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domingo, 27 de fevereiro de 2011

A natureza sacrifical da Missa à luz do Antigo Testamento

Sabemos que os ritos judaicos do Antigo Testamento simbolizavam as realidades vindouras da Nova Aliança. Assim, Cristo é chamado de Cordeiro pascal. Para entender bem isso, é preciso voltar aos tempos do Antigo Testamento. Desde os tempos antigos que os homes dos diversos povos oferecem sacrifícios (cruentos ou não) às suas divindades, para obterem favores e para reconhecerem o senhorio das mesmas divindades. Um tipo de sacrifício bastante comum era o sacrifício de animais, dado muito desses povos serem essencialmente pastoris: o oferecimento de parte do rebanho significa o reconhecimento de que deviam aqueles bens que os sustentavam a Deus.

Entre os hebreus, o sacrifício de cordeiros, bodes, touros, etc, já era comum na época dos Patriarcas. Contudo, após o Exôdo, Deus por meio da revelação instituiu sacrifícios, ritos e um sacerdócio regulamentado e institucionalizado. A razão é que estes ritos simbolizariam melhor as realidades sobrenaturais. No sacrifício dos animais, o homem “passava” seus pecados para o animal a ser sacrificado, simbolizando que seus pecados deviam “morrer” junto com a vítima imolada no altar. Mas certamente o rito mais significativo era o do Cordeiro Pascal. O Cordeiro pascal era sacrificado e sua carne deveria ser consumida completamente. Nos ritos antigos, para que o fiel pudesse se unir, entrar em comunhão com a oferenda do altar, deveria comer da carne oferecida. É nesse sentido que São Paulo advertia sobre o fator pecaminoso de se comer carnes oferecidas aos ídolos, pois seria como comungar de uma oferenda a um falso deus. O Cordeiro pascal representava a libertação do povo de Israel da escravidão do Egito e relembrava a Aliança de Deus com o povo eleito.


A Missa é a Páscoa verdadeira e definitiva, não simbólica como a Páscoa hebraica. Pelo sacrifício pascal de Cristo fomos libertos da escravidão e corrupção do pecado. Tal como o animal do Antigo Testamento, Cristo "tomou sobre si nossos pecados" para que com sua morte na Cruz nos redimisse de nossas culpas. Hoje em dia muitas vezes lembra-se apenas do caráter de Ceia da Missa. Fala-se muito da Última Ceia de Jesus com seus Apóstolos. De fato, ceando com seus apóstolos o Senhor instituiu a Missa, o sacrifício da Nova e Eterna Aliança. Mas convém lembrarmos que não era uma ceia ordinária, uma refeição comum. Era uma ceia sagrada, um banquete sacrifical, todo regido por cerimônias especiais e atos sagrados e de culto. Se comemos da carne de Cristo, é para entrarmos em comunhão com a oferenda que foi sacrificada no altar. O aspecto mais importante da Missa é seu aspecto de sacrifício oferecido a Deus para seu louvor e ação de graças, pela nossa redenção e nossas necessidades (a comunhão eucarística é a forma com a qual nos unimos mais intensamente a esse sacrifício oferecido). O Cardeal Tomás de Vio Cayetano, OP, em seu tratado De Missa Sacrificio et Ritu adversus Lutheranos recorda que a natureza sacrifical da Eucaristia estão contidas nas próprias palavras do Salvador “meu corpo que é entregue por vós” e “meu sangue que será derramado por vós e por muitos”: Jesus não menciona apenas Seu Corpo e Seu Sangue, mas para que fim eles estão destinados, id est, o Sacrifício da nossa redenção.

O ofício do sacerdote consiste em oferecer sacrifícios. Se a Epístola aos Hebreus nos diz que Cristo continua exercendo seu sacerdócio, é claro que Ele o exerce especialmente por meio da Santa Missa, o memorial que perpetua seu sacrifício pascal, fazendo-nos participantes de seus frutos. Que possamos ao reconhecer a beleza do que simbolizavam os ritos do Antigo Testamento, contemplar a Beleza imensurável dos ritos e do Sacrifício que realiza as antigas promessas e os antigos símbolos com perfeição. Lembremos sempre de que a Missa é um sacrifício perfeito em que rendemos a Deus a adoração, a ação de graças e pela qual recebemos a redenção e as graças que necessitamos. Assim, lembremos de fazer do Sacrifício de Cristo oferecido pelas mãos dos sacerdotes da Igreja também o nosso sacrifício, unindo nossas necessidades, orações, louvores, agradecimentos, intenções e obras (enfim, toda nossa vida e todo nosso ser) a oferenda de Cristo para que nossa oferenda imperfeita seja santificada pelos méritos do Cristo, Cordeiro de Deus oferecido ao Pai na unidade do Espírito Santo.


Iluminura de uma edição francesa de 1410 do "Rationale Divinorum Officiorum" do Arcebispo Guillaume Durand (séc. XIII): A Imagem mostra uma missa sendo celebrada por um bispo e ao lado mostra alguns tipos de oeferendas sacrificais do Antigo Testamento, evidenciando que estas simbolizavam o Sacrifício perfeito da Eucaristia.

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