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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Missal celta de Stowe

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Em tempos de reconciliação dos anglicanos com a Igreja, sempre é bom consultar as fontes litúrgicas das Ilhas Britânicas, entre os quais as liturgias celtas, como a de Stowe. Ainda que a base da liturgia anglicana seja o Sarum, um uso do rito romano, outras liturgias, de corte mais suntuoso e parecidas com os ritos orientais, também se celebraram na Grã-Bretanha e na Irlanda.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O que a forma ordinária traz para a forma extraordinária: a questão do mútuo enriquecimento

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Fonte: Father Z

Tradução: Osvaldo Mafra Lopes Junio

Desde que Universae Ecclesiae foi publicada, o tema do “mútuo enriquecimento” do antigo e do novo, as formas extraordinária e ordinário do Rito Romano, tem ressurgido.

Nas duas últimas décadas, eu tenho falado que – na cabeça do Papa Ratzinger – há um processo mais orgânico e demorado de crescimento, renovação e revisão à ser incentivado, do qual eventualmente emergiria um tertium quid, uma forma do Rito Romano que refletiria as reforma pedidas pelo Concílio Varticano II e o Rito Romano tal qual recebido da experiência de oração da Igreja ao longo dos séculos. O que não ocorreu com o Novus Ordo, por ele ter sido um produto artificial fabricado sobre uma mesa. Mas as duas formas, velha e nova, usadas lado à lado, criariam uma atração gravitacional entre elas.

Eu acho que muitos anos atrás, o Papa Ratzinger assumiu que o novo, forma ordinária, teria uma prioridade lógica e que alguma influência da forma antiga viria produzir o tertium quid. Agora, no entanto, eu não estou tão seguro. Eu sinto uma mudança de direção. Eu suspeito que o Santo Padre pensa o inverso agora. Mas somente o tempo dirá.

Haverá seguramente um influência de um sobre o outro, um mútuo enriquecimento, uma atração gravitacional. E que esta influência crescerá enormemente conforme a “Solução Biológica” mudar a demografia do clero. Homens mais jovens, sem a bagagem do “espírito do concílio”, homens mais jovens interessados na hermenéutica da continuidade desejada pelo Papa Bento para ser aplicada à todas as coisas conciliares e pós-conciliares, estarão também interessados na forma Extraordinária. E se eles não estiverem ansiosos por usarem-na eles mesmos, eles estarão ao menos abertos à ela. Quanto mais jovens padres – futuros bispos – iniciem à exercitar seu ministério na Igreja em cada esfera da sua vida, mais as coisas irão mudar.

Mas, voltando à questão do enriquecimento mútuo.

As formas ordinária e extraordinária são claramente – conforme a mentalidade do Sumo Pontífice – destinadas à estarem “uma ao lado da outra” (UE 6). Elas influenciarão uma à outra. Isto é lógico.

Eu acredito que a forma extraordinária remodelará drasticamente a Forma Ordinária, especialmente no ars celebrandi, mas talvez também numa reintrodução de elementos perdidos na reforma. Isto afetará certamente como padres vêem eles mesmos e como conduzem o seu papel.

Entretanto, eu também acredito que a forma ordinária influenciará, na verdade tem influenciado, como os padres dizem a forma extraordinária.

Primeiramente, houve uma quase total perda da Forma Extraordinária que fez com que aqueles que a desejavam fossem mais cuidadosos, atentos e reverentes. Em assuntos humanos, familiaridade pode gerar desprezo ... ou ao menos negligência. Nas palavras de Joni Mitchell: “Não que seja sempre assim, mas você só percebe o que perdeu quando ele já se foi. Eles pavimentaram o paraíso e fizeram em eu lugar um estacionamento.” A observância da Forma Extraordinária beneficiou-se da opressão.

A mudança do foco na Forma Ordinária do padre no altar, para o padre e a assembléia, tem sido mais que de grande ajuda também. Eu acho que os padres são hoje em dia mais concientes em sua ars celebrandi, que há realmente pessoas lá, o que os leva a serem mais cuidadosos e reverentes e, em suas palavras e ações, projeta-os além do suporte do altar, não de um modo solipsístico, mas em um genuíno desejo, como mediator, para comunicar o que Deus deseja dar através das acões e palavras sagradas dos sacros mistérios.

Irei tratar um outro ponto vizinho ao assunto no qual entramos aqui neste post.

No que concerne à ars celebrandi, por anos, no período nergo quando apenas por querer a forma antiga como um seminarista significava certamente a expulsão dos seminários da corrente dominante, eu escutei críticas à missa antiga por causa da forma com que o padre a dizia. Isso era muito estranho, com certeza. Se os padres fazem coisas estúpidas por eles mesmos, a culpa é deles. De alguma forma elementos do rito podem convidar à algumas escolas, com certeza. Mas é o padre que diz a missa, não o libro que diz a missa.

Uma forma comum de denigrir a forma antiga da Missa era o comentário zombeteiro que padres seriam escrupulosos na forma que eles, por exemplo, diziam as palavras da consagração ou faziam alguns gestos. Alguns padres eram terrivelmente escrupulosos. Por causa da formação e do seu próprio desejo de não cometer pecados, eles levavam a sério o antigo ensinamento que erros na celebração eram pecados mortais. Quando isto era acoplado à um carater escrupuloso e também ao Jansenismo que chegou à alguns seminários, especialmente aqueles com uma base Irlandesa sobre a influência dos franceses que tinham uma abordagem terrivelmente rígida para muitas dimensões da vida humana e para o mundo material, o resultado na liturgia não era sempre ótimo.

Para fazer minhas considerações finais, talvez os anos de intervenção – que foram, sem dúvida, manchados pelos horrores da ilícita e frequentemente estúpida experimentação, dos abusos litúrgicos e do muito mal gosto – serviram para romper o controle de algumas escolas de abordagem, algumas talvez de rigidez jansenistas, de escrupuloso rubricismo contra a qual, eu temo, muitas da multidão de discontinuidades reagiu tão fortemente que elas romperam seus grilhões após o Concílio e enlouqueceram, nos levando junto com eles à um buraco litúrgico do qual agora temos que sair pela escada do Summorum Pontificium.

Eu volto agora ao meu ponto sobre o comentário. Fr. Augustine Thompson, OP, deixou um interessante comentário. Ele tomou meu ponto de que a Forma Ordinária enxercerá também uma atração gravitacional sobre a Forma Extraordinária. Heresia para alguns tradicionalistas ... mas a verdade. Padres são homens de seu próprio tempo, não apenas de épocas passadas.

Fr. Thompson observa:

Tendo sido ordenado à cerca de 25 anos, e tendo celebrado missa todo dia sem impedimento (ex. Sexta Feira Santa) mais ainda, eu celebrei o antigo rito (Dominicano) pelo menos 1000 vezes e o rito novo ainda mais vezes. E existem coisas que celebrantes, especialmente novos celebrantes do antigo rito, podem aprender do novo.

Em particular, eu percebi que os novos celebrantes do Rito Dominicano tentam correlacionar rigidamente os gestos (por exemplo no Per Ipsum) com as palavras por causa das rúbricas inseridas “faça cruz,” “pegue a hóstia”, etc ... no meio da sentença. O sentido de liberdade que vem do novo rito (onde os gestos feitos são geralmente aqueles que vêm naturalmente ao padre), dá uma sensação de propriedade pessoal do movimento. Quando eu instigo novos celebrantes à simplesmente conhecerem os gestos à fazer e fazê-los naturalmente conforme eles lêem o livro, eles percebem que a ação por completo é mais graciosa (e o gesto termina no momento certo). Agora, eu aprendi a fluidez do movimento através de uma constante prática – e finalmente consegui isso apenas quando eu parei com a escrupulosa tentativa de seguir rigidamente as rúbricas – e então eu realizei que se eu permitisse à mim mesmo o sentido de liberdade no rito novo desde o começo, isto teria vindo mais rápido.

Na verdade, o objetivo é celebrar com fluidez e elegância, e fazê-lo conforme as rubricas indicam. Mas um sentimento “novus ordo” de liberdade tem ajudado o novo celebrante do rito antigo à fazê-lo mais naturamente.

Eu estou certo de que há outros exemplos de vezes quando minha celebração do rito novo ajudou-me com o antigo. (E vice-versa)

Discutir de uma forma cuidadosa, tendo relido primeiro o que você pode querer compartilhar, e então perguntando a você mesmo: “Isto contribui para algo de útil?”

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fotos do Terceiro Congresso SUMMORUM PONTIFICUM

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"A verdadeira liturgia supõe que Deus responda e nos mostre como podemos adorá-Lo. [...] A Igreja vive dessa presença e tem como razão de ser e existir ampliar esta presença ao mundo inteiro" Bento XVI.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Uma pequena reflexão sobre o Canto Litúrgico

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A Santa Igreja Católica produziu, ao longo dos séculos, um tesouro artístico inestimável, reflexo de sua ação visando instaurar todas as coisas em Cristo. Na Música Sacra ocidental, certamente o destaque é para o Canto Gregoriano (que é o canto próprio da Liturgia latina) e a Polifonia renascentista. Infelizmente durante as últimas décadas estas duas peças foram pouco divulgadas, mesmo em âmbito eclesiástico (contrariando inclusive a exortação do Concílio Vaticano II em promover esse tesouro da música sacra, especialmente o canto gregoriano), de forma que os que conhecem ou admiram esses estilos musicais ou lutam pela sua implantação na liturgia nas paróquias são taxados de elitistas, esnobes, de gostos "muito refinados". Pelo contrário! Não desejamos que isso se torne um gosto particular nosso, mas queremos levar esse tesouro ao conhecimento e apreciação dos demais, pois entendemos que são meios de promover a Glória de Deus e de favorecer uma maior sacralidade e contemplação dos fiéis nos Ofícios Litúrgicos.

Tendo dito essas coisas a título de preâmbulo, passemos ao que gostaria de refletir nesse texto: a forma como o canto gregoriano e a polifonia renascentista expressam diferentes aspectos da relação da alma com Deus e da Criação como reflexo da Glória de Deus.

Pensemos no ritmo do Canto gregoriano, que se baseia em movimentos de impulso e repouso. Um amigo meu músico, conhecedor do canto gregoriano e de obras de espiritualidade dos grandes místicos da Igreja, fez-me notar certa vez como esses movimentos do ritmo gregoriano refletem a relação da alma com Deus, que é um constante impulso em direção a Deus seguido do repouso contemplativo no Amor Divino. Desta forma, o gregoriano favorece na alma o recolhimento e a contemplação. Assim, vemos o por quê dessa música ser a mais apropriada para a Liturgia, posto refletir o espírito de oração que devemos cultivar na liturgia.

Na Polifonia Renascentista, por outro lado, a harmonia composta por vozes distintas nos recorda como a Criação em sua diversidade refletem, cada coisa a seu modo e grau, a Glória de Deus. Assim, a polifonia é imagem da Criação que em sua harmônica desigualdade canta a Glória de Deus.

Portanto, o canto gregoriano reflete mais a relação individual da alma com Deus enquanto a polifonia é expressão do louvor que toda a Criação em conjunto tributa ao Altíssimo.

Claro que aqui trata-se apenas de uma reflexão acerca do que esses dois tipos de música provocam na sensibilidade da alma humana. Para considerar os aspectos técnicos e musicais (que não domino) e históricos (complexos demais para caberem em único post) demandaria uma reflexão de outra natureza.

domingo, 15 de maio de 2011

O conceito de Missa nos catecismos da Igreja

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Missa Solene 2

Nunca é demais recordar o que ensina a Igreja sobre a Missa. Abaixo, o conceito da Missa e desenvolvimento de algumas explicações sobre ela no Catecismo da Igreja Católica:

§1362 A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta sacramental de seu único sacrifício na liturgia da Igreja, que é o corpo dele. Em todas as orações eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituição, uma oração chamada anamnese ou memorial.

§1363 No sentido da Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos acontecimentos dos acontecimento do passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus realizou por todos os homens. A celebração litúrgica desses acontecimentos toma-os de certo modo presentes e atuais. É desta maneira que Israel entende sua libertação do Egito: toda vez que é celebrada a Páscoa, os acontecimentos do êxodo tomam-se presentes à memória dos crentes, para que estes conformem sua vida a eles.

§1364 O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra a Eucaristia, rememora a páscoa de Cristo, e esta se toma presente: o sacrifício que Cristo ofereceu uma vez por todas na cruz torna-se sempre atual: "Todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz, pelo qual Cristo nessa páscoa foi imolado, efetua-se a obra de nossa redenção."

§1365 Por ser memorial da páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrifical da Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituição: "Isto é o meu Corpo que será entregue por vós", e "Este cálice é a nova aliança em meu Sangue, que vai ser derramado por vós" (Lc 22,19-20). Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo corpo que, entregou por nós na cruz, o próprio sangue que "derramou por muitos para remissão dos pecados" (Mt 26,28).

§1366 A Eucaristia é, portanto, um sacrifício porque representa (toma presente) o Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica seus frutos:

[Cristo] nosso Deus e Senhor ofereceu-se a si mesmo a Deus Pai uma única vez, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, a fim de realizar por eles (os homens) uma redenção eterna. Todavia, como sua morte não devia pôr fim ao seu sacerdócio (Hb 7,24.27), na última ceia, "na noite em que foi entregue (1 Cor 11,13), quis deixar à Igreja, sua esposa muito amada, um sacrifício visível (como o reclama a natureza humana) em que seria representado (feito presente) o sacrifício cruento que ia realizar-se uma vez por todas uma única vez na cruz, sacrifício este cuja memória haveria de perpetuar-se até o fim dos séculos (l Cor 11,23) e cuja virtude salutar haveria de aplicar-se à remissão dos pecados que cometemos cada dia.

§1367 O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: "É uma só e mesma vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se ofereceu a si mesmo então na cruz. Apenas a maneira de oferecer difere". "E porque neste divino sacrifício que se realiza na missa, este mesmo Cristo, que se ofereceu a si mesmo uma vez de maneira cruenta no altar da cruz, está contido e é imolado de maneira incruenta, este sacrifício é verdadeiramente propiciatório".

§1368 A Eucaristia é também o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de Cristo, participa da oferta de sua Cabeça. Com Cristo, ela mesma é oferecida inteira. Ela se une à sua intercessão junto ao Pai por todos os homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo se torna também o sacrifício dos membros de seu Corpo. A vida dos fiéis, seu louvor, seu sofrimento, sua oração, seu trabalho são unidos aos de Cristo e à sua oferenda total, e adquirem assim um valor novo. O sacrifício de Cristo, presente sobre o altar, dá a todas as gerações de cristãos a possibilidade de estarem unidos à sua oferta. Nas catacumbas, a Igreja é muitas vezes representada como uma mulher em oração, com os braços largamente abertos em atitude de orante. Como Cristo que estendeu os braços na cruz, ela se oferece e intercede por todos os homens, por meio dele, com ele e nele.

Novus Ordo32

Da mesma forma, o Catecismo Romano, mandado pelo Concílio Ecumênico de Trento ensina:

O que resta, agora, é encará-la como Sacrifício, para os pastores saberem quais são os pontos principais que, por decreto do Sagrado Concílio, devem ser explanados ao povo fiel, nos domingos e dias de festa.

I. VALOR E UTILIDADE DO SACRIFÍCIO DA MISSA

Este Sacramento não é apenas um tesouro de riquezas celestiais, que nos garante a graça e o amor de Deus, quando o usamos nas devidas disposições; mas tem ainda uma virtude particular, que nos põe em condições de agradecer a Deus os imensos benefícios que nos tem dispensado.

Um confronto nos fará compreender como deve ser agradável e bem aceita a Deus esta Vítima, uma vez que imolada segundo as prescrições da Lei. Dos sacrifícios da Antiga Aliança está escrito: “Não quisestes sacrifício, nem oferenda”(Sl XXXIX, 7). E noutro lugar: “Se quisésseis um sacrifício, Eu certamente o teria oferecido; mas Vós não Vos comprazeis com holocaustos”(Sl L, 18). No entanto, esses mesmos sacrifícios eram tão agradáveis ao Senhor, que, no dizer da Escritura, “Deus os sorvia como um suave odor” (Gn VIII, 21). Ora, que não devemos, pois, esperar deste outro Sacrifício? Nele é imolado e oferecido Aquele mesmo, de quem por duas vezes se ouviu falar a voz do Céu: “Este é o Meu Filho bem-amado, em quem pus as Minhas complacências” (Mt III, 17).

Força é que os párocos se detenham bastante na exposição deste Mistério, para que os fiéis, por ocasião do culto divino, aprendam a meditar, com atenção e piedade, o Sagrado Sacrifício a que assistem.

Antes do mais, os pastores ensinarão que Cristo instituiu a Eucaristia por duas razões. A primeira, para ser um alimento celestial de nossa alma, com que pudéssemos proteger e conservar em nós a vida espiritual.

A segunda razão era para que, na Igreja, houvesse um sacrifício perene, em reparação de nossos pecados, pelo qual o Pai do Céu, a quem tantas vezes ofendemos gravemente com nossos crimes, Se volvesse da cólera à misericórdia, e do justo rigor à clemência;

Como imagem e semelhança dessa finalidade, podemos considerar o Cordeiro Pascal, que os Filhos de Israel costumavam oferecer e comer, como Sacrifício e como Sacramento.

Na verdade, quando estava prestes a imolar-Se a Deus Pai no altar da Cruz, não podia Nosso Salvador dar prova mais cabal do Seu imenso amor para conosco, do que esta de deixar-nos um Sacrifício visível, em renovação daquele que pouco depois ia consumar-se na Cruz, de maneira cruenta, uma vez por todas, e cuja memória a Igreja havia de celebrar todos os dias, com o máximo proveito, em toda a redondeza da terra.

II. DIFERENÇA ENTRE SACRAMENTO E SACRIFÍCIO

Há, porém, uma grande diferença entre estas duas noções. O Sacramento é consumado pela Consagração. O Sacrifício tem toda a sua razão de ser no ato de ofertar. Por isso, quando conservada no cibório, ou levada a um enfermo, a Eucaristia tem caráter de Sacramento, que não de Sacrifício.

Enquanto é Sacramento, torna-se ela causa de mérito para quem recebe a Divina Hóstia, e confere-lhe todos os frutos espirituais, que acabamos de mencionar. Enquanto é Sacrifício, possui a virtude não só de merecer, como também de satisfazer. Assim como Cristo Nosso Senhor mereceu e satisfez por nós em Sua Paixão: da mesma forma, os que oferecem este Sacrifício, pelo qual se põem em comunhão conosco, merecem os frutos da Paixão de Nosso Senhor e prestam satisfação.

III. DOUTRINA DA IGREJA

A) Sacrifício instituído por Cristo

Acerca da instituição deste Sacrifício, o Santo Concílio de Trento não deixa lugar a nenhuma dúvida. Pois declarou ter sido instituído por Cristo Nosso Senhor na Última Ceia; fulminou, ao mesmo tempo, a pena de excomunhão contra quem afirmasse que não se oferece a Deus um verdadeiro Sacrifício, no rigor da palavra, ou que a oblação sacrifical não consiste em outra coisa senão em dar-Se Cristo a Si mesmo como comida.

B) Sacrifício oferecido só a Deus

O Concílio teve, porém, o cuidado de precisar que só a Deus se pode oferecer Sacrifício. Ainda que a Igreja costuma, às vezes, celebrar Missas em memória e honra dos Santos, contudo sempre ensinou que o Sacrifício é oferecido, não a eles, mas unicamente a Deus, que coroou os Santos de glória imortal.

Esta é a razão por que o sacerdote jamais dirá: “Ofereço-te este Sacrifício, ó Pedro, ou, ó Paulo”. Mas, oferecendo o Sacrifício só a Deus, rende-Lhe graças pela insigne vitória dos bem-aventurados Mártires, aos quais implora proteção, mas de tal maneira, “que nos céus se dignem interceder por nós aqueles cuja memória celebramos na terra” (Oração do Ofertório da Missa).

C) Provas dessa doutrina

Palavras de Cristo

O que a Igreja Católica ensina acerca deste Sacrifício, como dogma de fé, foi por ela tirado das palavras de Nosso Senhor, quando naquela última noite confiou aos Apóstolos os próprios Mistérios Sagrados, e lhes disse: “Fazei isto em Minha memória” (Lc XXII, 19; I Cor XI, 24).

Consoante a definição do Sagrado Concílio, foi nessa ocasião que Ele os instituiu sacerdotes, e lhes ordenou que eles mesmos e seus sucessores no ministério sacerdotal imolassem e oferecessem o Seu Corpo.

Uma prova bastante clara desse fato está nas palavras que o Apóstolo escreveu aos Coríntios: “Não podeis, diz ele, beber o Cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis tomar parte na Mesa do Senhor e na mesa dos demônios” (I Cor X, 20ss). Ora, se por “mesa dos demônios” devemos entender o altar em que lhes eram oferecidos sacrifícios, a “Mesa do Senhor” não pode significar outra coisa, senão o altar em que se sacrificava ao Senhor. Só nesse sentido é que as palavras do Apóstolo têm sua força de argumentação.

Figuras e oráculos do Antigo Testamento

Se buscarmos figuras e oráculos deste Sacrifício, no Antigo Testamento, encontraremos em primeiro lugar o que dele vaticinou Malaquias, com perfeita clareza: “Desde o nascer do sol até o ocaso, grande é o Meu Nome entre as nações; e, em todo lugar, é sacrificada e oferecida ao Meu Nome uma oblação pura, porque o Meu Nome é grande entre as nações, diz o Senhor dos exércitos” (Ml I, 11).

Ademais, antes e depois da promulgação da Lei, foi este Sacramento prefigurado por várias espécies de sacrifícios; pois todos os bens da salvação, significados por aqueles sacrifícios, estão contidos neste único Sacrifício, que constitui, por assim dizer, o remate e a consumação de todos os outros.

Entre eles, porém, não se pode considerar uma figura mais expressiva, do que o sacrifício de Melquisedec. O próprio Salvador, na Última Ceia, ofereceu a Deus Pai Seu Corpo e Sangue, sob as espécies de pão e de vinho, e assim Se declarava constituído Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec.

IV. UNIDADE ENTRE SACRIFÍCIO DA CRUZ E DO ALTAR

Dizemos, portanto, que o Sacrifício que se oferece na Missa, e o sacrifício oferecido na Cruz são, e devem ser considerados como um único e mesmo Sacrifício. Da mesma forma, a Vítima é uma e a mesma, Cristo Senhor Nosso, que uma vez só Se imolou de modo cruento no altar da Cruz.

As vítimas, cruenta e incruenta, não são tampouco duas vítimas, mas constituem uma única, cuja imolação se renova todos os dias na Eucaristia, desde que o Senhor assim determinou: “Fazei isto em Minha memória!”

Mas o Sacerdote também é o mesmo, Cristo Nosso Senhor. Pois os ministros que oferecem o Sacrifício, não fazem prevalecer a sua própria, mas a Pessoa de Cristo, quando consagram Seu Corpo e Sangue. É o que mostram as próprias palavras da Consagração. Não diz o sacerdote: “Isto é o Corpo de Cristo”, mas diz: “Isto é o meu Corpo”. Representando, assim, a Pessoa de Cristo Nosso Senhor, converte a substância do pão e do vinho na verdadeira substância de Seu Corpo e Sangue.

Nestes termos, é preciso ensinar, sem nenhuma hesitação, um ponto que também já foi exposto pelo Sagrado Sínodo. O Sacrossanto Sacrifício da Missa não é apenas um Sacrifício de louvor e ação de graças, ou uma simples comemoração do Sacrifício consumado na Cruz, mas é também um verdadeiro Sacrifício de propiciação, pelo qual Deus se torna brando e favorável a nosso respeito.

Por conseguinte, se imolarmos e oferecermos esta Vítima Sacratíssima, com pureza de coração, fé ardente, e profunda compunção de nossos pecados, podemos estar certos de que havemos de conseguir “do Senhor misericórdia e graça em tempo oportuno” (Hb IV, 16).

Pois é tão agradável ao Senhor o perfume desta Vítima, que [por ela] nos dá os dons da graça e da penitência, e desta maneira nos perdoa os pecados. Este é o sentido daquela súplica oficial da Igreja: “Quantas vezes se celebra a memória deste Sacrifício, tantas vezes entra em ação a obra de nossa Redenção” (“Secreta” do IX Domingo depois de Pentecostes). Noutros termos, este Sacrifício incruento derrama, então, sobre nós os ubérrimos frutos do Sacrifício cruento.

Depois, ensinarão os párocos ser tal a virtude deste Sacrifício, que não só aproveita a quem oferece e a quem comunga, mas também a todos os fiéis cristãos, quer vivam ainda conosco aqui na terra, quer já tenham morrido no Senhor, sem estarem de todo purificados. A estes últimos não é aplicado com menos fruto do que se aplica aos vivos, por seus pecados, penas, satisfações, por qualquer desgraça e aflição. Assim o ensina, com absoluta certeza, a Tradição Apostólica.

Por aqui vemos, sem mais dificuldade, que todas as Missas são comunitárias, porquanto dizem respeito ao bem e à salvação comum de todos os homens.

V. CERIMÔNIAS DA MISSA

Em torno deste Sacrifício se fazem muitas cerimônias, sobremaneira solenes e grandiosas. Nenhuma delas deve ser considerada inútil ou inexpressiva. Pelo contrário, todas elas têm por fim realçar a majestade de tão sublime imolação, e mover os fiéis, que contemplam os ritos salutares, a considerarem as realidades divinas que se ocultam nesse mesmo Sacrifício.

No entanto, não é mister tratarmos mais de perto este assunto: já por que sua explicação exorbita de nosso programa; já porque os sacerdotes podem ter à mão esses quase inumeráveis opúsculos e comentários, que sobre a matéria escreveram homens de notável piedade e erudição.

Com isso julgamos ter dito, com a ajuda de Nosso Senhor, o necessário sobre os pontos principais, que se referem à Eucaristia, como Sacramento e como Sacrifício.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Comentários do Pe. Clécio por ocasião da publicação da Universae Ecclesiae

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Excelente reflexão do Pe. Clécio, de seu Oblatvs:

Foi publicada hoje a instrução Universae Ecclesiae (UE) da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei sobre a aplicação da Constituição Apostólica Summorum Pontificum (SP) do Papa Bento XVI.

Volto então a um tema que suscita caloroso debate e dá azo a variadas conclusões: são o Missal de 1962 e o Missal de 1970 (e os demais Livros Litúrgicos) o mesmo e único Rito Romano?

Na Summorum Pontificum, Bento XVI afirma que são "dois usos do único Rito Romano" (art. 1º) e, na carta aos bispos que acompanha a constituição apostólica, diz que "não é apropriado" falar em dois ritos. Por outro lado, a própria existência da Summorum Pontificum denota o exato contrário. Se o Missal de 1970 é apenas um "uso mais recente" do Missal anterior, ele o teria ab-rogado, como o Missal de 1962 ab-rogou as edições anteriores do mesmo Missal. Se o Missal de 1970 não ab-rogou nunca o Missal anterior, como se afirma no mesmo artigo primeiro, é porque não é o mesmo Rito Romano.

Por que o documento parece contradizer-se?

Penso que estamos diante de duas categorias distintas, ainda que interrelacionadas: a litúrgica e a jurídica. No âmbito litúrgico é impossível afirmar que os dois missais sejam o mesmo Rito Romano. No plano canônico, já que a compreensão de rito não diz respeito apenas à liturgia, são o mesmo Rito Romano porque se encontram no seio da Igreja Romana.

Tudo indica que Paulo VI, que pretendia ab-rogar o Missal anterior, tinha uma compreensão equivocada de sua própria reforma. É provável que visse seu Missal como uma continuidade do anterior. Não é o que pensa Bento XVI, desde os tempos em que foi constituída uma comissão cardinalícia para julgar se os novos livros litúrgicos haviam ab-rogado os anteriores.

Temos assim, na Summorum Pontificum, um juízo sobre a reforma litúrgica. Reafirmando sua validade e licitude, Bento XVI afirma que a liturgia reformada foi somente em parte renovada. Daí que a reforma, no conjunto e nas partes, foi uma criação ex nihilo. Não é bastante, para que tenha havido continuidade, que o Missal de 1970 mantenha alguns elementos do Missal anterior.

É uma nova liturgia, válida e lícita, mas outra! É um Rito Romano, mas outro!

Há evidentemente semelhanças entre os dois ritos, mas semelhanças não fazem um de dois. O Rito Ambrosiano reformado, por exemplo, é bem semelhante ao Rito Romano reformado. São tão parecidos que, certa feita em Milão, eu mesmo não tive dificuldade para celebrar com o Missal Ambrosiano reformado; e são dois ritos distintos.

Os usos distintos de um mesmo Rito Romano são os antigos missais das ordens religiosas que, aliás, viram seu direito ser reestabelecido na Igreja com a Summorum Pontificum. Dois ou mais usos são perfeitamente coexistentes, já dois ritos são uma espécie de esquizofrenia litúrgica.

Por isso, urge uma verdadeira reforma dos livros de 1970, sobretudo do Missal, se os queremos de fato como mais um uso do mesmo Rito Romano. O próprio Papa Bento XVI acena para isto na carta aos bispos que acompanha a Summorum Pontificum, quando fala de enriquecimento recíproco. Também por isso o Papa Bento XVI expressa claramente seu desejo, na presente instrução, de que o Rito Romano antigo chegue a todos os fiéis, e não apenas a uns poucos saudosistas. Pede aos bispos, inclusive, que formem nas antigas formas litúrgicas os seminaristas. É uma tarefa imensa que se desenvolverá nas próximas décadas, sem os métodos e a precipitação que marcaram a última reforma.

Não penso que se deva esperar a ab-rogação do Rito Romano reformado. Há conquistas ali permanentemente estabelecidas, entre as quais o amplo uso do vernáculo. Mas não se pode considerar intocável um Rito de apenas 40 anos, quando não se poupou um outro de 1500 anos! Seria até curioso assistir a certos bispos e padres rasgando as vestes diante de algumas primeiras correções do Rito de Paulo VI, defendendo seu patrimônio de uns poucos anos.

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