Nossos Parceiros

sábado, 31 de julho de 2010

Dois níveis da "reforma da reforma"

View Comments
Poucas linhas para uma reflexão de fim-de-semana (pode-se desenvolver mais nos comentários).

A tão propalada reforma da reforma litúrgica comporta, a meu ver, comporta dois níveis, que podem ou não ser simultâneos, e um deve influenciar o outro. O tema, aliás, é francamente embasado no pensamento do Pe. Thomas Kocik, do New Liturgical Movement:

1) O primeiro nível é a reelaboração dos livros litúrgicos reformados, fazendo com que os pontos positivos do Missal (e demais livros) de Paulo VI sejam absorvidos no contexto do Missal tridentino. Ou, em palavras distintas, reescrever os livros da forma ordinária com o espírito da forma extraordinária. Um terceiro modo de dizer o mesmo: unificar as formas com o "melhor" do rito moderno e o "melhor" do rito antigo: as boas idéias da reforma litúrgica com os elementos que nunca deveriam ter saído.

2) Enquanto se estuda o modo de implementar o primeiro nível, e como que uma preparação para sua perfeita execução, sem "canetaço", pode-se ir celebrando o rito novo com uma "mentalidade", digamos assim, de rito antigo: celebrar a forma ordinária de modo que, com mais expressividade, se denote as grandes luzes da tradição litúrgica presente na forma extraordinária. Claro que, em certo sentido, isso é nada mais do que celebrar o Novus Ordo exatamente como prevê a IGMR, exatamente como mandam as rubricas (com casula, número adequado de velas, sem invenções etc). Mas não só: trata-se de, diante de várias opções lícitas e igualmente previstas, escolher a mais "tradicional", se é possível (latim, versus Deum, gregoriano, incenso, fórmula 1 no Ato Penitencial), e também de, onde há silêncio, introduzir, elementos tradicionais (vestes mais bonitas, manípulo, "delicadeza" nas prostrações e genuflexões, uso da posição tradicional dos dedos na Consagração e após etc).

Funeral pontifical no rito antigo

View Comments

Funeral dos restos mortais da família dos condes de Aranda, na Espanha, celebrado, segundo a forma extraordinária do rito romano, pelo Arcebispo de Saragoza, D. Manuel Ureña Pastor, com fotos do New Liturgical Movement.

Lembremos que, na forma ordinária, também se pode usar pluvial, os diáconos com dalmática, e os paramentos também podem ser negros (ainda que, facultativamente, possam ser roxos).

Beato Cardeal Schuster: A Santa Liturgia, suas divisões e suas fontes, parte I

View Comments

O Salvem a Liturgia se alegra em trazer mais um texto do Beato Schuster, batizado Alfredo Ludovico e, beneditino, chamado Dom Ildefonso. De seu Liber sacramentorum apresentamos o primeiríssimo capítulo, do primeiro tomo, intitulado A Santa Liturgia, suas divisões e suas fontes.

Em Julho de 2010 havíamos já publicado Música e poesia nas sinaxes eucarísticas, sétimo capítulo do primeiro tomo. Nós o publicamos em duas partes: esta é a primeira, esta é a segunda.

O capítulo cuja publicação iniciamos hoje foi divido em quatro partes, aparecendo a primeira hoje e as seguintes nos próximos Sábados.

É importante dizer, também, que o texto original foi escrito em italiano, a língua materna do beato, mas a tradução aqui publicada se baseia na tradução francesa. Também por isso, mas não só, certamente há imprecisões e escolhas infelizes, pelas quais o leitor me há de perdoar.

*

Beato Ildefonso [Alfredo Ludovico] Cardeal Schuster (1880-1954)

A Santa Liturgia, suas divisões e suas fontes
(Capítulo primeiro do tomo primeiro de Liber sacramentorum - notas históricas e litúrgicas sobre o Missal Romano)

A Santa Liturgia, em seu significado mais amplo, tem por objeto a vida religiosa e sobrenatual do Cristianismo em suas diferentes manifestações sacramentais, eucológicas, rituais, literárias e artísticas, abrangendo assim, como uma vasta síntese, o que de mais sublime foi pensado no mundo, para apreender e exprimir o indescritível e o divino. Isto não é tudo. Filhos da Igreja Católica e herdeiros da revelação dogmática feita aos antigos Patriarcas e aos Profetas de Israel, nossa organização religiosa em seus elementos fundamentais antecede não apenas a própria vinda do Filho de Deus ao mundo, mas é anterior, em numerosos séculos, às mais antigas civilizações que a História menciona, impondo-se, por isto mesmo, ao respeito e à veneração dos eruditos. Sua origem não é puramente natural e humana, seja porque o elemento dogmático do Cristianismo provém de uma revelação divina direta e positiva, seja ainda porque a vida e a atividade da Igreja derivam do Espírito de Jesus, que nela vive e opera.

Trata-se de um poema sagrado verdadeiramente tocado pelo céu e pela terra, no qual a humanidade, resgatada pelo Sangue do Cordeiro sem mancha, voa muito alto sobre as asas do espírito até o Trono de Deus. É mais do que uma simples elevação, pois a liturgia sagrada não apenas representa e exprime o inefável e o divino, mas, por meio dos sacramentos e de suas fórmulas eucológicas, produ-la e a realiza nas almas dos fiéis, aos quais comunica a graça da Redenção. Além disso, pode-se dizer que a fonte da santidade da Igreja está toda compreendida em sua Liturgia, ao ponto em que, sem os divinos sacramentos, a Paixão do Salvador, na economia presente instituída por Deus, não teria em nós eficácia nenhuma, pela falta de instrumentos aptos a nos transmitir seus tesouros.

A Liturgia não deve nada a nenhuma outra ciência, pois abarca as origens primeiras da humanidade, suas relações essenciais com o Criador, a Redenção, os sacramentos, a graça, a escatologia cristã; tudo o que existe, em suma, de mais sublime, de mais perfeitamente estético, de mais importante e necessário ao mundo. Por razões de método, no entanto, este vasto campo pode ser dividido e repartido em diferentes seções, das quais cada uma compreende um lado e um aspecto particular e determinado da vida religiosa católica. Assim, pode-se-lhe traçar um diagrama:

[NT: Este diagrama foi traduzido e copiado exatamente como aparece no livro. Para vê-lo um pouco maior, clique nele.]

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A identidade do Sacerdote

View Comments

Interessante artigo sobre o Sacerdote publicado pelo Opus Angelorum
"Foi escolhido entre todos os viventes para oferecer o sacrifício do SENHOR, o incenso e o perfume, como memorial, para fazer a expiação por seu povo" (Eclo 45,20)
Logo no início podemos perguntar: "Quem é o Sacerdote? O que se requer dele? Qual é a sua identidade? Não é, com certeza, nas ciências do comportamento humano, nem nas estatísticas sócio-religiosas que procuraremos a nossa resposta, mas sim, em CRISTO e na Fé" (João Paulo II, Hom. Na ordenação de novos Sacerdotes no Rio de Janeiro a 2/7/1980, nº 2).
Em Valência, a 8 de Novembro de 1982, exclamou o Papa João Paulo II: "Vós, os Sacerdotes, sois chamados, consagrados e enviados. Esta tríplice dimensão explica e determina a vossa condição e estilo de vida. Estais "postos à parte", segregados, mas "não separados" (Presbyterum Ordinis, 3).
SOMOS CHAMADOS
Cada história dum Sacerdote começa por um chamamento divino, total como aconteceu com os Apóstolos. Na escolha deles é manifestada a intenção de JESUS. É ELE quem toma a iniciativa: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi"(Jo 15,15). A escolha dos doze, foi um acontecimento de suma importância na vida pública do Mestre, pois, antes de o fazer "foi à montanha para orar e passou a noite inteira em oração a DEUS. Depois que amanheceu, chamou os discípulos e entre eles escolheu doze" (Lc 6,12-13).
Quem são estes que ELE escolhe? ELE não leva em conta a sua classe social, conforme diz S. Paulo: O que é fraqueza no mundo, DEUS o escolheu para confundir o que é forte" (1Cor 1,27). DEUS compraz-Se em agir na "loucura da Cruz", para deixar bem patente que a obra realizada é sua. Quando Bernardette Soubirous falava das aparições da Virgem em Lourdes, dizia: "Certamente Nosso Senhor me escolheu, porque era a mais pobre da família mais humilde do lugar".
Uma coisa é certa na vida de cada Sacerdote: somos chamados, e isto quer dizer que somos amados por ELE. Na verdade, a vocação ao sacerdócio é um sinal de predilecção da parte d'Aquele que nos escolheu entre tantos, que talvez tivessem mais qualidades humanas, mais consolidação na virtude, mais vida de intimidade com o SENHOR... no entanto, não foi a esses que o SENHOR pronunciou o Seu "Vem e segue-Me!" (Jo 2,43). Este chamamento leva a uma participação muito especial da Sua amizade: "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. EU vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de Meu PAI" (Jo 15,15).
O chamamento ao sacerdócio, assinala o momento mais alto da liberdade pessoal, que provocou a grande e irrevogável opção de vida!
SOMOS CONSAGRADOS
O rito da Ordenação, introduziu o Sacerdote num novo género de vida que o separou de tudo, para o unir totalmente a CRISTO com um vínculo original, inefável e irreversível. Através deste sacramento, o chamado é um homem consagrado, "um homem de DEUS" (1Tim 6,11). Afirma A. de Portillo nos seus "Escritos sobre o Sacerdócio" que, "na vida peregrinante do Povo de DEUS através da história da humanidade, o Sacerdote foi sempre um eleito, um ungido, tirado do meio dos homens e constituído em favor dos homens nas suas relações com DEUS" (Heb 5,1).
Explica o Santo Padre João Paulo II que "esta missão do sacerdócio não é um simples título jurídico. Não consiste apenas num serviço eclesial prestado à comunidade, delegado por ela e, por isso, revogável pela mesma comunidade ou renunciável por livre escolha do 'funcionário'. Trata-se, ao contrário, de uma real e íntima transformação por que passou o vosso organismo sobrenatural por obra de um "sinete" divino, o "carácter" que vos habilita a agir "in persona CHRISTI" (nas vezes de CRISTO), e por isso vos qualifica em relação a ELE como instrumentos vivos da Sua obra" (Hom. Ordenação, Rio de Janeiro, 2/7/1980, João Paulo II).
Deste modo, o Sacerdote não pertence mais ao mundo. "Se fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo e Minha escolha vos separou do mundo, o mundo, por isso, vos odeia" (Jo 15,19). Então, ele é uma exclusiva propriedade do SENHOR. O carácter sagrado atinge o Sacerdote em tal profundidade que todo o seu ser e agir estão orientados, integralmente, para o sacerdócio. Cada acto, pensamento ou palavra deveriam ser uma liturgia.
Continua o Papa João Paulo II na referida homilia: "No sacerdote não resta nele mais nada de que possa dispor como se não fosse Sacerdote, ou, menos ainda, como se estivesse em contraste com tal dignidade. Ainda quando realiza acções que, por sua natureza são de ordem temporal, o Sacerdote é sempre ministro de DEUS. Nele, tudo, mesmo o profano, deve tornar-se "sacerdotalizado", como em JESUS, que sempre foi Sacerdote, sempre agiu como Sacerdote, em todas as manifestações de Sua vida".
JESUS nos identifica de tal modo no exercício dos poderes que nos conferiu, que a nossa personalidade fica totalmente submergida n'ELE, como a gota de água dentro do cálice com vinho, já que é ELE que age por meio do Sacerdote. No livro "Sacerdote per l'eternitá" (Milano, 1975, pg. 30) está escrito: Pelo Sacramento da Ordem, o Sacerdote torna-se efectivamente idóneo a emprestar a JESUS a voz, as mãos e todo o seu ser. É JESUS que, na Santa Missa, com as palavras da consagração, muda a substância do pão e do vinho, na do Seu Corpo e do Seu Sangue". O mesmo podemos dizer com o Sacramento da Reconciliação. É o próprio JESUS que no Padre pronuncia o "Eu te absolvo!". "Os teus pecados te são perdoados" (Mt 9,2; cfr. Lc 5,20; 7,48; Jo 20,23).
É CRISTO quem fala, quando o Sacerdote, exercendo o seu ministério em nome e no espírito da Igreja, anuncia a Palavra de DEUS. É sempre o "Bom Pastor" (cfr. Jo 10,11) quem apascenta, quando os pastores cuidam das Suas ovelhas (cfr. Jo 21,15-17) gordas, doentes ou fracas (cfr. Ez 34,1ss), das quais terão de dar contas!
SOMOS ENVIADOS
Este prodígio, realizado no Sacerdote, no entanto, não é para ele, mas para a Igreja, isto é, para o mundo a ser salvo. A dimensão sagrada do sacerdócio é totalmente ordenada à dimensão apostólica, pois disse JESUS: "Como o PAI Me enviou, também EU vos envio" (Jo 20,21). Por isso o Sacerdote é o ENVIADO.
"O Sacerdote, - conforme ensina o Concílio Vaticano II- é o homem da comunidade, ligado de forma total e irrevogável ao seu serviço" (PO N.º 12)
Assim, ele tem uma dupla mediação:
1ª - Revestido da Pessoa de CRISTO, é o dispensador dos mistérios divinos (cfr. 1Cor 4,1) junto do Povo de DEUS, como por exemplo, no múnus profético (interpretação e explicação da Palavra Divina). Verdadeiramente já afirmou Santo Tomás de Aquino:"O Sacerdote é verdadeiro mediador entre DEUS e os homens" (S. Th. 3, q. 22,a 1).
2ª - Mas também junto de DEUS é o representante do povo em todos os seus componentes: as crianças, os jovens, as famílias, os trabalhadores, os pobres, os pequenos, os doentes, e até mesmo dos distantes e adversários. O Sacerdote é o portador das suas ofertas, das suas vozes orantes, suplicantes, exultantes e gementes.
Tal coisa especificou Pio XI quando afirmou: "O Sacerdote é o intercessor público da humanidade junto de DEUS e recebeu o encargo e o mandato de oferecer a DEUS em nome da Igreja, não só o real e verdadeiro Sacrifício do Altar, mas também o"sacrifício de louvor" (Sl 49,14). Com "Salmos, hinos e cânticos espirituais" (Ef 5,19) tirados em grande parte dos livros inspirados, oferece a DEUS várias vezes ao dia o devido tributo de adoração e cumpre o necessário dever de rogar pela humanidade, hoje mais aflita, e, mais do que nunca, necessitada de DEUS" (Ad. Catholica Sacerdotti, 20/12/1935).
"Antes de mais, dentro da Igreja - afirma Santo Ambrósio - todos somos ungidos pela graça do ESPÍRITO para sermos membros do Reino de DEUS e formar parte do seu sacerdócio" (Trat. Sobre os ministérios, 29-30)- E completa S. Beda: "Todos são chamados "sacerdócio régio" para que se recordem de esperar o Reino eterno e de oferecer, sem cessar a DEUS, o sacrifício de uma vida sem mancha" (Sobre 1Pe 2). Esta dimensão do sacerdócio comum dos fiéis foi mais evidenciada pelo Concílio Vaticano II, e ofereceu ao laicado a ocasião de descobrir mais a vocação de todo o baptizado ao apostolado e o seu necessário compromisso activo e consciente com a tarefa da Igreja.
Afirma A. de Portillo que "o sacerdócio é fundamentalmente uma configuração, uma transformação sacramental e misteriosa do cristão em CRISTO, Sumo e Eterno Sacerdote, único Mediador. O Sacerdote não é mais cristão que os demais fiéis, mas é mais Sacerdote, e inclusive o é dum modo essencialmente distinto" (Esc. sobre o Sacerdócio, pg. 114).
No entanto, o sacerdócio comum dos fiéis não diminui a importância nem a necessidade do sacerdócio ministerial, nem pode justificar o menor empenho pelas vocações eclesiásticas. Afirma o Papa João Paulo II que "o sacerdócio comum dos fiéis não pode justificar a tentativa de transferir para a assembleia ou comunidade o poder que CRISTO conferiu exclusivamente aos ministros sagrados. O papel do Sacerdote permanece insubstituível, apesar da solicitação de todos os modos, da colaboração dos leigos. Mas, na economia da Redenção, existem tarefas e funções - como o oferecimento do Sacrifício Eucarístico, o perdão dos pecados, o ofício do Magistério - que CRISTO quis legar essencialmente ao sacerdócio, e nas quais ninguém, sem ter recebido a Ordem sagrada, poderá substituir. Sem o ministério sacerdotal, a vitalidade religiosa corre o risco de se cortar das suas fontes, a comunidade cristã de desagregar-se e a Igreja de secularizar-se" (Hom. da Ordenação, Rio de Janeiro, 2/7/1980, João Paulo II).
FORÇA DO SINAL
Actualmente, o ministério sacerdotal desenvolve-se num ambiente de uma sociedade secularizada, cuja característica é o eclipse progressivo do sagrado e a eliminação dos valores religiosos. Dentro deste mundo, o Sacerdote é chamado a realizar nela a salvação com "sinais e instrumentos do mundo invisível".
O "Alter CHRISTUS" vive entre os homens para partilhar das suas angústias, esperanças e aspirações. Porém, esta partilha no meio do mundo não pode, nem deve, turvar a realidade operada nele por CRISTO. "PAI, EU lhes dei a Tua Palavra, mas o mundo os odiou, porque não são do mundo, como EU não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno"(Jo 17,14-15)- O Sacerdote não deve, nem pode, ajustar-se às opiniões ou aos gostos deste mundo, como exorta S. Paulo "Exorto-vos... pela misericórdia de DEUS, que... não vos conformeis com este mundo" (Rom 12,1-2).
Explicou o Santo Padre em Julho de 1980: "A força do sinal não está no conformismo, mas na distinção. A luz é diversa das trevas para poder iluminar o caminho de quem anda no escuro. O sal é diverso da comida para dar-lhe sabor. CRISTO chamou-nos: "Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se torna insosso, com que salgaremos? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo... Não se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro" (Mt 5,13-15).

Num mundo dissipado e confuso como o nosso, a força do sinal está exactamente em ser diferente. O Sacerdote deve destacar-se tanto mais quanto a acção apostólica exige maior inserção na massa humana. A este propósito, quem não percebe que uma certa absorção da mentalidade do mundo, a frequentação de ambientes dissipantes, como também o abandono do modo externo de apresentar-se podem diminuir a sensibilidade do próprio valor do sinal (Hom. da Ordenação, João Paulo II).

Numa alocução em 9/11/1978, o Papa João Paulo I, afirmava: "Somos necessários aos homens, somos imensamente necessários, mas não a meio serviço nem a meio tempo, como se fôssemos uns "empregados"; somos necessários como o que dá testemunho, e despertamos nos outros a necessidade de dar testemunho. E se alguma vez parecer que não o somos, isto quer dizer, que devemos começar a dar testemunho ainda mais claro, e então nos daremos conta do muito que o mundo de hoje necessita do nosso testemunho sacerdotal, do nosso serviço, do nosso sacerdócio".
Quando se perdem de vista estes horizontes luminosos, a figura do Padre obscurece-se, a sua identidade entra em crise, seus deveres peculiares não se justificam mais, contradizem-se e enfraquece a sua razão de ser.
Na continuação da homilia do Papa João Paulo II no Rio de Janeiro acima citada, foi referido que "esta fundamental razão de ser do Sacerdote, não se recupera com o fazer-se "um-homem-para-os-outros". Acaso não o deve ser quem quer que deseje seguir o Divino Mestre? "Homem-para-os-outros", o Sacerdote é, mas em virtude da sua peculiar maneira de ser, "Homem-para-DEUS". O serviço de DEUS é o alicerce sobre o qual se constrói o genuíno serviço dos homens, que consiste em libertar as almas da escravidão do pecado e em reconduzir o homem ao necessário serviço de DEUS.

Fique assim bem claro que o serviço sacerdotal, se permanecer fiel a si mesmo, é um serviço excelente e essencialmente espiritual. Isto deve ser acentuado contra as multiformes tendências de secularizar o serviço do Padre, reduzindo-o a uma função meramente filantrópica.
O seu serviço não é do médico, do assistente social, do político ou do sindicalista. Em certos casos, talvez, o Padre poderá prestar-se, embora de maneira supletiva... mas hoje eles são realizados adequadamente por outros membros da sociedade, enquanto que o nosso serviço se especifica sempre mais claramente como um serviço espiritual. É na área das almas, das suas relações com DEUS, e de seu relacionamento interior com os seus semelhantes, que o Sacerdote tem uma assistência material, mediante as obras de caridade... mas esse serviço não deve jamais fazer perder de vista o serviço principal, que é o de ajudar as almas a descobrirem o PAI, abrirem-se para ELE e a amá-Lo sobre todas as coisas.
Somente assim é que o Sacerdote jamais poderá sentir-se um inútil, um falido, ainda quando fosse constrangido a renunciar a qualquer actividade exterior. O Santo Sacrifício da Missa, a oração, a penitência, ou melhor, antes, o essencial do seu sacerdócio permaneceria íntegro, como foi para JESUS nos 30 anos de Sua vida oculta. A DEUS seria dada ainda uma glória imensa. A Igreja e o mundo não ficariam privados de um autêntico serviço espiritual" (2/7/1980).

SÚPLICA À MÃE DO SACERDOTES
"Que MARIA, Mãe dos Sacerdotes, os ensine a viver melhor o dom inestimável da sua singular vocação!"

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Bênção abacial em Missa no rito moderno, porém versus Deum

View Comments
Abaixo, fotos da cerimônia na qual foi bento Abade Dom Philip Anderson, OSB, da Abadia de Nossa Senhora de Clear Creek, na Diocese de Tulsa, EUA. A bênção abacial foi conferida por Dom Edward J. Slattery, Bispo de Tulsa, em uma Missa celebrada na forma ordinária, mas versus Deum.

O Abade Philip é o primeiro da recente abadia beneditina, que faz parte da Congregação de Solesmes.



Bela mitra clássica (os outros estilos são gótica e romana).



































quarta-feira, 28 de julho de 2010

Música litúrgica - o Kyrie e o Ato Penitencial, parte II

View Comments
Na primeira parte nosso assunto foi o texto Kyrie, com tropos e sem tropos. A tradição e a atual regulamentação são suficientes para que não existam dúvidas a este respeito; mesmo assim abusos continuam ocorrendo, lamentavelmente. Falaremos agora a respeito da música.

Nos livros de canto gregoriano o conjunto de composições para o Ordinário da Missa é chamado de Kyriale, embora não contenha apenas peças para o Kyrie. O Graduale Romanum contém dezoito ordinários. Tradicionalmente eles contêm alguma indicação do tipo “para festas da Virgem Maria”, “para festas dos Apóstolos”; são anotações que sobreviveram aos séculos mas não têm caráter obrigatório – mesmo em épocas antigas não o tinham. Um ordinário indicado para festas dos Apóstolos pode ser utilizado num Domingo do Tempo Comum, ou num dia de semana, ou numa memória etc. Também não é obrigatório tomar todas as peças do mesmo ordinário: é permitido cantar, na mesma Missa, o quarto Kyrie, o décimo Gloria, o primeiro Sanctus e assim por diante.

Além dos dezoito ordinários, há algumas peças avulsas adicionais agrupadas, nos livros, conforme o texto: nove Kyries, quatro Glorias etc. Estão ali também as composições para a aspersão da água benta: o Asperges e o Vidi aquam, este usado no Tempo Pascal, aquele usado fora do Tempo Pascal.

O Kyrie mais simples é o de número XVI, cuja indicação é para os dias de semana do Tempo Comum. Mais simples porque praticamente todo silábico.


Gravação dos beneditinos de São Paulo encontrável neste site:

Como já vimos, a Forma Extraordinária do Rito Romano faz cada invocação ser pronunciada três vezes. Assim também na música. Esta partitura foi retirada do Graduale Romanum de 1961, destinado ao Rito Tridentino, e indica as três vezes que cada invocação é cantada. Observaremos na figura abaixo as letras iij, indicando que se deve cantar três vezes.

iij indica três. Por quê, então, mais adiante aparece apenas ij? Porque nas últimas três vezes em que se canta Kyrie eleison, nesta composição, as duas primeiras são iguais, mas a terceira é um pouco diferente, e vem escrita por extenso na seqüência, depois do ij.

Para facilitar a compreensão, pensemos no Kyrie como um conjunto de nove súplicas. Assim considerando, escrevi na figura o número de cada uma delas, para que se possa ver bem que a última delas tem sua própria melodia, um pouco mais ornamentada.


No Rito Novo, decorrente da reforma litúrgica de 1969-1970, o Kyrie passou a ser um conjunto de seis súplicas, em que cada uma das três invocações se diz duas vezes. Em cumprimento a essa determinação, este rito utiliza do seguinte modo esta peça:


Algumas peças para o Kyrie nos dão melodias diferentes para cada vez em que uma invocação é cantada. É o caso do décimo Kyrie. Neste caso, mesmo no Rito Novo, cantam-se todas as melodias escritas. As rubricas da Forma Ordinária, ao mesmo tempo em que fixam as seis súplicas, estabelecem que o número pode ser maior, por razões de composição musical. Mesmo nas composições polifônicas, em ambos os ritos se admite um número maior de repetições.



No vídeo abaixo, o leitor poderá ouvir um Kyrie polifônico, cujo autor é Palestrina (1525-1594), por muitos tradicionalmente considerado o maior compositor da Liturgia católica. Se este julgamento é correto, não sei; mas de que Palestrina seja grande, não existe a menor dúvida. Este é o Kyrie de sua Missa Papae Marcelli, cujo título homenageia o Santo Padre Marcelo II. Este papa reinou por apenas 22 dias em 1555 e, quando cardeal, apoiava e admirava Palestrina.



terça-feira, 27 de julho de 2010

O que a Missa NÃO é

View Comments
Dentre os muitos desafios da nova evangelização, encontra-se o de se explicar ao povo, mesmo o católico que freqüenta a igreja todos os fins de semana e enche as fileiras dos grupos de oração e dos movimentos eclesiais com um trabalho apostólico digno dos mais altos louvores, as bases daquela que é o centro da nossa vida espiritual: a Santa Missa. “A celebração do mistério pascal, conforme nos ensinou claramente o Sacrossanto Concílio Vaticano II, constitui o cerne do culto religioso do cristão no seu desenvolvimento cotidiano, semanal e anual.” (Papa Paulo VI, Carta Apostólica Mysterium Pascale)

Com efeito, chegamos, nos tempos atuais, a esquecer por completo o que é a Santa Missa. Foge de nossa compreensão, no mais das vezes, o que ela realmente é, e, via de conseqüência, substituímos sua essência pelos elementos acidentais que dela fluem. Para que isso seja corrigido, impõe-se a correta exposição da doutrina e a mais ampla catequese, que atinja o douto e o simples, o erudito e o humilde.

Cumpre, em primeiro plano, dizer o que a Missa não é. Ela não é uma simples reunião de oração, onde os fiéis leigos se reúnem sob a presidência do padre. Tampouco, ela é apenas um culto, à moda protestante, onde cantamos, louvamos, pedimos perdão, ouvimos a Palavra de Deus e sua pregação. Também não se trata de um programa psicológico, onde procuramos atrair as pessoas para que se sintam bem e busquem forças para a semana que se inicia, nem ao menos é uma estratégia evangelística ou de pregação, para buscar as “ovelhas perdidas.” Não é somente um ato público, oficial, em que o povo católico congregado, reza junto com um diretor, o padre. Outrossim, cabe salientar que a Missa não é uma celebração nostálgica, ou uma encenação histórica, ainda que piedosa, do que Jesus fez na última ceia. Tudo isso, é verdade, pode ser santo, ungido, e nos levar a Deus, mas caberia muito mais à definição de um culto de uma igreja evangélica.

As reuniões de oração são importantes. Dos círculos de meditação e reflexão espiritual às famílias que se juntam para recitar o rosário; dos grupos de oração na linha da renovação carismática àqueles que cantam o Ofício Divino, na Liturgia das Horas; das diversas orações que se fazem em equipes nos mais variados movimentos até aquelas comunidades religiosas que fiam nos formulários oficiais da Santa Igreja; toda a forma católica de oração é importantíssima, pois nos faz entrar em contato com nosso Soberano Deus, Rei e Senhor do Universo.

Porém, a Missa é mais do que isso. Ela é o único e suficiente sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecido na Cruz, não recordado de forma encenada, mas tornado realmente presente em nossas igrejas. Para isso, temos um sacerdote e um altar. Sacerdote é aquele que, em qualquer religião, preside um sacrifício real e verdadeiro. Altar é o lugar onde esse sacrifício é oferecido (por isso, os protestantes, que não crêem na atualidade do sacrifício, não chamam a seus pastores de sacerdotes, nem têm altares em suas igrejas).
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Parceiros