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sábado, 23 de julho de 2016

Da suposta inovação na Festa de Santa Maria Madalena

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Alexander A. Ivanov - Aparição de Jesus Cristo a Maria Madalena (1835)
Ontem (22) celebramos a festa litúrgica de Santa Maria Madalena, que passou recentemente por alterações em sua classificação litúrgica. A respeito desta mudança e da suposta inovação que ela representaria, traduzo trechos de um artigo de Gregory DiPippo publicado no New Liturgical Movement:
"[..] um decreto da Congregação para o Culto Divino, que eleva a festa de Santa Maria Madalena, na Forma Ordinária, do grau de Memória Obrigatória para Festa, o mesmo grau em que se situam os Apóstolos, com exceção da Solenidade de São Pedro e São Paulo. Um novo prefácio foi adicionado a sua Missa, cujo restante permanece inalterado. [..] Seu Ofício será atualizado de forma mais perceptível, uma vez que agora deve haver salmos e antífonas próprias para o Ofício das Leituras, e Terça, Sexta e Nona não devem mais ser as da féria, como no caso das Memórias. Nenhuma referência foi feita à Forma Extraordinária, cuja festa permanece como de 3ª Classe; talvez a comissão Ecclesia Dei considerará elevá-la a 2ª Classe, por analogia ao novo decreto."
Comentando a balbúrdia gerada pelo fato do Papa Francisco elevar a festa de uma mulher para um grau em sua maioria ocupado pelos apóstolos, DiPippo esclarece:
"Não apenas isto não é uma novidade, é um retorno parcial a uma prática histórica do Rito Tridentino. No Breviário de São Pio V, que precede seu Missal em dois anos (1568), havia apenas três graus de festas: Duplex, Semiduplex e Simplex. A festa de Santa Maria Madalena era Duplex, ou seja, ela tinha duas Vésperas, antífonas dobradas nas horas maiores, nove leituras nas Matinas, precedência sobre Domingos comuns, e tinha que ser transferida caso impedida. É verdade que, mais tarde, quando as festas Duplex foram subdivididas em quatro categorias, ela permaneceu na mais baixa delas (juntamento com todos os Doutores, dentre outros). No entanto, os privilégios de seu grau litúrgico somente começaram a ser reduzidos no final do reinando do Papa Leão XIII, já no fim do século XIX.

"Como fiz perceber em 2014, num artigo sobre seu dia festivo, o Credo era tradicionalmente rezado na Missa de Santa Maria Madalena, em reconhecimento ao fato de que foi ela quem primeiro anunciou a Ressurreição aos Apóstolos. (Este aprazível costume foi removido do Missal Romano sem motivo discernível em 1955.) É por isso também que ela é chamada de "Apóstola de Apóstolos" em muitos textos litúrgicos medievais, como cantado pelos Beneditinos na antífona do Benedictus do seu Ofício:
"O mundi lampas, et margaríta praefúlgida, quae resurrectiónem Christi nuntiando, Apostolórum Apóstola fíeri meruisti! María Magdaléna, semper pia exoratrix pro nobis adsis ad Deum, qui te elégit."
Que Santa Maria Madalena interceda por todos nós.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Curiosidades liturgicas lusitanas: asteriscos liturgicos em Portugal

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Aquando de visita recente à Sé de Braga deparei-me com com um objecto no museu que muito me surpreendeu e me encheu de curiosidade: um astersico litúrgico. Tinha conhecimento apenas de um em Portugal, em Lisboa; desconhecia a existência de outro. Ao tentar obter mais informações a respeito do astericsco bracarense fui informado de que de facto existem três em Portugal, o terceiro estando num museu em Bragança. Mas, antes de entrar em mais pormenores, convém esclarecer o que é um asterisco litúrgico.

O Asterisco Litúrgico
O asterisco litúrgico é um objecto comum a todas as liturgias do rito bizantino. Tem a aparência duma cruz e coloca-se sobre a patena. A sua função prática é a de proteger o pão eucarístico. Simbolicamente, é entendido tanto como o céu (enquanto que a patena representa a terra) como a estrela de Belém. A imagem da estrela de Belém é reforçada com a oração que se reza ao incensar o asterisco - "E veio uma estrela e deteve-se sobre o lugar onde estava o menino."

A dir.: Diskos (patena) com asterisco. Este asterisco tem uma estrela pendente, pormenor que não é comum a todos as liturgias do rito bizantino.


O Asterisco na Igreja Latina
O lugar mais notório onde se encontra o asterisco litúrgico na Igreja Latina é, sem dúvida , na liturgia papal, especificamente na missa solene. Qual a sua origem? Será ainda uma relíquia pré-Cisma, tal como a presença dum diácono grego nas liturgias papais? Convido os leitores mais informados a avançarem uma resposta. A aparência do asterisco papal difere, porém, do bizantino quanto à aparência.

Segue um trecho do grande historiador litúrgico inglês, Archdale King, sobre o asterisco papal:

O Papa retira-se para o trono para comungar. Observam-se as seguintes cerimónias: o cardeal-diácono primeiro toma a patena, sobre a qual o mestre de cerimónias colocou o asterisco; eleva-a à altura da testa para que possa ser vista pelo povo; vira-se para a direita para mostrá-la ao Papa; eleva-a mais alto fazendo um semi-circulo, e depois volta novamente para a esquerda de tal modo que possa ser exibida pela terceira vez ao povo e ao Papa.

O subdiácono, ajoelhando-se do lado do Evangelho do altar, recebe a patena e o asterisco, e leva-os ao Papa, as suas mãos estando cobertas por um rico véu bordado a ouro (linteum pectoralis). O asterisco é uma salvaguarda na forma duma estrela, que é colocada sobre a patena como uma cobertura para a Hóstia que é levada para o trono. Tem 12 raios nas quais estão inscritos os nomes dos 12 Apóstolos. No rito bizantino, um asterisco é um ornamento litúrgico normal que é empregado para impedir o véu de tocar o pão eucarístico. O do estilo Oriental é formado por dois semi-círculos, [...]
in Liturgy of the Roman Church - Appendix I: Solemn Papal Mass; Archdale King


O asterisco papal ressurgiu durante o papado de Bento XVI, tendo sido utilisado em algumas das suas celebrações.  
Bento XVI (Roma, 2008)


O Asterisco em Portugal
Contactando os museus onde se encontram os asteriscos nada puderam adiantar a seu respeito a não ser que remontam ao séc. XVIII e que serviam "proteger e segurar a hóstia sobre a patena quando as cerimónias religiosas se realizavam ao ar livre. "

Um conhecimento mais aprofundado da história do Patriarcado de Lisboa esclarece a origem do seu asterisco. O Patriarcado surge no séc. XVIII, mais precisamente em 1716, quando D. João V intercede junto do Papa Celemente XI, pedindo a este que dê à Capela do Palácio Real privilégios de catedral, como direitos metropolitanos e conferindo ao seu titular o grau de Patriarca (a Capela do Palácio Real fora elevada a colegiada por Clemente XI em 1709 em agradecimento aos Portugueses pelo apoio contra os Turcos). O arcebispo de Lisboa, agora patriarca, assim ultrapassa o de Braga em importância, que ate então com o título de Primaz das Espanhas, era o mais elevado clero de Portugal. Com a criação do Patriarcado de Lisboa vêm certos privilégios litúrgicos relacionados com a papal (o que em si merece um post própio), entre os quais o uso do asterisco.

Asterisco de Lisboa



Bento XVI celebrando Missa em Lisboa (2010)


O asterisco de Bragança é semelhante ao de Lisboa, apresentando 12 raios, cada qual com o nome dum Apóstolo inscrito. A que se deve a existência dum asterisco em Bragança? Esta diocese foi criada no séc. XVIII pelo Patriarca de Lisboa. Seria esta diocese sufragânea de Lisboa? Teria certos privilégios ligados ao Patriarcado? Fica aqui o sugestão para um estudo do relacionamento das duas dioceses que esclareça a origem deste asterisco.
Asterisco de Braganca

O asterisco de Braga não se assemelha aos demais portugueses: nao tem 12 raios, mas 6; não tem nome de Apóstolos inscritos nos raios, mas são estes decorados com motivos florais. A que se deve a existência dum asterisco em Braga tendo em conta a origem do asterisco de Lisboa? Seria motivado por uma tentativa de emular a praxis lisboeta uma vez que o arcebispo de Braga tinha passado a ter menor importância que o patriarca? Ou existirá uma relação entre as dioceses que não seja evidente sem um estudo mais aprofundado. É de salientar que em séculos anteriores existia "intercâmbio" de arcebispos entre Braga e Lisboa; quiçá aqui se encontre um elo de ligação.

Asterisco de Braga


 
Em conclusão, fica o "mistério" da origem de pelo menos dois dos asteriscos portugueses. Não tinha intenção de escrever algo aprofundado a seu respeito, mas apenas dar a conhecer aos nossos leitores esta pequena curiosidade litúrgica; por um lado, para mostrar a diversidade legítima que existiu dentro da Igreja Latina, assim como para sugerir um eventual tema de pesquisa àqueles que se dedicam a estes assuntos.




sábado, 16 de julho de 2016

Uma opinião sobre as declarações do cardeal Sarah

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Neste vídeo, o cavaleiro Michel Pagiossi Silva, membro e preceptor da Milícia de Santa Maria, e autor da série de livros "Entrarei no Altar de Deus", sobre a questão levantada pelo cardeal Sarah no Congresso Sacra Liturgia 2016 sobre a celebração versus Deum e, em seguida, à resposta do padre Lombardi.


quinta-feira, 14 de julho de 2016

10 elementos de Renovação da Liturgia segundo Dom Schneider

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Trnscrevemos um excelente texto de Michel Pagiossi do site Movimento Litúrgico e autor do livro Entrarei no Altar de Deus com 10 elementos apontados por Dom Athanasius Schneider de Astana que são fundamentais para a renovação litúrgica. 


Texto original: http://www.movimentoliturgico.org/10-elementos-de-renovacao-da-liturgia/





  1. O tabernáculo, onde Jesus Cristo, o Deus encarnado, está realmente presente sob as espécies do pão deve ser colocado no centro do santuário, porque em nenhum outro sinal nesta terra é Deus, o Emmanuel, portanto, realmente presente e tão perto do homem como no tabernáculo. O tabernáculo é o sinal que indica e que contém a Presença Real de Cristo e, portanto, deve estar mais perto do altar e constituir com ele o sinal central, indicando o Mistério Eucarístico. O Sacramento do Tabernáculo e do Sacrifício do Altar não devem, portanto, estar em oposição ou separados, mas ambos em lugar central e juntos no Santuário (Presbitério). Toda a atenção daqueles que entram numa igreja deve espontaneamente ser direcionada para o tabernáculo e para o altar.
  1. Durante a Liturgia Eucarística – pelo menos durante a oração eucarística – quando Cristo, o Cordeiro de Deus é imolado, o rosto do padre não deve ser visto pelos fiéis. Mesmo os serafins cobrem seus rostos (Isaías 6, 2) quando adorando a Deus. Em vez disso, o rosto do padre deve ser voltada para a cruz, o ícone do Deus crucificado.
  1. Durante a liturgia, deve-se haver mais sinais de adoração – especificamente genuflexões – especialmente cada vez que o sacerdote toca a hóstia consagrada.

  1. Os fiéis que se aproximam para receber o Cordeiro de Deus na Sagrada Comunhão deve saudá-lo e recebê-lo com um ato de adoração, de joelhos. Que momento na vida dos fiéis é mais sagrado do que este momento de encontro com o Senhor?
  1. Deve haver mais espaço para o silêncio durante a liturgia, especialmente durante os momentos que expressam mais plenamente o mistério da redenção. Especialmente quando o Sacrifício da Cruz torna-se presente durante a oração eucarística.

  1. Deve haver mais sinais exteriores que expressem a dependência do sacerdote de Cristo, o Sumo Sacerdote, e mostrar mais claramente que as palavras que o sacerdote pronuncia (ie., “Dominus Vobiscum“) e as bênçãos que ele oferece aos fiéis dependem e fluem de Cristo, Sumo Sacerdote, não dele, a pessoa privada. Não “Saúdo-vos” ou “eu te abençoo”, mas “eu, o Senhor” faço essas coisas. Cristo. Esses sinais podem ser (como foi praticado por séculos) o beijo do altar antes de cumprimentar as pessoas para indicar que esse amor não flui do sacerdote, mas a partir do altar; e também diante de bênção, para beijar o altar, e depois abençoar as pessoas. (Isto foi praticado por milênio, e, infelizmente, no Novo Rito foi abolido). Além disso, curvando-se em direção à cruz do altar, para indicar que Cristo é mais importante do que o sacerdote. Muitas vezes na liturgia – no Rito Antigo – quando um sacerdote expressava o nome de Jesus, ele teria que voltar-se para a cruz e fazer uma reverência para mostrar que a atenção deve estar em Cristo, e não ele.

  1. Deve haver mais sinais que expressem o mistério insondável da redenção. Isto poderia ser alcançado através do véu dos objetos litúrgicos, porque o uso do véu é um ato da liturgia dos anjos. Velar o cálice, velar a patena com o véu umeral, o velamento do corporal, velar as mãos do bispo quando celebra-se uma solenidade, o uso de mesas de comunhão, também, para velar o altar. Também sinais – sinais da cruz pelo sacerdote e os fiéis. O sacerdote fazer sinais da cruz durante a oração eucarística e pelos fiéis durante outros momentos da liturgia; quando estamos benzendo-nos com a cruz é um sinal de bênção. Na antiga liturgia, três vezes durante a Gloria, o Credo, e o Sanctus, os fiéis faziam o sinal da cruz. Estas são expressões do mistério.
  1. Deve haver um sinal constante que expressa o mistério também por meio da linguagem humana – isto é, o latim é uma língua sagrada exigida pelo Concílio Vaticano II na celebração de cada Santa Missa e em cada lugar uma parte da oração eucarística deveria sempre ser dito em latim.

  1. Todos aqueles que exercem um papel ativo na liturgia, como leitores, ou aqueles que rezam a oração dos fiéis, devem estar sempre vestidos com paramentos litúrgicos; e somente os homens, sem as mulheres, porque este é um exercício no Santuário, próximo ao do sacerdócio. Mesmo ler o lecionário é direcionado à liturgia onde estamos a celebrar a Cristo. E, portanto, somente homens vestidos com vestes litúrgicas devem estar no santuário.
  1. A música e as canções durante a liturgia devem mais verdadeiramente refletir o caráter sagrado e devem se parecer com o canto dos anjos, como o Sanctus, a fim de serem realmente mais capazes de cantar a uma só voz com os anjos. Não só o Sanctus, mas toda a Santa Missa. Seria necessário que o coração, a mente e a voz do sacerdote e dos fiéis sejam direcionada para o Senhor. E que este seria manifestada por sinais e gestos exteriores também.
Para ler o artigo completo clique aqui

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Palestra: O que diz a Igreja sobre a liturgia

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Palestra de Michel Pagiossi Silva, cavaleiro de Santa Maria, autor do livro Entrarei no Altar de Deus e presidente da Academia Internacional de Estudos Litúrgicos São Gregório Magno, na comunidade Shalom em São Paulo sobre a Liturgia e o que diz a Santa Igreja sobre ela.


domingo, 29 de maio de 2016

"Prefeito da Liturgia" pronuncia exortação à celebração ad orientem

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Missa versus deum rezada na Church of the Holy Ghost, em Tiverton, Rhode Island
Fonte: iPadre



O Cardeal Robert Sarah pronunciou recentemente um forte encorajamento à celebração ad orientem da Santa Missa. Nas palavras dele, leitor e assembléia devem estar voltados um para o outro durante a Liturgia da Palavra, "mas assim que chega o momento em que se dirigem a Deus - do Ofertório em diante -, é essencial que o padre e os fiéis olham juntos para o oriente. Isto corresponde exatamente ao desejado pelos Padres Conciliares".

A leitura na íntegra do artigo original encontra-se no Catholic Herald, e uma tradução ao português no Sensus Fidei.

Não é a primeira vez que o Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos trata da celebração versus deum - veja tradução de seu artigo publicado no L'Osservatore Romano aqui.

Esperamos que o Cardeal, enquanto prefeito do dicastério encarregado da Liturgia, consiga implementar este importante passo da reforma da reforma.

terça-feira, 22 de março de 2016

O mito do Evangelho Dialogado com o povo

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A Semana Santa. Certamente a mais bela semana que a Liturgia nos propicia, com seus ritos diferenciados e solenes, marcados por profundo significado simbólico e que procuram, a seu modo, repetir certos gestos e passagens de Nosso Senhor para atualizá-los, torná-los presentes.

(Foto: New Liturgical Movement)
A inabitualidade destes ritos, aliada a sempre habitual e exagerada "criatividade" das equipes de Liturgia, permite que surjam abusos litúrgicos mesmo naquelas comunidades onde isto acontece raramente nas demais celebrações do ano.

Um destes abusos, amplamente difundido, trata-se de certo diálogo entre povo e leitores durante a Proclamação do Evangelho da Paixão do Senhor no Domingo de Ramos e na Sexta-Feira da Paixão do Senhor. 

Este artigo, portanto, pretende demonstrar, citando extensa legislação litúrgica, que o povo não toma parte na proclamação da História da Paixão, não devendo proferir nenhuma fala.

A Proclamação do Evangelho na Liturgia

Primeiramente, recordemos que a Proclamação do Evangelho na Liturgia compete, por prioridade, ao diácono, ao sacerdote concelebrante ou ao próprio sacerdote celebrante:
"Por tradição, o ofício de proferir as leituras não é função presidencial, mas ministerial. As leituras sejam pois proclamadas pelo leitor, o Evangelho seja anunciado pelo diácono ou, na sua ausência, por outro sacerdote. Na falta, porém, do diácono ou de outro sacerdote, o próprio sacerdote celebrante leia o Evangelho; igualmente, na falta de outro leitor idôneo, o sacerdote celebrante proferirá também as demais leituras."
(Instrução Geral sobre o Missal Romano, 3ª ed., n. 59; grifos meus)

"A tradição litúrgica  assinala a função de proclamar as leituras bíblicas na celebração da missa a ministros: leitores e diácono. Mas se não houver diácono nem outro sacerdote, o celebrante deve ler o Evangelho, e no caso em que não haja leitor, todas as demais leituras.

"Na liturgia da palavra da missa, cabe ao diácono anunciar o Evangelho, fazer de vez em quando a homilia, se parecer conveniente, e propor ao povo as intenções da oração universal."
(Proêmio do Lecionário, n. 49-50; grifos meus)

A Proclamação da História da Paixão

A proclamação da Paixão, contudo, trata-se de caso à parte, apresentando regras próprias, como veremos a seguir. Uma de suas características únicas é que a leitura é tradicionalmente dividida em três partes. A motivação, penso eu, é pastoral, devido a seu longo tamanho. 
"A história da Paixão reveste-se de particular solenidade. É aconselhável que seja cantada ou lida segundo o modo tradicional, isto é, por três pessoas que representam a parte de Cristo, do cronista e do povo."
(Congregação para o Culto Divino. Paschalis Sollemnitatis sobre a preparação e celebração das festas pascais, n. 33)
Esta divisão (um leitor para as falas de Nosso Senhor, outro serve de Narrador e o último faz as vezes dos demais personagens) não é casual. O próprio lecionário já a apresenta.

Então, sim, pode-se dizer que se trata de um Evangelho dialogado. Porém, quem pode exercer o ofício da sua leitura são primeiramente os diáconos e depois os sacerdotes; somente na falta destes é que leigos podem fazê-la.
"Começando o canto antes do Evangelho, todos, com exceção do Bispo, se levantam. Não se usa incenso nem velas durante a história da Paixão. Os diáconos que vão ler a história da Paixão pedem e recebem a bênção, como ficou dito acima no n. 140. Em seguida, o Bispo tira a mitra, levanta-se e recebe o báculo: e lê-se a história da Paixão. Omite-se a saudação ao povo e o sinal da cruz sobre o livro.

"Depois de anunciada a morte do Senhor, todos se ajoelham, e faz-se uma breve pausa. No fim, diz-se: Palavra da salvação, mas não se beija o livro."
(Cerimonial dos Bispos. Domingo de Ramos, na Paixão do Senhor, n. 273; grifos meus)
A seção do Cerimonial dos Bispos que trata da Celebração da Paixão do Senhor apresenta termos idênticos: "Os diáconos que vão ler a história da Paixão" (n. 319)

"A Paixão é cantada ou lida pelos diáconos ou sacerdotes ou, na falta deles, pelos leitores; neste caso, a parte de Cristo deve ser reservada ao sacerdote. A proclamação da paixão é feita sem os portadores de castiçais, sem incenso, sem a saudação ao povo e sem o toque no livro; só os diáconos pedem a bênção do sacerdote, como noutras vezes antes do Evangelho.

"Para o bem espiritual dos fiéis, é oportuno que a história da Paixão seja lida integralmente sem omitir as leituras que a precedem."
(Congregação para o Culto Divino. Paschalis Sollemnitatis sobre a preparação e celebração das festas pascais, n. 33; grifos meus)
A seção da Paschalis Sollemnitatis que trata da Celebração da Paixão do Senhor referencia o ponto anterior: "A história da paixão do Senhor segundo João é cantada ou lida, como no domingo precedente (cf. n. 33)"

"O leitor leigo pode mesmo ser chamado, na falta de ministros ordenados, a proclamar uma parte do Evangelho da Paixão do Senhor, no Domingo de Ramos e na Sexta-Feira da Paixão do Senhor.

Na falta de um, dois ou três diáconos ou presbíteros, o Evangelho da Paixão e da Morte do Senhor pode ser proclamado por outros clérigos, ou mesmo por leigos, vestidos porém com vestes litúrgicas»."
(O Evangelho da Paixão (25/03/1965) apud Textos sobre o leitor litúrgico nos documentos da Igreja a partir do Vaticano II, n. 3; grifos meus)

Conclusão

Como se pode observar a partir da legislação litúrgica citada, ainda que a divisão tradicional em três partes não seja utilizada, não há menção alguma a participação do povo assumindo uma das partes da Proclamação da Paixão. (Aliás, não fosse a presença de retroprojetores ou projetores digitais em muitos de nossos templos, tal prática seria inviável.)

Para tornar mais claro um possível ordenamento para a Proclamação da Paixão, apresento um resumo abaixo, em ordem de preferência:
  1. Três diáconos;
  2. Na falta de um ou mais, sacerdotes (um deles faz a parte de Cristo);
  3. Na falta de um ou mais, leitores instituídos (clérigos ou leigos);
  4. Na falta de um ou mais, leitores extraordinários.
Uma configuração mínima seria o próprio celebrante lendo as falas de Nosso Senhor e dois leigos, leitores extraordinários, fazendo os papéis de narrador e dos demais interlocutores.
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