isso implica para a unidade católica.
Serviço aos pobres
Pode-se afirmar com toda segurança que nós – Igreja no Brasil – fizemos a opção preferencial pelos pobres. Graças a Deus, pode-se observar nas paróquias diversas atividades em favor dos mais necessitados. É muito edificante ver o sacrifício de muitos sacerdotes para levar adiante tantas iniciativas nesse campo. Em todo o Brasil há uma sensibilidade geral para esse tema. Sem dúvida, tudo isso está profundamente enraizado no Evangelho.
O Papa Bento XVI, no seu Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, afirmou: “A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos leva à comunhão: o encontro com Deus é, em si mesmo e como tal, encontro com os irmãos, um ato de convocação, de unificação, de responsabilidade para o outro e para com os demais. Neste sentido, a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza (Cf. 2 Cor 8,9)” (DE, nº. 3).
Nós, presbíteros, não podem esquecer-nos, no entanto, que o nosso trabalho a favor dos mais pobres nas suas mais diversas manifestações (há também uma pobreza espiritual que não é boa: pecado, ignorância, falta de educação, etc.) tem que estar banhada dessa característica: pastoral. Explico-me: nós não somos agentes sociais, nós somos pastores do rebanho do Senhor e como tais devemos cuidar das ovelhas. Como bons pastores procuraremos, em primeiro lugar, rezar por todas essas pessoas confiadas ao nosso cuidado, pois, por mais que façamos, sempre há um campo imenso aonde nós não chegamos, mas que a oração abarca. Em segundo lugar, a nossa atividade em favor dos irmãos, não pode se converter em ativismo. Seja a nossa ação fruto da contemplação dos mistérios de Deus. A oração deve ocupar o primeiro lugar!
É importante saber organizar as coisas, para que não estejamos sempre à frente. Como é bonito passar despercebidos! Por outro lado, há tantos leigos que sabem fazer coisas tão bem feitas e que nós não temos nem idéia. É importante que sejamos conscientes dos nossos próprios limites e deixemos que os outros trabalhem na vinha do Senhor, impulsionando-os e apoiando-os, coisa que sempre se agradece ao padre.
Muito obrigado, senhores bispos, por que essa Carta que nos fez pensar, refletir e fazer propósitos para melhorar a nossa vida e ministério sacerdotais santificando-nos nesse trabalho tão santo e divino ao santificar os outros com ele.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
(da Diocese de Anápolis-GO)