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terça-feira, 23 de março de 2010

Trechos do Ofício de Trevas de Sexta-feira, na forma extraordinária

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O Magistério da Igreja sobre a sagrada liturgia

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Dois Papas se sobressaem nesse magistério: São Pio X e Venerável Pio XII.

Pio X se distinguiu pelo seu interesse litúrgico já antes de chegar ao supremo pontificado. Três meses após ascender ao trono de Pedro, o Pontífice publica o motu proprio Tra le sollecitudini (22.10.1903), sobre a música e o canto na Igreja, destinado a renovar a música religiosa e restaurar o gregoriano. Este documento foi um ponto de partida na questão da participação litúrgica. Nele, assim se expressa o Papa: "Sendo nosso vivíssimo desejo que o verdadeiro espírito cristão refloresça totalmente e se mantenha em todos os fiéis, é necessário prover, antes de tudo, a santidade e a dignidade do templo, onde precisamente os fiéis se reúnem para beber este espíritode sua primeira e indispensável fonto, que é a participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da Igreja". Dois anos depois, promulgou o decreto Sacra tridentina synodus (1905), para a fomenar a comunhão frequente e, cinco anos mais tarde, o decreto Quam singulari (1910), para promover a admissão das crianças à comunhão em tenra idade. Em novembro de 1911, publicava a Constituição apostólica Divino Afflato , onde tratou da reforma do breviário e a revalorização da liturgia dominical.

Três linhas claras aparecem no magistério litúrgico de São Pio X:

1- a renovação da música sacra, porque 'nao devemos cantar na Missa, mas cantar a Missa',
2- a aproximação entre os batizados e a comunhão eucarística que rompeu um distanciamento de séculos entre os fiéis e o comungatório - é sabido que historicamente vivemos tempos de rarefação da recepção da Comunhão.
3- aplainou o caminho para a participação sacramental na SSma Eucaristia, mesmo que a catequese oferecida ainda devesse ser aperfeiçoada, a reforma do ano litúrgico e do breviário.

A partir de Pio X, participação ativa será o objeto de inúmera produção de textos, alguns justos; muitos, porém, exagerados. Ademais, o movimento litúrgico também reivindicará uma 'maior' participação dos fiéis nos sacrossantos mistérios, evidentemente que, com algumas argumentações legítimas; outras, infelizmente bastante exageradas, o que motivou Pio XII fazer algumas críticas, basta ler a alocução de Pio XII - carregada de reservas - no Congresso Litúrgico- Pastoral de Assis, em 1956.

No amplo magistério de Pio XII, dois documentos se destacaram: a Encíclica Mediator Dei, considerada a carta magna do movimento litúrgico e o discurso aos participantes do Congresso Internacional de Pastoral Litúrgcia celebrado em Assis (1956).

Alguns dados da renovação litúrgica efetuada por Pio XII: Instrução sobre a formação do clero no of´cioos divino (1945), a extensão ao sacerdote, em alguns casos, da faculdade de confirmar (1946), a multiplicação dos rituais bilíngues, sobretudo a partir de 1947, a determinação da matéria e a forma da ordem do diaconato, do presbiterato e do episcopado (1948), a reforma da vígilia pascal (1951) e do jejum eucarístico (1953 e 1957); nas mesmas datas, a introdução das missas vespertinas, a reforma da Semana Santa (1955), lecionários bilíngues a partir de 1958. A obra do Papa Eugenio Pacelli é coroada, em 1958, com a Instrução sobre a música sagrada e a liturgia, nos termos das encíclicas Musicae sacrae disciplinae e Mediator Dei.

Destaco, a seguir os principais conteúdos da Mediator Dei:

a) A teologia da liturgia como culto público integral do Corpo Místico de Cristo, da Cabeça e dos membros, e como presença privilegiada da mediação sacerdotal de Cristo-Cabeça;
b) A espiritualidade da liturgia, a dimensaõ interior e profunda do culto da Igreja: "Estão inteiramente equivocados aqueles que consideram a liturgia como mero lado exterior e sensível do culto divino ou como cerimonial decorativo; e não estão menos aqueles que pensam ser a liturgia o conjunto de leis e preceitos com os quais a hierarquia esclesiástica configura e ordena os ritos".
c) O equilíbrio teológico, não oportunista entre panliturgismo e subestimação do culto; piedade objetiva e subjetiva, comunitarismo e individualismo; celebração e culto da Eucaristia, progressismo e tradição.

Entrevista com os Missionários Franciscanos do Verbo Eterno

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Por Shawn Tribe, Tradução de frei Cleiton Robson, OFMConv.

Como parte da nossa exploração contínua de comunidades dedicadas à “Reforma da Reforma”, o NLM (New Liturgical Movement), junto com o Salvem a Liturgia tem o prazer de apresentar a seguinte entrevista com os Missionários Franciscanos do Verbo Eterno - que podem ser melhor conhecido por muitos simplesmente como os "MFVA" ou "frades EWTN – Rede de Televisão Palavra Eterna".

Dentro desta entrevista, exploramos um pouco sobre a missão dos MFVA, a história de sua aproximação da liturgia romana moderna, num espírito de continuidade, a sua formação, suas recentes experiências de formação no antiquior usus, E explorar a questão em que São Francisco de Assis, no princípio da Ordem, tendo por princípio a pobreza, ressaltou a beleza dentro de nossas igrejas e da liturgia.

* * *

Pode começar por dizer-nos um pouco sobre o caráter particular e da missão dos frades MFVA?

Primeiramente, MFVA significa Missionários Franciscanos do Verbo Eterno ou Missionárias Franciscanas do Verbo Eterno, em Inglês. Madre Angelica, que foi quem fundou a Rede de TV EWTN, também criou nossa comunidade religiosa, em 2 de maio de 1987.

Nossa missão é a buscar os perdidos, trazer de volta os extraviados, e fortalecer e desafiar os fiéis a viverem a sua vocação com fidelidade e perseverança. Fazemos isso principalmente através de nossa consagração a Deus e através do nosso apostolado (EWTN, por exemplo, fornecendo os sacramentos às nossas Irmãs, Internet, peregrinação, etc.) Como nossa profissão de votos é particular, nós nos dedicamos a pregar e ensinar a fé católica através das obras de apostolado, de modo a “trazer a ovelha perdida” no coração da Igreja, perto de Jesus na Eucaristia, a Nossa Senhora e ao Santo Padre, o Papa. Temos uma preocupação particular e especial com os muitos católicos afastados lá fora, embora não nos limitemos apenas a ajudá-los a voltar para a Igreja, mas também a conduzir os não-crentes e não-cristãos, bem como conhecer a beleza da Igreja Católica, a fim de conhecer e se apaixonar por seu Esposo, Jesus Cristo, a Sabedoria Eterna Encarnada e, que é “o Caminho, a Verdade e a Vida”.

Onde os frades MFVA têm sua formação seminarística?

Nossa comunidade religiosa é constituída por Padres e Irmãos religiosos. Atualmente, todos nós começamos nossa formação no Mosteiro da Anunciação, em Birmingham, Alabama. Esta é a nossa casa principal.


Nós também temos nossa própria Casa de São José, de Estudos para o nosso programa de “pré-teologia”. Nossa Casa de Estudos é credenciada pela Pontifícia Universidade em Ponce, Porto Rico. Para o programa de teologia, enviamos os que exercem o sacerdócio para Mount St. Mary's Seminary, em Emmitsburg. Atualmente, temos um frade no primeiro ano de Teologia e três frades no segundo ano de Teologia.

Vocês são franciscanos e, às vezes, a pessoa de São Francisco sugere que a Sagrada Liturgia em nossas igrejas deve ser executada sem a beleza e magnificência. Como você responderia a essa questão?

Sim, isso é uma conclusão muito triste que as pessoas fazem de São Francisco, o santo homem de Deus, apaixonado por Jesus, verdadeiramente presente no Santíssimo Sacramento. As biografias de São Francisco dizem que pesou-lhe quando ele descobriu uma igreja que estava suja. Ele pessoalmente começou a limpá-la, convocando o clero e instruindo-os sobre a limpeza das igrejas, os altares e totalmente preocupado com a celebração da Missa.

São Francisco também teve um grande amor para com o Santíssimo Sacramento e queria que seus seguidores proporcionassem o melhor para Nosso Senhor. “Houve um tempo em que até quis mandar por todas as regiões frades com píxides, e onde encontrassem o Corpo de Cristo não convenientemente guardado, nelas O guardassem com dignidade." (Compilação de Assis, 108,13). São Francisco influenciou tremendamente na obtenção de uma calorosa devoção e apreciação da beleza de nossa fé católica. Santa Clara, da mesma forma, passou seus últimos anos fazendo lençóis para os altares de todas as igrejas da região.

Além disso, seguir e observar as diferentes leis e práticas litúrgicas, de acordo com o pensamento da Igreja ,está muito mais em harmonia com o verdadeiro espírito franciscano. Na realidade, estar em união com a Igreja é o que São Francisco exortou seus seguidores a fazer. Para alguns, isso não pode ser considerado um aspecto "muito importante". Há o princípio da opção preferencial pelos pobres na justiça social, mas isso não significa que somos ignorantes ou não estamos preocupados com a liturgia, porque os pobres participam da liturgia, também (os pobres de espírito e os pobres de fato). Eles merecem ser alimentados com as riquezas da Igreja. Se nós não as fornecemos com uma bela liturgia, então estamos tirando dos pobres aquilo com o que Jesus quer enriquecê-los, através da liturgia da Igreja. Assim, eles se tornam mais pobres. Nos velhos tempos, era muito comum que os pobres fossem os que construíam a igreja. Eles foram os que sacrificaram seu tempo, materiais, dinheiro, etc. A beleza de algumas das igrejas mais antigas era por causa da devoção da fé dos pobres, que não estava morta.

Além disso, São Francisco é um verdadeiro homem santo de Deus, que ama a Igreja e quem quer ser seu seguidore também a ama, deve ser obedientes a Ela, e pensar com a mente da Igreja. Isto está bem claro em seu Testamento (Testamento de Sena, 4). Portanto, tudo o que ele contém, tem que ser entendido nesse contexto. Portanto, celebrar a liturgia com devoção e com a beleza, de acordo com o pensamento da Igreja e do espírito da Igreja é fazê-lo segundo a vontade de São Francisco, que ama a Jesus Crucificado apaixonadamente, porque a mente da Igreja é a mente de Cristo.

Durante alguns anos, os frades MFVA foram vistos celebrando missas na EWTN e sempre foram caracterizadas pela continuidade da nossa tradição litúrgica, você pode nos dar um pouco da história de fundo disso?

Frei Brian Mulady, OP, veio para EWTN fazer uma série de televisão na década de 1990. A Missa televisionada começou em 1991, e ele sugeriu a Freiras aprender o canto gregoriano. Elas concordaram e ele lhes deu algumas instruções. Começaram com a Missa de Angelis e, ao longo dos anos continuou a acrescentar outras missas e polifonia sacra em seu repertório. Logo em seguida, começamos a usar o livrinho pouco conhecido, Jubilate Deo.

Em abril de 1974, o Papa Paulo VI enviou para todos os Bispos do mundo um livreto de algumas das seleções mais simples do canto gregoriano, muitas delas retiradas da Graduale Romanum. Este livreto, chamado Jubilate Deo, foi concebido como um repertório mínimo "do canto gregoriano." É, em outras palavras, um repertório oficial do núcleo latino para o rito romano. Foi preparado, disse o Papa, a fim de "tornar mais fácil para os cristãos alcançar a unidade e a harmonia espiritual com seus irmãos e com a tradição viva do passado. Por isso, é que aqueles que estão tentando melhorar a qualidade do canto congregacional não pode recusar o canto gregoriano no lugar que é devido a ele". Uma edição ampliada de Jubilate Deo mais tarde foi emitida pela Congregação para o Culto Divino, em 1987.

Quanto a uma "Reforma da Reforma" da liturgia na paróquia, quais os elementos que você vê como particularmente importantes para o projeto?

Maior reverência na liturgia e uma maior utilização do nosso patrimônio da música sacra. Deve ser verdadeiramente um "sentido do sagrado". A liturgia deve facilitar um encontro com Deus, daí, ele deve, através da beleza da música, arte, arquitetura, atos litúrgicos, etc, nos ajudar a "manter as nossas mentes nas coisas do alto, em vez de coisas da terra" (Cl 3,1-2).


Recentemente, alguns dos frades também tiveram formação dos Cônegos Regulares de São João Câncio, na celebração da Missa segundo os livros litúrgicos do antiquior usus, ou de forma extraordinária. Como foi essa experiência?

Foi uma experiência muito boa! Passamos três semanas consecutivas com eles. E, com a graça de Deus, e as orações de todos, que sobreviveram à "formação litúrgica do pontapé inicial" lá! Ao final das três semanas, fomos capazes de celebrar a Missa Baixa, a Missa Cantada sem incenso, a Missa Cantada com incenso, a Missa Baixa de Requiem, e a Missa Solene com a assistência do sacerdote celebrante e com a assistência do diácono. Ficamos muito satisfeitos com o quanto que nós fomos capazes de realizar. A graça de Deus realmente nos ajudou a tornar isso possível.

Evidentemente, o Cônegos Regulares de São João Câncio fizeram tudo o que puderam, para que pudéssemos realizar também da mesma forma. Fomos formados principalmente pelo Pe. Scott Haynes, SJC, no entanto, os Cônegos (incluindo os Irmãos, através do seu serviço nas Missas) contribuíram para nos ajudar a ser treinados na forma extraordinária.

Nós realmente recomendamos a qualquer sacerdote ou seminarista, a formação dos Cônegos Regulares de São João Câncio, para aprender a celebrar na forma extraordinária. Eles oferecem ambas as formas da Missa (Ordinária e Extraordinária). Eles têm um equilíbrio muito bom de estar verdadeiramente com a Igreja, especialmente no que diz respeito à antiga e à nova liturgia.

Com a grande ajuda dos Cônegos, estamos agora em condições de celebrar na forma extraordinária da Missa; e isto, no Santuário do Santíssimo Sacramento, em Hanceville e em qualquer outro lugar em que somos solicitados e estivermos disponíveis. Por uma questão de fato, as Clarissas da Adoração Perpétua decidiram pedir-nos [aos frades MFVA] para utilizar o formulário extraordinário da Missa televisionada, a partir de agora (pelo menos para este ano de 2010). A seguir será a programação televisiva quando estaremos celebrando a Missa na forma extraordinária:

PRIMAVERA: 8 de maio de 2010 (Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças) – Missa Cantada.
VERÃO: 7 de agosto de 2010 (Votiva ao Imaculado Coração de Maria) – Missa Solene.
OUTONO: 2 de outubro de 2010 (Santos Anjos da Guarda) – Missa Cantada.
INVERNO: 8 de janeiro de 2011 (Votiva ao Imaculado Coração de Maria) – Missa Cantada.

Evidentemente, a MFVA celebram nas duas formas da liturgia romana, e nós vemos as duas formas na EWTN; você acredita que uma "dupla" abordagem no que se refere às duas formas da liturgia romana seja importante, e você pode explicar por quê?

No que se refere às duas formas da liturgia romana, nós acreditamos que uma "dupla abordagem" seja importante. Uma das razões é porque, para ser um verdadeiro católico ortodoxo é preciso abraçar as duas abordagens. Muitas heresias que nasceram na história da Igreja surgiram porque um ou mais indivíduos aderiram a uma ou a outra abordagem. Os hereges tentaram enfatizar um determinado ponto de nossa fé, mas, infelizmente, desenfatizaram os outros, ao mesmo tempo.


Liturgia Romana Moderna

Forma Antiga

Praticamente falando, não se tem muita paciência e disciplina para aprender algo "novo" ou para usar algo que foi parte do tesouro da Igreja por anos, se nunca foi criado dessa forma. No entanto, com Deus tudo é possível. Muitas pessoas que nunca foram educadas na fé católica têm respondido à graça especial de Deus que lhes convida a abraçar a plenitude da verdade entrando na Igreja Católica. Refletindo sobre o seu processo de aprendizagem, a nossa fé (não apenas doutrinariamente, mas também liturgicamente), com muita paciência e disciplina levou-os a aprender e a se acostumarem com as nossas práticas na Missa (ou seja, de pé, ajoelhado, sentado, etc.) Da mesma forma, nós, que já somos católicos, mas que nunca fomos acostumados com a forma extraordinária podemos ficar frustrados no começo, porque não sabemos o que está acontecendo durante a forma extraordinária da Missa, ou se nós sabemos o que está acontecendo, nós podemos ficar frustrados porque parece que nunca podemos "acompanhar" as orações que o sacerdote faz durante a Missa, ou vemos que é um tipo diferente de "participação ativa", em comparação com a participação na forma ordinária da Missa. Todas estas razões são razões legítimas para nos sentirmos frustrados, mas temos que ter em mente que não existem respostas para cada pergunta que possam fazer.

Se algum jovem está interessado em discernir a vocação com a MFVA, ou as se as moças com as Clarissas da Adoração Perpétua, como devem proceder?

Qualquer homem católico, de 21 a 35 anos, que estiver interessado em descobrir mais sobre o nosso modo de vida, ele pode entrar em contato pelo nosso site: http://www.franciscanmissionaries.com/ ou por e-mail vocations@ewtn.com.

Se alguma jovem se interessa pelas Clarissas da Adoração Perpétua, ela pode acessar o seguinte site: http://www.olamshrine.com/ (Hanceville). Algumas das Monjas de Hanceville podem ter sido transferidas ou iniciado uma nova fundação em outro lugar; para conhecê-las, pode-se verificar os seguintes sites http://www.stjosephmonastery.com/ (Charlotte, North Carolina anteriormente em Portsmouth, Ohio), ou http://www.desertnuns.com/ (Black Canyon City, Arizona), ou http://www.texasnuns.com/ (San Antonio, Texas).

Disponível no Original em:

segunda-feira, 22 de março de 2010

Música litúrgica - a Aclamação antes do Evangelho

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Artigos anteriores da série:

Introito
Salmo Responsorial
Gradual
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Na Liturgia da Santa Missa em Rito Romano existem pelo menos três palavras hebraicas. Duas delas são usadas em absolutamente todas as Missas: Amém e Hosana. Em latim ou vernáculo (língua do país), estas palavras estão sempre presentes, ainda que com alguma pequena adaptação requerida pelo idioma da Liturgia. Amém, em diversas orações. Hosana, no Sanctus (Hosana nas alturas; Hosanna in excelsis).

A terceira palavra, presente não em todas as Missas, mas na maioria delas, é Aleluia. Aparece escrita em hebraico no início deste texto. Naquele idioma se diz Haleluya, com H aspirado (como o do inglês na palavra hot). O uso da letra Y para escrevê-la em letras latinas serve para lembrar que, a rigor, este som é considerado uma consoante.

Mas não é meu intento entediar o leitor com considerações lingüísticas ou fonéticas (e não seria nem mesmo se eu entendesse destes assuntos). Apenas me permita recordar seu significado: a partir do verbo lehalel (louvar, glorificar) obtemos o imperativo halelu, que significa “louvai”. Este verbo, acrescido das duas primeiras letras do nome de Deus, torna-se haleluya, literalmente “louvai o Senhor”.

Abundante em numerosos salmos, o Aleluia está presente na Santa Missa na Aclamação antes do Evangelho. Trata-se de uma cerimônia em si mesma, por seu próprio direito. Não pode ser tratada como um simples anúncio de que o Evangelho vai ser lido, no estilo das vinhetas radiofônicas ou televisivas. Algumas músicas totalmente inadequadas, usadas neste momento, e de uso disseminado pelo Brasil, demonstram esse pensamento.

O leitor pode identificar facilmente essas músicas, ou melhor, esses textos. Alguns exemplos:

“A vossa palavra, Senhor, é sinal de interesse por nós”

“Vamos aclamar o Evangelho”

“Aleluia, aleluia, aleluia, Jesus Cristo vai falar”

“Aleluia, aleluia, minha alma abrirei”

Estes são apenas alguns entre numerosos. Repare o leitor que não estou falando da música, mas do texto. O texto para a Aclamação antes do Evangelho (com ou sem Aleluia, pois às vezes ele é omitido, como logo veremos) é preciso, lembremo-nos de que ele é parte do Próprio; e, assim, está previsto no Lecionário (e também no Graduale Romanum).

O texto da Aclamação antes do Evangelho não necessariamente se relaciona, ao menos de modo óbvio, com o Evangelho que a segue. A tradição litúrgica não exige esse tipo de correlação entre todas as leituras da Missa, entre as antífonas, ou entre leituras e antífonas. E, ainda que assim fosse, a iniciativa de introduzir textos novos é incorreta; além disto, prejudica gravemente a Liturgia quando traz expressões que querem “preparar o povo para acolher a palavra de Deus” ou coisa do tipo, dizendo que “Jesus Cristo vai falar”, como num dos exemplos que dei. A meu ver é a vinheta radiofônica por excelência.

Nesta cerimônia a Igreja nos prescreve um ou mais versículos para se cantar ou recitar alternadamente com a palavra Aleluia. De modo geral, os versículos que a Igreja oferece no Graduale Romanum são tirados dos salmos; os que ela nos dá no Lecionário são freqüentemente trechos dos próprios Evangelhos. Num caso ou no outro, veja-se quanto se perde ao se dar preferência a textos inventados.

Estou escrevendo este texto durante a Quaresma de 2010. A Quaresma é precisamente o tempo litúrgico em que o Aleluia é omitido, desaparecendo por completo de todos os lugares em que aparece nos outros tempos, inclusive na Liturgia das Horas. Mesmo o Advento, um tempo de natureza penitencial, conserva o Aleluia. Portanto, tomarei primeiramente exemplos do Tempo Comum.

Abrindo o Graduale Romanum no Quinto Domingo do Tempo Comum, encontramos o Aleluia com o seguinte texto:

Alleluia. Laudate Dominum, omnes gentes: et collaudate eum, omnes populi. Alleluia.

Tal é a estrutura do Aleluia: a palavra Aleluia, o versículo e a repetição do Aleluia. O versículo, no caso, é o primeiro versículo do Salmo 116 (“louvai o Senhor, todas as nações, louvai-o, todos os povos”). Na música, costumeiramente, tem-se aquilo a que chamamos de ABA, uma forma ternária, em que a terceira parte consiste numa repetição da primeira, e a segunda é diferente . Já havia mencionado esta ideia de ABA no texto sobre o Gradual; e, de fato, as composições gregorianas para o Aleluia são semelhantes aos Graduais, diferindo no fato de que a sua parte A utiliza, em seu texto, apenas a palavra Aleluia.

Se olharmos o Lecionário no Quinto Domingo do Tempo Comum, o versículo ao Aleluia é outro, e igualmente lícito:

“Vinde após mim!”, o Senhor lhes falou, “e vos farei pescadores de homens”.

Este versículo tira-se do próprio Evangelho que será lido em seguida (no caso do ano C, Lc 5, 1-11).

Se numa determinada Missa não há música, ou, por algum motivo, não há música para o Aleluia, o leitor se encarrega deste rito recitando: Aleluia, aleluia, aleluia. “Vinde após mim!”, o Senhor lhes falou, “e vos farei pescadores de homens”. Aleluia, aleluia, aleluia – um “triplo aleluia”.

Se este rito é cantado, a música pode utilizar a palavra Aleluia quantas vezes for conveniente para a sua própria estrutura, respeitado, naturalmente, o limite do bom senso. O canto gregoriano utiliza uma única vez, antes do versículo; e mais uma única vez, depois dele. Os Aleluias gregorianos são melismáticos (o leitor se lembra desta palavra usada no texto que escrevi aqui sobre o Gradual), desenhando seus melismas com mais generosidade sobre a vogal a.



O “triplo aleluia” passou a ser utilizado em algumas composições novas escritas para a Aclamação antes do Evangelho. Além disto, como existem várias antífonas do Ofício Divino, no Tempo Pascal, cujo texto é esse mesmo triplo aleluia, elas foram aproveitadas e reunidas no Graduale Simplex como possibilidades para uso na Missa. Um deles é o Aleluia do Sábado Santo.


O Graduale Simplex é um livro de canto gregoriano mais simples, destinado a “igrejas pequenas”, formulado em cumprimento a uma determinação de um dos documentos do Concílio Vaticano II (a constituição Sacrosanctum Concilium).

Se numa igreja a música da Missa segue o Graduale Romanum, algo especial ocorrerá durante o Tempo Pascal. Lembremo-nos de que o Graduale Romanum nos provê um Gradual no lugar do Salmo Responsorial do Lecionário. Durante o Tempo Pascal o Graduale Romanum dispensa o Gradual e coloca em seu lugar um Aleluia; assim, as Missas deste tempo contam com dois Aleluias. Numa Missa dominical temos, então:

1 – Primeira leitura

2 – Aleluia

3 – Segunda Leitura

4 – Aleluia

5 – Evangelho

Os Aleluias são diferentes, cada um com seus próprios versículos. Se seguirmos o Lecionário, depois da Primeira Leitura teremos um Salmo Responsorial, como nos outros tempos.


*


Na Quaresma o Aleluia desaparece da Liturgia. No Rito Novo, a partir de 1969-1970, isto ocorre da Quarta-feira de Cinzas em diante. No Rito Tridentino, começa já no tempo litúrgico chamado Septuagesima, aproximadamente setenta dias antes da Páscoa.

Na Santa Missa, o lugar do Aleluia é tomado pelo Trato. No Graduale Romanum são dados versículos de salmos. Vejamos os Tratos dos Domingos da Quaresma:

1º Domingo – Sl 90, 1-7. 11-16

2º Domingo – Sl 59, 4. 6

3º Domingo – Sl 122, 1-3

4º Domingo – Sl 124, 1-2

5º Domingo – Sl 128, 1-4

O Trato do Primeiro Domingo da Quaresma é bem conhecido dos entusiastas de canto gregoriano por ser consideravelmente longo, contando treze versículos, enquanto os outros contêm apenas dois ou três. Sua partitura no Graduale Romanum ocupa meia dúzia de páginas.

Antes do Evangelho, na Quaresma, temos um Trato mesmo quando se trata de Solenidade. É muito comum que a Solenidade de São José (19 de Março) e da Anunciação do Senhor (25 de Março) caiam na Quaresma, como em 2010. Uma Solenidade em meio à Quaresma utiliza até mesmo o Gloria, ausente das outras Missas; mas o Aleluia sempre precisará esperar a Páscoa.

O Aleluia, como disse, se estrutura numa forma ABA em que o Aleluia funciona como uma espécie de “refrão”; o Trato, porém, não tem refrão, utilizando os versículos e nada mais.

Se não o Graduale Romanum, mas o Lecionário for a fonte dos textos para a música, temos um refrão – na verdade, não um, mas um conjunto de refrãos possíveis. Eles são cantados também num ABA em alternância com um versículo. Há, portanto, duas opções num dado Domingo da Quaresma.

No Primeiro Domingo da Quaresma, a seguir o Lecionário teremos:

Louvor e glória a ti, Senhor, Cristo, palavra de Deus.
O homem não vive somente de pão, mas de toda palavra da boca de Deus.
Louvor e glória a ti, Senhor, Cristo, palavra de Deus.

... sendo o versículo o texto de Mt 4, 4.

No Missal em uso no Brasil são diversas as aclamações:

Glória e louvor a vós, Senhor Jesus
Louvor e honra a vós, Senhor Jesus
Louvor a vós, ó Cristo, Rei da eterna glória
Louvor e glória a ti, Senhor, Cristo, palavra de Deus
Glória a Cristo, palavra eterna do Pai, que é amor
Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai

Aparentemente esta lista não é exaustiva. Embora em cada liturgia o Lecionário traga especificamente uma destas aclamações, aparentemente são intercambiáveis.

As aclamações quaresmais em latim são oito:

1. Gloria et laus tibi, Christe (Glória e louvor a vós, ó Cristo)
2. Gloria tibi, Christe, Sapientia Dei Patris. (Glória a vós, ó Cristo, Sabedoria de Deus Pai)
3. Gloria tibi, Christe, Verbum Dei (Glória a vós, ó Cristo, Verbo de Deus)
4. Gloria tibi, Domine, Fili Dei vivi (Glória a vós, Senhor, Filho de Deus Vivo)
5. Laus et honor tibi, Domine Iesu (Louvor e honra a vós, Senhor Jesus)
6. Laus tibi, Christe, Rex aeternae gloriae (Louvor a vós, ó Cristo, Rei da eterna glória)
7. Magna et mirabilia opera tua, Domine (Grandes e maravilhosas são vossas obras, Senhor)
8. Salus et gloria et virtus Domino Iesu Christo (Salvação, glória e poder ao Senhor Jesus Cristo)


Um exame destas aclamações mostra que, salvo engano, nem todas foram traduzidas para inclusão no Lecionário que usamos, e mesmo algumas outras ausentes desta lista foram adotadas, como a já listada “Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai” e a estranha “Salve Cristo, luz da vida, companheiro na partilha”.

*

Conheço alguns lugares, inclusive por Missas transmitidas pela televisão, em que a aclamação antes do Evangelho é repetida depois do Evangelho. Em muitas das vezes, esta repetição é acompanhada de palmas, cuja suposta intenção é a de dar glória à Palavra de Deus.

Em primeiro lugar: já se falou tanto da absoluta inconveniência das palmas na Liturgia que se faz desnecessário que eu aborde este assunto aqui.

Em segundo lugar: não existe nenhuma instrução para se cantar o Aleluia (ou outra aclamação) depois do Evangelho. Seu lugar é antes do Evangelho, e só. Repeti-lo é incorreto. Não só viola a Liturgia como causa confusão aos fiéis, que, ao vê-lo cantado uma segunda vez em certas igrejas, não entenderão por que em outras isso não é feito, podendo achar que algo ficou faltando (é mais raro que o fiel pense que algo esteja sobrando).

Por isso, coloco aqui um apelo pessoal pela extinção desta prática, especialmente nas Missas transmitidas pela televisão. Nada de repetir a aclamação; nada de aplausos.


*


Em atenção à Quaresma, não postarei vídeos de Aleluias. Claro que sua omissão se aplica somente à Liturgia, e o leitor há de imaginar que, durante a Quaresma, coros e cantores precisam ensaiar Aleluias para a chegada da Páscoa. Mesmo assim, deixarei os Aleluias para o Tempo Pascal, assim o leitor se poderá rejubilar ainda mais com eles. Não ficaremos, entretanto, sem um Trato.

O Trato que ouviremos não é de nenhum dos Domingos da Quaresma, mas o das Missas Votivas da Santíssima Virgem, Gaude Maria Virgo.

domingo, 21 de março de 2010

Vídeos em inglês da Missa em Rito Copta

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Abaixo, um vídeo com a Santa Missa (Divina Liturgia), celebrada em rito copta. O rito copta é praticado por duas Igrejas Católicas Orientais "sui juris": a própria Igreja Copta Católica e a Igreja Etíope Católicca (que o pratica na língua gheez, com algumas particularidades). Também é usado pelos coptas e etíopes separados de Roma no séc. V, que se chamam a si mesmos "coptas ortodoxos" e "etíopes ortodoxos".

O vídeo que mostraremos é de uma Missa copta celebrada por um sacerdote "oriental ortodoxo", o Pe. Mauritius Anba Bishoy, no Egito. É uma Missa válida, pois os coptas ortodoxos possuem Sucessão Apostólica. Pelo vídeo, podemos conhecer um pouco mais dessa grande riqueza litúrgica, igualmente usada em nossa Igreja Católica.

A melhor notícia é que a Missa abaixo está em inglês, apenas com o Kyrie em grego. Muito mais fácil de compreender para a maioria dos nossos leitores, se fosse usado o cóptico ou o árabe.

Notem as características bem orientais desse rito, até mais oriental do que o bizantino. As prostrações, o modo como o sacerdote segura o pão que será consagrado, como "escolhe" o pão (Rito da Escolha do Cordeiro), como o coloca sobre a cabeça para saudar o povo no início da liturgia...





















Infelizmente, embora listados como de 10 partes, não encontramos a décima. Se alguém achar, nos comunique nos comentários, por favor.

A Missa copta adota três formulários (Ordinários), que podem ser baixados em formato PDF, em inglês, nos links abaixo:

Divina Liturgia de São Basílio

Divina Liturgia de São Cirilo

Divina Liturgia de São Gregório

Agradecemos a nossos amigos do New Liturgical Movement, que, postando a primeira parte dos vídeos acima, nos deram a idéia de falar mais desse antigo e interessante rito oriental.

sexta-feira, 19 de março de 2010

São José: Patrono da Igreja Universal e Custódio da Ordem Seráfica

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Na Ordem Franciscana floresceu, em um modo especialíssimo a devoção ao Senhor Jesus Cristo nos mistérios do Natal, da Paixão e da Eucaristia. De igual modo floresceu a devoção à Imaculada Virgem e a São José.

De fato, São José entra na Liturgia Franciscana já no Natal de 1223, na primeira representação do presépio, em Greccio, pelo próprio São Francisco de Assis.

O culto a ele pois, estabelecido já na Igreja Grega, foi coletado pelos franciscanos no seu convento da Terra Santa, especialmente no Santuário da Anunciação, em Nazaré, onde foi a primeira casa da Santíssima Virgem e de São José, e no Santuário onde havia a pobrezinha oficina de São José; donde o culto se espalhou para toda a Ordem.

A festa do Santo Patriarca, muito tempo antes que fosse estendida a toda a Igreja, foi criada e estabelecida na Ordem, juntamente com a festa de São Joaquim, já no Capítulo Geral, realizado em Assis, em 1399. E foi um filho de São Francisco, o Papa Sisto IV (+1484), que introduziu no Missal Romano a festa de São José. Foi um Terciário (OFS) Franciscano, o Papa Pio IX que declarou São José Patrono da Igreja Universal; um outro Terciário Franciscano, o Papa Bento XV que, em 9 de abril de 1919, introduziu no Missal um prefácio especial em honra do Esposo Virgem da Imaculada.

À Ordem Franciscana se deve também a festa do Esposalício da Virgem e de São José, festa esta concedida à Ordem pelo Papa Paulo III, em 1537.
Entre os Santos Franciscanos, quem com mair zelo propagou a devoção a São José, foi São Bernardino de Sena (+1444), que foi o panegirista do Esposo da Virgem. Entre outras coisas, diz que podemos acreditar piamente que São José foi assunto em corpo e alma ao céu, como a Virgem Maria: "Se o Divino Salvador, para satisfazer a sua piedade filial, querendo glorificar a Virgem Santíssima com a assunção de corpo e alma ao céu, pode-se acreditar piamente que não fez menos com São José".


"Sancte Joseph, ora pro nobis!"

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