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segunda-feira, 2 de março de 2015

Cardeal Ratzinger: "Liturgias diferentes. Uma riqueza para a única Igreja" (excerto do recém-publicado "Ser Cristão na Era Neopagã")

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Recentemente foi lançado pela Editora Ecclesiae o primeiro volume de "Ser Cristão na Era Neopagã", trazendo material do então Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, nunca antes publicado no Brasil. Trata-se de discursos, homilias, debates e entrevistas concedidas pelo cardeal à revista italiana 30 giorni nella Chiesa e nel mondo (30 dias na Igreja e no mundo).


Organizado por meu amigo Rudy Albino de Assunção, ratzingeriano de carteirinha*, que também escreveu a apresentação do livro e a maioria das notas que introduzem cada artigo, este primeiro volume reúne diversos discursos e homilias de Ratzinger. O terceiro volume, composto por entrevistas, será de especial interesse dos nossos leitores, trazendo inúmeras menções à Reforma Litúrgica que seguiu ao Concílio Vaticano II.

Rudy, que acompanha este nosso apostolado em defesa da sagrada Liturgia, teve a bondade de enviar-nos - com a devida permissão da Editora Ecclesiae, a quem desde já agradecemos - um trecho em que Ratzinger fala do que se convencionou chamar de as duas formas do Rito Romano.

É interessante notar como Ratzinger já havia refletido ali sobre muitos dos pontos relacionados à Forma Extraordinária os quais tocaria durante seu pontificado, a saber: o reconhecimento do zelo apostólico das comunidades ligadas ao rito antigo; as dificuldades que muitas dessas comunidades enfrentaram (e continuam enfrentando!), fruto do preconceito e de um entendimento errôneo e ideológico de unidade; a falta de diferenciação entre o Concílio e a Reforma Litúrgica que o seguiu; e, por fim, a aplicação excessiva de criatividade em boa parte das missas segundo o rito moderno.


* * *



LITURGIAS DIFERENTES.
UMA RIQUEZA PARA A ÚNICA IGREJA**
(Novembro de 1998)

No dia 02 de julho de 1998 a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei completava 10 anos de sua criação por parte do papa João Paulo II. Ela for criada para facilitar a comunhão com todos aqueles que estavam ligados de alguma maneira com Monsenhor Marcel de Lefebvre e também de possibilitar que os bispos fossem mais abertos a dar o indulto para a celebração da missa segundo o Missal de São Pio V. Na época se deram muitas comemorações, inclusive uma grande peregrinação a Roma de milhares de sacerdotes e fiéis tradicionalistas. Mas aliada à peregrinação, foi promovida uma mesa redonda no hotel Erfige, com a presença de Gérard Calvet, Camille Perl, Michael Davies, Robert Spaemann e do Cardeal Ratzinger, que fez a conferência de abertura. O que se segue é o texto da conferência de Ratzinger .
***
Que balanço podemos fazer hoje, há dez anos da publicação do motu proprio Ecclesia Dei? Creio que antes de tudo seja uma ocasião para expressar o nosso agradecimento. As várias comunidades que surgiram graças a este documento pontifício presentearam a Igreja com um grande número de vocações sacerdotais e religiosas que com zelo e alegria e em comunhão profunda com o Papa trabalham pelo Evangelho nesta época histórica. Graças a elas muitos fiéis reforçaram ou conheceram pela primeira vez a alegria de poder participar da liturgia e do amor para com a Igreja. Em numerosas dioceses espalhadas pelo mundo elas servem à Igreja colaborando ativamente com os bispos e instaurando um relacionamento positivo e fraterno com os fiéis que se sentem à vontade na forma renovada da liturgia. Tudo isso hoje merece todo o nosso agradecimento.
Todavia seria irrealista calar sobre os muitos lugares onde não faltam dificuldades, então como agora, porque alguns bispos, sacerdotes e fiéis consideram o apego à antiga liturgia (a dos textos litúrgicos de 1962) como um elemento de divisão que perturba a paz da comunidade eclesial e deixa supor uma certa reserva na aceitação do Concílio e, mais em geral, na obediência devida aos pastores legítimos da Igreja. Portanto, as perguntas que devemos nos colocar são as seguintes: como se podem superar estas dificuldades? Como podemos criar o clima de confiança necessário para fazer com que os grupos e as comunidades ligadas à antiga liturgia se insiram pacificamente e proficuamente na vida da Igreja? Porém, estas questões subentendem uma outra; qual é a razão profunda desta desconfiança ou, até mesmo, da recusa do prosseguimento da antiga liturgia? Sem dúvida há razões pré-teológicas ligadas ao temperamento de cada indivíduo, ao contraste entre os diversos caráteres, ou a outras circunstâncias externas. Mas certamente existem outras causas, mais profundas e menos fortuitas.
Há duas razões que se apresentam com maior frequência: a não obediência ao Concílio que reformou os textos litúrgicos e a ruptura da unidade derivante da existência de formas de liturgia diferentes. É relativamente simples contradizer ambos os raciocínios. Não foi propriamente o Concílio quem reformou os textos litúrgicos, ele apenas ordenou a sua revisão e, para tal fim, ficou algumas linhas fundamentais. O Concílio deu principalmente uma definição de liturgia que fixa a medida interna de cada uma das reformas e, contemporaneamente, estabelece o critério válido para cada celebração litúrgica legítima. A obediência ao Concílio seria violada no caso em que não fossem respeitados tais critérios fundamentais internos e fossem colocadas à parte as normae generales, formuladas nos números 34-36 da Constituição sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosanctum Concilium). É necessário julgar as celebrações litúrgicas segundo estes critérios, sejam elas baseadas em velhos ou em novos textos. Com efeito, o Concílio, como já foi acenado, não prescreveu ou aboliu textos, mas deu normas de base que todos os textos devem respeitar. Neste contexto, é útil recordar o que foi declarado pelo Cardeal Newman: a Igreja no decorrer da sua história, nunca aboliu ou proibiu formas ortodoxas de liturgia, por que isso seria alheio ao próprio espírito da Igreja. Uma liturgia ortodoxa, ou seja que é expressão da verdadeira fé, de fato, jamais é uma simples reunião de cerimônias diferentes feita em bases a critérios pragmáticos, das quais pode-se dispor de maneira arbitrária, hoje de um modo, amanhã de outro. As formas ortodoxas de um rito são realidades vivas, nascidas do diálogo de amor entre a Igreja e o seu Senhor. São expressões da vida da Igreja, nas quais se condensam a fé, a oração e a própria vida das gerações e nas quais encarnaram-se numa forma concreta e num momento a ação de Deus e a reposta do homem. Estes ritos podem se extinguir se historicamente desaparece o sujeito que foi o seu portador ou se este sujeito está inserido com a sua herança num outro contexto de vida. Em situações históricas diferentes, a autoridade da Igreja pode definir e limitar o uso dos ritos, mas jamais os proíbe tout-court. Assim, o Concílio ordenou uma reforma dos textos litúrgicos e, consequentemente, das manifestações rituais mas não abandonou os velhos livros. O critério expresso pelo Concilio é, ao mesmo tempo, mais amplo e mais exigente: ele convida todos a um exame de consciência.
Mais tarde voltaremos a falar sobre este ponto. Por enquanto é necessário examinar um outro assunto, o da – pressuposta – ruptura da unidade. Sobre este propósito, é preciso distinguir na questão o aspecto teológico do prático. No que se refere a componente teorética e fundamental, devemos constatar que sempre existiram mais formas no rito latino que foram progressivamente caindo em desuso devido à unificação dos espaços de vida na Europa. Até a época do Concílio, ao lado do rito romano, conviviam o ambrosiano, o moçárabe de Toledo, o rito dos Dominicanos, e talvez muitos outros que eu não conheço. Jamais alguém se escandalizou pelo fato de que os Dominicanos, muitas vezes presentes em nossas paróquias, não celebrassem a missa como os párocos, mas seguissem um seu próprio rito. Todos nós sabíamos que o rito dele era católico assim como o romano e éramos orgulhosos da riqueza de tantas tradições diferentes. Além disso, não se pode esquecer que muitas vezes abusa-se da liberdade de espaço que o novo Ordo Missae deixa à criatividade e que a diferença entre os vários modos em que a liturgia é colocada em prática e celebrada nos diferentes lugares em base aos novos textos, muitas vezes é maior do que entre a antiga e a nova liturgia. Um cristão destituído de uma cultura litúrgica particular pouco distingue de uma missa cantada em latim segundo o velho Missal de uma cantada em latim segundo o novo, enquanto que pode ser enorme a diferença entre uma liturgia celebrada respeitando fielmente os ditames do Missal de Paulo VI e as várias formas de celebrações litúrgicas em língua viva amplamente difusas, que deixam grande espaço à criatividade e à imaginação. [...]

* * *
Para mais informações, visite o site da editora.

* Não deixem de visitar o site Ratzinger Brasil.
** RATZINGER, Joseph. Ser cristão na era neopagã. Campinas, Ecclesiae, 2014, pp. 183-186.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Novo membro: Marco da Vinha, especialista no Rito Bracarense

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É com muita alegria que anunciamos a entrada de mais um membro em nosso apostolado, um estudioso do Rito Latino mais próximo de todos nós lusófonos, o Rito Bracarense, da Arquidiocese de Braga, que, inclusive, já foi o rito do Império do Brasil.

Marco Paulo da Vinha, casado e pai de família, formado em Engenharia Civil, residente em Portugal. Membro de Una Voce Portugal, e mantém o blog Alma Bracarense, dedicado à divulgação do rito bracarense.


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Vésperas no Rito Ambrosiano antigo

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Trazemos alguns vídeos de Vésperas solenes celebradas no Rito Ambrosiano tradicional por Mons. Angelo Amodeo, Cônego do Cabido da Catedral de Milão, falecido no último dia 14.

Mons. Amodeo foi um grande defensor dos Ritos Ambrosiano e Romano em sua forma tradicional. Por sua alma oferecemos nossas orações e convidamos os leitores a fazerem o mesmo.

REQUIEM æternam dona ei, Domine, et lux perpetua luceat ei. Requiescat in pace. Amen.



Fonte: New Liturgical Movement

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Livro litúrgico carolíngio completo em PDF!

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O Sacramentário do Arcebispo Drogo de Metz, filho do Imperador franco Carlos Magno, datado aproximadamente do ano 850, está disponível digitalizado completo em PDF com as capas com baixo-relevos em marfim inclusas. Para baixar, basta acessar o link abaixo, clickar em PDF, esperar carregar o arquivo e salvar uma cópia:


O Site dá uma breve descrição sobre o Sacramentário:

"O sacramentário era um livro litúrgico utilizado nas orações durante a Alta Idade Média, contendo as orações, prefácios e cânones da missa. Drogo (801-55), bispo de Metz, filho de Carlos Magno e renomado patrono em sua época, tinha uma magnífica cópia do sacramentário feito em Metz, por volta de 845-855. O manuscrito, escrito em pergaminho, é uma obra de vários artistas empregados pela corte imperial. Foi composto em uma escrita latina clara e inclui alguns dos mais belos florões já produzidos em Metz. A iluminura é feita de capitulares ilustradas, arcaturas decorativas e letras douradas, e distingue-se tanto pela sutileza e dinamismo das características e pela delicadeza de suas cores verde-esmeralda, azul-celeste, violeta e roxo quanto pelo gosto pronunciado por plantas ornamentais. A iconografia da iluminação é centrada na vida de Cristo e corresponde às placas de marfim da encadernação. Executadas na mesma época e pela mesma oficina do manuscrito, tanto a placa da frente quanto a placa do verso estão divididas em nove plaquetas esculpidas em relevo. As plaquetas ilustram os principais sacramentos (placa superior) e as cenas da liturgia da igreja (placa inferior). O sacramentário teria sido usado na catedral carolíngia de Metz e constitui um precioso registro das práticas e dos apetrechos litúrgicos utilizados na época. No século XVI, as placas foram colocadas de volta no manuscrito sobre veludo verde e as bordas cobertas com um revestimento de prata adornado com folhas de acanto."

sábado, 23 de junho de 2012

A Beleza da Liturgia Mozárabe descrita por um cronista muçulmano

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No século XI grande parte da Península Ibérica estava sob dominação muçulmana. O cronista Almakkari, relata um episódio dessa época: um chanceler de Abd-er-Rahman V, Califa de Córdoba, foi a uma igreja de Córdoba para observar a celebração de uma missa. Naquela época a Liturgia seguia o rito conhecido como Hispano-Moçárabe. Diz o cronista que o dito chanceler ficou encantado com a beleza da celebração:

"[O chanceler] a viu [a igreja] coberta com ramos de murta e suntuosamente decorada enquanto o som dos sinos encantava seu ouvido e o esplendor dos círios deslumbrava seus olhos. Deteve-se relutantemente fascinado com a visão da majestade e da alegria sagrada que emanava do recinto; em seguida, recordou com admiração a entrada do oficiante e dos outros adoradores de Jesus Cristo, revestidos de admiráveis ornamentos; o aroma do velho vinho que os ministros vertiam sobre o cálice, onde o sacerdote molhava seus lábios puros; o modesto vestuário e a beleza dos meninos e adolescentes que ajudavam ao lado do altar; a recitação solene dos salmos e das sagradas orações, todos os ritos, em suma, dessa cerimônia; a devoção e o gozo solene com que se celebrava e o fervor do povo cristão..." (Citado em FONTAINE, Jacques. La España Románica 10. El Mozárabe, p. 45. Extraído de: http://www.arquired.es/users/mrgreyes/ermita/index.htm )
*Detalhe de uma miniatura do Libro de los Testamentos da Catedral de Oviedo, c. 1125. Na ilustração, que representa uma Missa sendo celebrada por um bispo auxiliado por um acólito e um diácono, podemos ter uma idéia dos ornamentos litúrgicos do Rito Moçárabe: O altar, decorado somente com panos bordados e coloridos, é iluminado por lamparinas que pendem do teto. O bispo veste alva, dalmática e casula; o diácono veste uma túnica colorida (semelhante as vestes usadas atualmente pelos acólitos e diáconos no rito bizantino) e uma estola pendurada sobre o ombro esquerdo, tal como ainda em uso entre os bizantinos. O diácono está segurando um livro, provavelmente uma espécie de missal, e o báculo episcopal. O acólito está levando ao altar os vasos litúrgicos. Provavelmente esta pintura representa o momento do Ofertório.

terça-feira, 13 de março de 2012

Rito dominicano em Nova York

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Via New Liturgical Movement:

Cantada pelo Pe. Austin Dominic Litke, OP, em honra de Santo Tomás de Aquino na Igreja de São Vicente Ferrer, Nova York, EUA.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

As vestimentas de Diáconos e Subdiáconos no Rito Dominicano tradicional

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Publicamos em primeira mão a tradução para o português deste excelente texto que nos conta um pouco da tradição litúrgica dominicana, em particular de seus diáconos e subdiáconos.

Fonte: Dominican Liturgy
Tradução: Salvem a Liturgia
Um comentário em um post muito antigo e uma discussão das tradições dominicanas com os irmãos em nossa Casa de Estudos da Província Dominicana Ocidental quanto à paramentação do diácono levaram a esta visão geral sobre os diáconos e subdiáconos e suas vestes no Rito Dominicano tradicional.

SOBRE AS VESTIMENTAS DO DIÁCONO E SUBDIÁCONO

1. No Rito Dominicano tradicional, quais são as vestimentas apropriadas para um diácono e subdiácono?

Como o sacerdote, o diácono e subdiácono vestem o amito, a alva, o cíngulo e o manípulo. Em certas ocasiões, eles vestem também a dalmática. O Rito Dominicano não segue a prática do Rito Romano de distinguir a dalmática (usada pelo diácono) da tunicela (usada pelo subdiácono), na qual a dalmática possui duas barras entre as claves (faixas verticais) e a tunicela apenas uma. Embora esta distinção seja muitas vezes vista nas Missas Dominicanas (vestimentas romanas são mais freqüentemente disponíveis), propriamente não há distinção de estilo ou nome entre as dalmáticas do diácono e do subdiácono. Você pode ver, ao lado, uma foto de um diácono e subdiácono no Evangelho, durante uma missa de Páscoa nos meados dos anos 1950, no Priorado São Alberto, o Grande, em Oakland. Ambas as dalmáticas são idênticos (e sem as tradicionais claves).

2. Em que dias o diácono e o subdiácono vestem a dalmática na Missa?

De acordo com o Caeremoniale S.O.P.(1869), n. 548-50, o diácono e subdiácono vestem suas dalmáticas:

a. Em todos os domingos;

b. Em todas as Festas com Três Leituras [1] e acima (o que, após a reforma de 1960 no calendário, significam todas as festas de 3ª Classe e acima);

c. Nas Missas Votivas em que a festa daquele dia, de acordo com o calendário, é de 3ª Classe ou acima;

d. Nas férias das Oitavas, quando a Missa do dia é própria da Oitava (após 1960, isto inclui apenas as Oitavas do Natal, da Páscoa e de Pentecostes).

e. Em Missas de Réquiem no dia da morte, sepultamento, aniversário, ou (pro causa sollemnitatis) quando rezada por uma figura pública. Já se o Réquiem substitui a missa conventual, então a dalmática é usada apenas se a missa própria do dia a exigir. Do contrário, não.

f. Antes de 1923, as dalmáticas eram também vestidas em Missas Votivas especiais da Ordem que substituíam as férias da semana. As reformas no calendário de S. Pio X aboliram estas missas votivas especiais de modo a restaurar a celebração das férias.

De outra maneira, o diácono e subdiácono vestem apenas o amito, a alva, o cíngulo, o manípulo, e, para o diácono, a estola. Os padres, é claro, sempre vestem a casula na missa. Desta forma, a dalmática não é usada: em férias que não sejam parte de uma oitava, em vigílias “verdadeiras” (i.e. não as missas antecipadas de um domingo ou dia festivo, mas a missa do dia que antecede a Ascenção, Pentecostes, São João Batista, São Pedro e São Paulo, São Lourenço, Assunção, e o Natal), e as Têmporas. Nem os nossos diáconos e subdiáconos vestem dalmáticas ou casulas plicadas [2] na Sexta-Feira da Paixão: neste dia eles vestem apenas amito, alva, cíngulo, manípulo, e, para a o diácono, a estola, apesar do prior (ou do padre) vestir o pluvial nesta celebração (Caermon. (1869), n. 1483).

3. Em que outros tempos se veste a dalmática?

De acordo com o Caeremoniale (1869), n. 551:

a. Em procissões nas quais o padre veste o pluvial.

b. Quando se canta a Genealogia e o Último Discurso de Jesus.

c. Ao assistir um sacerdote vestindo o pluvial durante a Bênção do Santíssimo Sacramento.

Deve-se notar que, no Rito Dominicano, o padre não veste o pluvial para o Asperges, a menos que uma procissão dos irmãos a preceda (a entrada dos ministros durante a Missa não é tal procissão). Durante o Asperges, contudo, todos os três ministros vestem o manípulo. Note que isto é diferente da prática romana. Eu incluí uma foto de ministros dominicanos durante o Asperges (desculpem pela qualidade) para ilustrar nossa prática. Veja também que estes ministros vestem alvas decoradas com frisos, outra tradição dominicana. Também se pode acrescentar que a prática dominicana é estar com o manípulo quando se prega. Apesar de que, na Província Ocidental, era muito comum o padre remover a casula e colocá-la sobre o altar antes da prédica. Eu suspeito que isto seja porque os dominicanos geralmente prendem o manípulo na manga da alva, o que o torna mais difícil de ser removido; assim, removiam a casula em seu lugar. A prática corrente, todavia, na Província Ocidental é de não se remover nem a casula nem o manípulo durante a pregação nas missas de Rito Dominicano.

4. Qual seria o significado disso para os dominicanos que celebram o Rito Romano moderno?

Estritamente falando, nada é exigido por estas antigas normas. Mas os novos livros litúrgicos romanos deixam muita liberdade para a paramentação do diácono. Embora as vestimentas próprias do diácono no novo rito incluam a dalmática, ela não é exigida (diferentemente da casula para os padres celebrantes). Então é possível adaptar algumas das práticas dominicanas antigas.

Usando o princípio da solenidade progressiva, seria possível, ou até mesmo preferível, para os diáconos dominicanos deixarem a dalmática de lado nas missas feriais. Isto era, de fato, a prática quando eu era um estudante na década de 1970 e 1980 em nossa Casa de Estudos em Oakland, CA. Mas se, em uma clara violação das rubricas, os diáconos não vestem amito, alva e cíngulo, mas apenas seu hábito branco (uma prática que aparenta estar morrendo na Província Ocidental, embora seja freqüentemente vista em outros lugares), então, certamente, eles devem usar a dalmática nas missas feriais para tornar sua infração menos visível para a congregação.


SOBRE OS SUBDIÁCONOS

O renascimento do Rito Dominicano tradicional em algumas províncias desde o [motu proprio] Summorum Pontificum, juntamente com seu uso continuado – e agora em expansão – em nossa Província Dominicana Ocidental, levanta algumas questões sobre o ofício e função do subdiácono. Eu tentarei respondê-las.

1. Quem podia servir como subdiácono no Rito Dominicano tradicional, anterior ao Vaticano II?

Obviamente, antes da reforma dos ritos de ordenação, qualquer frade ordenado ao subdiaconato poderia servir; assim como os padres e diáconos, previamente ordenados subdiáconos. Agora, o Caeremoniale S.O.P. (1869), n. 864, é bem explícito, e cita o Capítulo Geral de Bologna (1564) nisso: “Ninguém pode usar vestimentas litúrgicas e cantar solenemente o Evangelho se não tiver sido, pelo menos, promovido ao grau de subdiácono”. Como em uma Missa Cantada a Epístola sempre pôde ser cantada “por qualquer clérigo” (Bonniwell, Ceremonial, p. 141) – o que hoje em dia significaria qualquer irmão clerical, uma vez que a tonsura não é mais dada -, esta legislação se refere apenas à Epístola em uma Missa Solene. Então o que era e é comumente chamado de “falso subdiácono” (i.e. um homem, normalmente um clérigo, que se vestia como subdiácono e cumpria essa função) era claramente proibido. Embora o Caeremoniale chame esta prática de “abuso”, não era incomum na Ordem [Dominicana], antes do Vaticano II, que os irmãos leigos servissem como “subdiáconos” nas Missas Solenes. Na verdade, um irmão cooperador idoso (leigo) me disse que ele atuava regularmente como subdiácono nas missões e em paróquias, quando não havia padre disponível. Uma vez que, na igreja pré-conciliar, os “falsos subdiáconos” eram tolerados no Rito Romano [3], este costume parece ter sido adotado comumente também pelos dominicanos.

2. Quem pode servir como subdiácono no Rito Dominicano tradicional hoje?

Quando a Missa Solene no Rito Dominicano é celebrada hoje, um diácono ou padre poderia atuar como subdiácono, uma vez que os dois são clérigos (desde suas ordenações ao diaconato) e foram ordenados a um grau acima do subdiaconato (veja acima a norma do Capítulo Geral). Esta é a prática comum em nossa Província Ocidental. O que deve ser feito se não há padre ou diácono disponível ou se os padres e diáconos presentes não podem, por uma razão ou outra, realizar as funções de subdiácono? Hoje, os únicos ministérios dados aos padres dominicanos antes da ordenação ao diaconato são o leitorado e o acolitato (o qual pode ser chamado de “subdiaconato”, se a conferência episcopal desejar). Nenhum dos dois é canonicamente “clérigo”, porque o estado clerical agora começa com o diaconato (mesmo para aqueles que receberam a tonsura nos institutos religiosos para os quais os ritos são conferidos segundo os livros antigos).

Como anteriormente ao Vaticano II, quando se apresenta um problema para o qual nossos livros silenciam, nos voltamos à prática do Rito Romano, como rito-mãe. Para a forma extraordinária do Rito Romano, uma carta da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei (Prot. No. 24/92, 7 de junho de 1993) provê que um acólito instituído (usando o novo Rito Romano) pode servir como subdiácono, mas não deve vestir o manípulo. A justificação dada para esta decisão é que, anteriormente, permitia-se que alguém que recebeu a ordem menor do acolitato servisse, sem o manípulo, na função litúrgica de subdiácono, quando necessário. Eu não estou seguro de que esta restrição no uso do manípulo estava correta, mas isso é outro assunto. Esta carta representa a lei litúrgica corrente para a forma extraordinária do Rito Romano.

Havia, antigamente, duas outras restrições que os homens servindo como subdiáconos deveriam cumprir, além de não vestir o manípulo. Eles não poderiam colocar água no cálice e nem secar os vasos. O diácono teria que fazer estas coisas. A [comissão] Ecclesia Dei omitiu estas restrições. Foi um descuido? Provavelmente não. Uma vez que um acólito instituído moderno pode purificar os vasos (Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 279), ele pode certamente secá-los. E hoje, quando existem muitos cálices extras para os concelebrantes, eles podem ser preparados com água e vinho até mesmo por um sacristão antes da Missa – a prática atual na Basílica de S. Pedro, em Roma (“On Multiple Calices,” Zenit.org, 9 de outubro de 2007). Além disso, o dito legal “quem cala consente” leva à conclusão de que quando a Ecclesia Dei escolheu listar apenas uma restrição ao acólito que atua como subdiácono, quis implicar que quaisquer outras restrições antigas não são mais vinculantes. E com boa razão!

Pode um frade que ainda não recebeu os ministérios do acolitato e do leitorado, ou apenas recebeu o ministério do leitorado, ou, ainda mais, pode um simples leigo atuar como subdiácono em uma Missa Solene no Rito Dominicano? Eu diria que não, apesar dos irmãos leigos terem feito isto antes do Vaticano II. A resposta da Ecclesia Dei citada acima permite que sirva como subdiácono apenas aqueles homens que foram, por uma razão ou outra, instituídos no ministério do acolitato moderno. Penso que não preciso informar aos leitores que isto não significa ser delegado como Ministro Extraordinário da Comunhão ou ter sido encarregado como coroinha em uma paróquia. Eu acrescentaria que a instituição formal de leitores e acólitos no novo rito é permanente: ela não “desaparece” se o seminarista ou frade que a recebeu deixa o seminário ou a ordem antes de fazer os votos finais.

Esperamos que, além da Missae Cantatae cantada semanalmente, mensalmente ou anualmente - em nossas paróquias dominicanas da Província Ocidental -, a Missa Solene completa possa tornar-se um evento mais regular.

[1] NdT: Das Matinas, Liturgia das Horas.
[2] NdT: Casulas em que a parte inferior da frente é dobrada para dentro, não passando da cintura.
[3] NdT: pelo que me consta, ainda são tolerados; pode-se vê-los usualmente, por exemplo, nas paróquias do Instituto de Cristo Rei e Sumo Sacerdote Instituto de Cristo Rei e Sumo Sacerdote na Itália.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Fotos e relato da Missa no rito ambrosiano tradicional (forma extraordinária do rito ambrosiano), por ocasião da Circuncisão do Senhor – por Juliana F. Ribeiro Lima

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Postagem da amiga e leitora Juliana F. Ribeiro Lima, tirado de seu blog, com autorização:

Hoje, 1 de janeiro de 2012, fui na missa com 2 motivos: o primeiro, claro, a festa litúrgica da Circuncisão do Senhor e de N. Sra. Mãe de Deus. E o segundo, o preceito dominical. Se cumpriram 2 coisas com uma missa só esse ano, hehe.

Estando em Milão, fui à missa no Rito Ambrosiano. Mas como saíram reformando até o Ambrosiano, procurei missa aqui com o rito ambrosiano tradicional. Meu hotel perto da Milano Centrale - de um lado do Duomo, ao norte - e essa igreja onde é celebrada a missa é do outro lado do Duomo de Milão.

Não fosse meu habito de ir à missa no Vetus Ordo e - mais ainda - conhecer orações básicas em latim, saber me virar sem o missal - sim, ele ficou no Brasil! - e eu estaria em maus, quer dizer, péssimos lençóis. Eu cheguei cedo e esperei, pouco tempo depois abrem a igreja e eis que vejo uma linda igreja, simples, mas acolhedora.

Foram chegando os fiéis costumeiros dali. Logo começaram o terço. Em latim! O Pater, Ave Maria e o Gloria. Um rapaz anunciava os mistérios gloriosos - os de hoje, domingo, claro - em italiano e rezamos o terço em latim. Muito legal. Achei que iria ficar de fora por não saber italiano. Mas rezando em latim, tudo muda... :)

A ordem inclusive da missa é diferente. O credo não se dá logo após a homilia, como para nós, do rito Romano. Ele começa após o ofertório ter se iniciado. E é após o Credo que se incensam os fiéis também. Tudo no "meio" do ofertório.

Outro detalhe interessante: o Kyrie não se diz inteiro logo antes do Glória. Ele COMEÇA a ser dito depois do Gloria. Mas ele é dividido em 3 partes. Não são 3 vezes que falamos também "Kyrie Eleison, Kyrie Eleison, Kyrie Eleison", "Christe Eleison, Christe Eleison, Christe Eleison"e por fim "Kyrie Eleison, Kyrie Eleison, Kyrie Eleison"? Então, mas eles não usam o modo "Christe Eleison" e dizem as tres séries de Kyrie Eleison em momentos distintos na missa. O primeiro é DEPOIS - e não antes, como nós - do Glória. A segunda parte do Kyrie se diz no início do Ofertório, quando o padre vira e diz "Dominus vobiscum e nós respondemos "Et cum spirito tuo" e logo emendamos a segunda parte do Kyrie. E a terceira é após as abluções, logo antes do padre dar a bênção final.

Outro detalhe: as orações ao pé do altar são muito breves. Tem o comecinho do salmo 42, mas não se reza ele todo, como nós. O "Introibo ad altarde Dei, ad Deum qui laetificat juventutem meam" está lá, mas dali o sacerdote chama os fiéis a confessarem seus pecados e ele começa o confiteor, seguido pelos fiéis, tal como nós no Rito Romano. Confiteor, que claro, tem Sto. Ambrósio entre os santos a quem invocamos. Claro, né? :P

O "Adjutorium nostrum in Nomine Domine" que falamos, vem no Rito Ambrosiano APÓS o confiteor dos fiéis. E eles ajuntam: "Sit nomen Domini Benedictum. Ex hoc nunc et usque in saeculum", sequencia que nós só pronunciamos no fim da missa com o bispo. Pra eles é normal, entre as orações iniciais.

Enfim, uma missa linda e que muito me chamou a atenção nos detalhes. Pensar que Sto. Ambrósio compôs esse rito, muitos e muitos séculos antes de S. Pio V fazer a reforma nos missais me deu uma sensação de estar bebendo de algo muito antigo e perene na Igreja, mas ao mesmo tempo, vejo que o que foi dado no missal tridentino pouca diferença tinha de um missal tão antigo quanto o de Sto. Ambrósio, o que mostra a linda unidade litúrgica da Igrejas por todos os séculos.

Algumas fotos dessa missa linda para vocês verem.

Linda igrejinha, viu?

Credência

Que graça e que mimo as toalhas da mesa de comunhão.

Procissão de entrada

Confiteor do sacerdote

Benzendo o incenso

Incensando o altar

Incensando o Evangelho

Homilia

Ofertório

Benzendo o incenso

Incensando as ofertas

Acólito incensando o padre

"Et incarnatus est" No Credo, de joelhos.

Incensando o povo

Canon

Lavabo - quase na hora da consagração

Elevação da hóstia consagrada

Elevação do cálice

Segundo confiteor

"Ecce Agnus Dei..."

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Benção final

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O canto mozárabe

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Do blog do amigo Thiago de Moraes:

 

Num tópico sobre o rito moçárabe que está se desenvolvendo no Orkut, traduzi alguns textos sobre o canto moçarábico, e agora reúno o material aqui.

 

Inicialmente, uma parte de um dos capítulos do livro A Treasury of Early Music. Masterworks of the Middle Ages, the Renaissance and Baroque Era. Compiled and Edited, with Notes by Car Parrish (Dover Publications, INC):

 

A liturgia cristã na Espanha teve uma história estranha, e o antigo canto hispânico permanece praticamente um livro fechado até hoje em dia. Até mesmo o nome dado ao canto – moçarábico – é insatisfatório para muitos estudiosos; ele é derivado de “moçárabe”, isto é, dos cristãos que foram tolerados durante o governo mouro (do oitavo ao décimo-primeiro século) em Aragão, Castela e Leão. Só que o rito, em si mesmo, não mostra nenhum traço de influência árabe. O termo “visigótico” também é aplicado a esse rito e seu canto, em referência às tribos que conquistaram a Espanha vindas do Norte da Europa no quinto século; mas é provável que o canto seja mais antigo, já que a Espanha era cristã antes dos visigodos. A liturgia e seu canto foram supressos no décimo-primeiro século quando o rito romano foi introduzido em Aragão e Castela; em Toledo o rito moçarábico continuou a ser celebrado, mas o canto teve uma história diferente.

A supressão da liturgia moçarábica no final do décimo-primeiro ocorreu num tempo em que a notação neumática rapidamente se tornou comum no Ocidente. Os cantos do rito moçarábico não foram transcritos nesse tipo de notação pelos que sabiam as melodias tradicionais e, conseqüentemente, mesmo com muitos manuscritos ainda existindo, a notação no qual foram escritos resistiu a todas as tentativas de decifração.

Algumas dessas melodias jazem enterradas em livros litúrgicos escritos no décimo-sexto século. Nessa época foi feito um esforço para se restaurar o rito moçarábico; contudo, quando os estudiosos escreveram as melodias, impuseram a elas um caráter rítmico estranho ao original. Pesquisadores atuais restauraram o canto colocando melodias segundo o que eles consideram o ritmo original. 

 

O capítulo continua falando de maneira específica sobre o canto Gaudete Populi, que era um dos oito cantos variáveis usados no rito moçárabe (chamados Ad accedentes - para a aproximação) durante a comunhão dos fiéis (o Gaudete Populi era usado na Páscoa), mas eu não vou postar a minha tradução dessa parte do artigo porque não tenho como escanear a página do canto com sua notação (moderna).

 

Agora, a tradução e adaptação de um verbete retirado da New Catholic Encyclopedia (1967):

 

O repertório de cantos usados na liturgia visigótica da Igreja medieval na Espanha é conhecido como cantos do rito moçarábico. Esse estilo de canto chegou à sua maturidade entre 550 e 650, e foi fixado no tempo da invasão árabe (771). Ele é chamado moçarábico porque o termo descreve um cristão vivendo sobre a dominação árabe ou islâmica (seus manuscritos principais datam dessa época). Os códices mais importantes da liturgia visigótica-moçárabe que chegaram até nós estão preservados na catedral de Toledo; na Abadia de São Domingos, em Silos; na Abadia de São Milão, em Cogolla; na catedral de Leão; e na Universidade de Santiago, em Compostela. Esses códices, copiados nos séculos X e XI, possuem quase todo o repertório musical da igreja visigótica de Toledo, que data dos séculos VI, VII e VIII. O mais precioso deles é o Antifonário de Leão. Segundo os estudiosos, ele é uma cópia do começo do século X do Manuscrito do Rei Wamba escrito para a paróquia toledana de Santa Leocádia em 672. O antifonário começa com a festa de Santo Ascisclus (17 de novembro) e abarca os ofícios e missas de todo o ano eclesiástico.


Notação

O canto moçarábico tinha sua própria notação musical, mas a que está nos códices é ilegível, já que nenhum deles foi copiado sob a orientação de especialistas em música. Enquanto os códices gregorianos sem linhas foram transcritos em códices com linhas no século XI, os músicos espanhóis não fizeram o mesmo com suas melodias. Em conseqüência, as neumas visigóticas-moçárabes são legíveis apenas na extensão do número de suas notas. Não há meio de determinar as relações entre a altura tonal e as notas de uma neuma, nem sua conexão melódica com as neumas precedentes e seguintes. O tesouro melódico contido nas neumas é indecifrável sem a ajuda da posterior notação diastemática. E essa notação só foi achada em 20 das melodias preservadas. Em 12 fólios do manuscrito do Liber Ordinum do mosteiro de São Milão um sistema de notação da Aquitânea foi colocado sobre neumas moçarábicas apagadas. A comparação desses fólios com uma cópia do manuscrito que está no mosteiro de São Domingos em Silos, e que possui as neumas originais, serviu de chave na decifração das poucas melodias que conhecemos hoje. Tais melodias mostram que o canto moçarábico era monódico, com ritmo livre e com modalidade igual a do canto gregoriano. Elas exemplificam um estilo silábico, neumático e melismático.

Existem duas classes de escrita na notação moçárabe: a horizontal e a vertical. A escrita horizontal encontra-se exclusivamente nos códices de Toledo e de maneira muito fragmentada no códice português de Coimbra. Nesses códices as neumas são inclinadas para a direita. O códice de Silos e o Antifonário de Leão são escritos verticalmente. Todas as duas formas, entretanto, se originaram no scriptorium de Toledo.

Difusão

Através dos esforços de Carlos Magno na promulgação da Lex Romana, a França sacrificou sua própria liturgia e seu canto pelo romano. O efeito desse edito na Espanha foi paralelo à reconquista. A Lex Romana não triunfou em Aragão até 1071, e obteve sucesso em Navarra, Castela e Leão apenas em 1076. O rito moçárabe foi finalmente supresso por Roma em 1089, exceto em seis paróquias de Toledo. Ele continuou com muita dificuldade, tornando-se praticamente extinto até que o Cardeal Ximénes de Cisneros se tornou arcebispo. Ele recebeu uma concessão do Papa Júlio II em 1508 para fundar a capela moçarábica de Corpus Christi na catedral de Toledo. Os livros editados pelo Cardeal Cisneros preservaram algumas das melodias moçárabes numa forma corrupta, mas, mesmo assim, os especialistas os consideram de pouco valor em comparação com o tesouro indecifrável das melodias originais.

 

Exemplos de cantos moçárabes: 

 

Beatus vir:

Gloria (retirado do Antifonário de Leão):

Inlatio e Sanctus (equivale ao Prefácio no rito gregoriano):

 

A Inlatio (ou Illatio) moçarábica corresponde ao Prefácio do rito romano; D. Fernand Cabrol no seu A Missa dos Ritos Ocidentais diz o seguinte sobre ela:

 

(…) quase toda Missa tinha a sua própria; algumas delas compreendiam várias colunas de texto, e se fossem cantadas isso levaria pelos menos meia hora. Atualmente tenta-se descobrir quem foram seus autores. Podemos dizer, com segurança, que elas formam uma coleção dogmática essencial para o estudo da história da teologia na Espanha medieval, mas, também temos de confessar, esse estudo ainda é muito incipiente. São páginas que honram o conhecimento, a profundidade e a cultura dos teólogos espanhóis dos séculos V ao IX.

 

Na Catholic Encyclopedia (1911) lemos:

 

llatio ou Inlatio. Essa parte é chamada Prefácio no rito romano e Contestatio ou Immolatio no rito galicano. Com o Pós-Sanctus forma a quinta oração de Santo Isidoro. Exsitem Illationes própria para cada Missa. A forma é similar a do Prefácio romano, só que mais longa e difusa, como no rito galicano. Geralmente é precedida de um diálogo maior que o normal (…) A Illatio pode terminar de muitas maneiras, mas sempre fazendo referência aos anjos que levam ao Sanctus.

A Inlatio que postei (Inlatio da festa de São Tiago, seguida pelo Sanctus) tem uma curiosa referência a uma tradição medieval, registrada na Legenda Áurea, que conta que São Tiago curou um paralítico no caminho para sua execução, o que levou um dos executores, um escriba chamado Josias, a se converter prontamente e ser levado ao martírio junto com ele:

 

(…) per Jesum Christum Filium tuum, Dominum nostrum: in cujus nomine electus Jacobus, cum ad passionem traheretur, paraliticum ad se clamentem curavit, atque hoc miraculo cor illudentis sibi ita compulsit, ut cum sacramentis instinctum fidei faceret ad gloriam pervenire martyrii…

 

Speravit:

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Fotos: Missa em rito carmelita no Rio

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Celebrada pelo Fr. Tiago de São José, ECarm, na Igreja do Carmo da Antiga Sé, no Rio de Janeiro, no dia 17 de novembro passado, por ocasião do II Encontro Summorum Pontificum.

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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Serviço de nove lições e cânticos de Natal

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O “Festival of Nine Lessons & Carols” é uma tradição anglicana, mas que penetrou em paróquias luteranas e católicas da Inglaterra e dos Estados Unidos, por uma natural e saudável influência. Como a liturgia dos protestantes, excetuando-se setores da High Church, é mais livre, comum se tornou que, na véspera de Natal, se executasse esse tipo de culto em que nove leituras (lições) da Sagrada Escritura são lidas, alternando-as com hinos e cânticos natalinos. 

Surgiu em 1880, com Dom Edward White Benson, então bispo anglicano de Truro, na Cornualha, Inglaterra, e, mais tarde, arcebispo de Canterbury.

Hoje é uma tradição muito forte no King’s College, na Universidade de Cambridge, que transmite o culto pela BBC de Londres.

O rito utilizado em 2008, segundo a Wikipedia, foi o que segue:
Prelúdio ao órgão
Hino processional: "Once in Royal David's City" – letra de Cecil Frances Humphreys Alexander; melodia de H.J. Gauntlett, harmonizada por H.J. Gauntlett e A.H. Mann


Oração Inicial
Cântico: "If Ye would Hear the Angels Sing" – D. Greenwell e P. Tranchell
Primeira Lição: Gn 3,8-15;17-19
Cântico :"Remember, O Thou Man" – letra do séc. XVI; música de Thomas Ravenscroft
Cântico: "Adam lay ybounden" – letra do séc. XV; música de Boris Ord


Segunda Lição: Gn 22,15-18
Cântico: "Angels from the Realms of Glory" – letra de James Montgomery; música original de um antigo tom francês, com arranjo de Philip S. Ledger
Cântico: "In Dulci Jubilo" – letra alemã do séc. XIV; música por Hieronymus Praetorius
Terceira Lição: Is 9,2;6-7
Cântico : "Nowell Sing We Now All and Some" – letra e música medievais, editadas por John Stevens
Hino: "Unto Us is Born a Son" – letra latina do séc. XV, traduzida por G.R. Woodward; música encontrada no Piae Cantiones e arranjada por David V. Willcocks
Quarta Lição: Is 11,1-3a;4a;6-9
Cântico: "The Lamb" – letra de William Blake; música de John Tavener
Cântico: "A Spotless Rose is Blowing" – letra alemã do séc. XV, traduzida por C. Winkworth; música de Philip S. Ledger
Quinta Lição: Lc 1,26-35;38
Cântico: "I Sing of a Maiden" – letra do séc. XV; música de Lennox Berkeley


Cântico: "The Night when She First Gave Birth" ("Mary") – letra de Bertolt Brecht, traduzida por Michael Hamburger; música de Dominic Muldowney
Sexta Lição: Lc 2,1;3-7
Cântico: "Sweet Baby, Sleep! What Ails My Dear?" ("Wither's Rocking Hymn)" – letra de George Wither; música de Ralph Vaughan Williams
Cântico: "What Sweeter Music can We Bring" – letra de Robert Herrick; música de John Rutter
Sétima Lição: Lc 2,8-16
Cântico: "Infant Holy, Infant Lowly" – letra polonesa tradicional, traduzida por Edith M.G. Reed; música arranjada por Stephen Cleobury
Hino: "God Rest You Merry, Gentlemen" – tradicional inglês; arranjos por David V. Willcocks
Oitava Lição: Mt 2,1-12
Cântico: "Illuminare Jerusalem" – letra adaptada do manuscrito de Bannatyne por John e Winifred MacQueen, A Choice of Scottish Verse, 1470–1570 (1972); música de Judith Weir
Cântico: "Glory, Alleluia to the Christ Child" – letra do séc. XVII; música de A. Bullard
Nona Lição: Jo 1,1-14
Hino: "O Come, All Ye Faithful" ("Adeste Fideles") – letra latina do séc. XVIII, traduzida por Frederick Oakeley; melodia de John Francis Wade, arranjada por Stephen Cleobury
Coleta
Bênção
Hino: "Hark! The Herald Angels Sing" – letra de Charles Wesley e George Whitefield; música de Felix Mendelssohn


Órgão: "In Dulci Jubilo" (BWV 729) de Johann Sebastian Bach, e "Dieu Parmi Nous" de Olivier Messiaen
Pós-lúdio de órgão
As leituras tradicionais são essas e perde-se o sentido em mudá-las, mas os cânticos e hinos podem ser reformulados. A conferência episcopal norte-americana apresenta uma sugestão de rito: http://www.nccbuscc.org/advent/lessons.shtml

Em um contexto católico, a véspera de Natal pede a liturgia da Missa da Vigília, a Missa da Noite (ou “Missa do Galo”), ou a recitação das I Vésperas do Natal ou do Ofício de Leituras. O serviço de nove lições e cânticos de Natal pode ser feito, então, no Advento, reforçando o sentido de preparação à Natividade deste período.

Embora a tradição seja mais anglo-saxã, nada impede que no Brasil ou em Portugal, sem perder nossos próprios costumes piedosos, possamos implementar esse serviço, até como forma de aproximar os anglicanos e garantir a unidade segundo a Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus.

Pode-se utilizar esse serviço de duas formas: litúrgica ou para-litúrgica.

Modo litúrgico

Como o próprio nome diz, trata-se de uma liturgia. Como tal, é uma oração oficial da Igreja, e deve-se seguir as rubricas. Ora, alguns perguntarão, se o serviço é originado no protestantismo, não constituindo uma liturgia católica, eles não seria, entre nós, uma mera devoção? E, continuam, se é devoção, como será liturgia?

Ocorre que há um rito litúrgico que permite a introdução, em dado momento, de atos de piedade individual: a Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento. Após a Exposição, e antes da Bênção e da Reposição, há o período da adoração, que, segundo as rubricas do Ritual Romano, pode ser feita de modo livre, com orações, silêncio e cânticos. É aqui que muitos rezam o terço ou fazem outros atos de devoção, bem como combinam com a liturgia de Vésperas.

Para celebrar o festival de nove lições de um modo litúrgico, basta introduzi-lo nesta liturgia da Exposição e Bênção, que permite, na adoração, que se rezem atos de piedade pessoais.

Após a Exposição, antes da Bênção, pode-se adaptar o serviço acima descrito, do King’s College, escolhendo as canções e hinos natalinos mais apropriados, em latim ou vernáculo, gregorianos, polifônicos e populares, e intercalar com as nove leituras já elencadas. A coleta e a bênção são as próprias da Exposição.

O celebrante usará incenso e os paramentos específicos da Exposição e Bênção do Santíssimo: alva, amito e cíngulo (ou veste talar com sobrepeliz), com a estola, na Exposição (podendo já portar o pluvial), e, na adoração, Bênção e Exposição, o mesmo e mais o pluvial e, quando tocar o ostensório, o véu umeral. Se for exposto o Santíssimo no cibório, não é preciso usar pluvial, e o incenso não é obrigatório.

Modo para-litúrgico

Uma para-liturgia não é uma liturgia. Portanto, não é ato oficial, não segue rubricas. É, todavia, inspirado na liturgia, neste caso, na liturgia anglicana.

Pode-se fazer exatamente como descrito no rito do King’s College, mudando-se as músicas, se for melhor assim. Há um vasto repertório de cantos em latim e português para a ocasião.

Começa-se com uma procissão em direção ao ambão, enquanto se toca um prelúdio no órgão, e depois um hino. Faz-se uma oração inicial, composta para a ocasião, ou espontânea, ou retirada de um livro litúrgico anglicano, ou mesmo da liturgia católica (Missal ou breviário). O mesmo em relação à oração final.

O padre celebrante, por não se tratar de liturgia, não é obrigado a usar paramentos, mas pode envergar a veste tradicional para pregação: veste talar, sobrepeliz e estola roxa (por conta do Advento). Não deve usar pluvial, dado que é reservado para ocasiões litúrgicas.

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Esse costume é muito interessante, e servirá até mesmo para treinar bons corais. Temos tempo para ensaiar nossos cantores?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Bento XVI celebra Vésperas em rito cartuxo

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Visita do Papa aos cartuxos de Serra San Bruno, na Calábria, onde presidiu as Vésperas, solenemente.

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