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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Três Missas

Quando se fala sem muito cuidado no assunto da liturgia, somos tentados, talvez, a imaginar um cenário onde só existam duas possibilidades, principalmente no Brasil: a Missa no rito antigo, bem celebrada, em latim, com canto gregoriano, com o padre versus Deum, os fiéis em atitude de piedade e sacralidade; e a Missa no rito novo, bagunçada, irreverente, com música pop ou violões folk e rimas terminadas em “ão”, padre sem casula, palminhas ritmadas, banho de água benta com balde, vários leigos no presbitério posando de clérigos etc.

O cenário, entretanto, é por demais simplista. Nem mesmo entro na possibilidade – que só é remota hoje, circunstancialmente – de haver avacalhação também na Missa antiga. O ponto é outro: a Missa nova NÃO é isso descrito acima.

Trata-se, então, não de “duas Missas”, mas de três: a Missa antiga, a Missa nova mal-celebrada, e a Missa nova bem-celebrada. Não se pode colocar, como fazem alguns radicais tradicionalistas, lado a lado a Missa antiga observante das rubricas e a Missa nova desobediente. Não é questão de, para fugirmos de “Missas-show”, “Missas-circo”, “Missas-discoteca”, “Missas-halloween”, “Missas de cura e libertação”, “Missas afro”, “Missas do padre sem casula”, “Missas do Missal rasgado” etc, levantarmos exclusivamente a bandeira da Missa antiga.

Por acaso o Papa celebra mal a Missa? No entanto, ele celebra a Missa nova. Todo aquele esplendor, aquele fausto, aquele gregoriano, aquele latim, aquele versus Deum, aqueles paramentos, aquela obediência às rubricas, não são atributos da Missa antiga apenas.

A comparação, em termos externos, para sermos justos, não deve se dar entre a Missa antiga bem-celebrada a nova mal-celebrada, mas entre a Missa mal-celebrada (atualmente apenas a nova, já que os que procuram a antiga o fazem movidos justamente por amor ao sagrado) e a Missa bem-celebrada, seja a nova, seja a antiga.

Claro, a discussão sobre eventuais problemas na reforma levada a cabo pelo Papa Paulo VI, ou sobre o que poderia ter sido melhorado, ou quanto ao modo como se o fez, sem atentar para o princípio do desenvolvimento harmônico, ou mesmo sem o rito antigo expressa ou não de modo mais sublime o dogma eucarístico, pode ser feita, com respeito, caridade e submissão. Mas esse tema escapa ao fim do presente artigo.

Enfim, daí se pode (e deve) incentivar, ao lado da Missa antiga, ou tridentina, ou tradicional ou forma extraordinária, também a Missa nova, forma ordinária, só que bem celebrada, de acordo com as rubricas. Sim, pois o que está aí, na maioria de nossas aróquias brasileiras, não é a Missa nova, não é a forma ordinária, não é o mesmo rito celebrado pelo Papa no Vaticano. É qualquer coisa, menos isso. É uma distorção do que prevê o Missal – e queremos a Missa do Missal!

4 comentários:

  1. Olá Rafael, achei seu artigo ótimo, tratou a questão da "reforma da reforma", de maneira simples e exclarecedora.
    O maior obstaculo, na minha simples opinião, é a questão da aculturação/inculturação na liturgia. As normas da IGMR, são claras quando falam: ela só deve ocorrer quando há necessidade em virtude da cultura do povo. Fazendo uma análise histórica, foi o que aconteceu no Leste Europeu no prímeiro milênio, os povos eslavos fizeram adaptações do rito bizantino, segundo à sua cultura, sem, no entanto, desvirtuar as liturgias de São Tiago, Crisóstomo e Básilio.
    No Brasil, o que eu percebo, é uma inculturação ilicita, para fins de "dinamizar" a celebração, quando na verdade a "dinamys" da celebração é o próprio Cristo.
    Se criou uma mentalidade no homem ocidental de que ele tem que entender "tudo", e entender tudo, significa, querer entender, o que por sí só, os simbolos e os gestos já falam. Dai querer ficar colocando comentadores nas missas que ficam mandando os fiéis levantarem, sentarem, ajoelharem, dançarem. Não precisamos disso pois o próprio Cristo é a nossa motivação.
    Nossas missas não precisam de cartazes e cantos que elucidam o "Deus Libertador", o sacrifício de Jesus na Cruz, já é o maior Simbolo real do Deus que Liberta e que salva! Não precisamos de Missas-Shows pois o sacrifício incruento de Jesus no altar é o maior espetáculo da terra. São Pio já falava: se as pessoas soubessem do valor da missa, as autoridades teriam que se mobilizar para evitar o tumulto das pessoas nas Igrejas e Capélas.
    Que possamos descobrir a beleza da missa bem celebrada, seja da missa nova, seja da missa antiga mais nova do que nunca.

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  2. Eu concordo com tudo que foi dito, penso que o problema não é o fato de ser a missa no rito novo ou antigo mas o fato do rito novo ser mal celebrado, a paroquia onde sou cerimoniario este ano completa 50 anos em abril, sou o responsavel pela liturgia, mas o proprio paroco diz o tempo todo que nao quer muita coisa que quer tudo bem "simples" mas apensar de ser otima pessoa o simples dele quer dizer menos sacralidade e menos coisas do missal quanto possivel. É uma pena mas se é pra fazer pela metade ou mal feito é melhor não fazer (minha opiniao).

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  3. O problema é que essa Missa nova bem celebra não existe em quase lugar nenhum. Chuto que 95% das missas novas são mal celebradas e desobedientes. Na minha cidade que é um dos maiores centro urbanos do país há apenas dois lugares um pouco melhores e mesmo assim cometem algum dos erros que vou citar.

    Pra ficar só no básico: a patena é prescrita, poucos usam; os ministros extraordinários deveriam ser usados apenas em "numerosa participação" mas são todo domingo e até todo dia; eles só deveriam ser usados para distribuir a comunhão, mas fazem serviço de acólico/coroinha; não há incentivo à comunhão de joelhos, pois nem um genuflexório colocam pra você, se você é mais velho ou tem problema em ajoelhar vai ter dificuldade e atrapalhar a fila; acólitos/coroinhas deveriam ordinariamente (na maioria das vezes) ser homens mas todo domingo em 99% das paróquias usam mulheres; se tornou normal usar músicas do Glória, do Santo ou outras do ordinário que tenham letras completamente diferentes do Missal. Enfim, só o que lembro agora. Até nos lugares que vejo católicos dizendo que celebra bem a missa nova vejo esses erros (que pra mim são grotescos e que se os padres fossem realmente piedosos e obedientes seguiriam).

    E ainda... Não entrei na questão das traduções terríveis que fizeram no missal brasileiro. "Sabaoth" virou Universo. "Meu e vosso sacrifício" virou "Nosso sacrifício". "E com teu espírito" virou "Ele está no meio de nós". E sabe-se lá mais o quê.

    Ah! A "sacrosanctum concilium" pede para que o latim e o canto gregoriano sejam privilegiados, onde se vê isso na missa nova? Em 99% não se vê! E ainda.. outro problema da Missa Nova como feita na maioria dos lugares é a absoluta falta de SILÊNCIO. A música é alta, chamativa, não favorece a oração. Simplesmente não consigo rezar e fazer uma ação de graça, pois o momento da comunhão é um fast food danado e ainda barulhento devido as músicas. Às vezes colocam até músicas agitadas como se fosse uma comemoração de aniversário. Impossível, só um santo de sétima morada pra rezar.

    Enfim... É MUITA coisa, por isso prefiro ir na missa tridentina e rezar para um reforma da reforma dê frutos e Deus levante novos Bento XVI, Burkes e Athanasius para que um dia o católico mediano e sem formação possa apreciar a beleza da Tradição Litúrgica.

    O artigo tem razão? SIM. Mas a "missa nova bem celebrada" existe em 1% das paróquias nesse país!

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