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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Música litúrgica - o Kyrie e o Ato Penitencial, parte II

Na primeira parte nosso assunto foi o texto Kyrie, com tropos e sem tropos. A tradição e a atual regulamentação são suficientes para que não existam dúvidas a este respeito; mesmo assim abusos continuam ocorrendo, lamentavelmente. Falaremos agora a respeito da música.

Nos livros de canto gregoriano o conjunto de composições para o Ordinário da Missa é chamado de Kyriale, embora não contenha apenas peças para o Kyrie. O Graduale Romanum contém dezoito ordinários. Tradicionalmente eles contêm alguma indicação do tipo “para festas da Virgem Maria”, “para festas dos Apóstolos”; são anotações que sobreviveram aos séculos mas não têm caráter obrigatório – mesmo em épocas antigas não o tinham. Um ordinário indicado para festas dos Apóstolos pode ser utilizado num Domingo do Tempo Comum, ou num dia de semana, ou numa memória etc. Também não é obrigatório tomar todas as peças do mesmo ordinário: é permitido cantar, na mesma Missa, o quarto Kyrie, o décimo Gloria, o primeiro Sanctus e assim por diante.

Além dos dezoito ordinários, há algumas peças avulsas adicionais agrupadas, nos livros, conforme o texto: nove Kyries, quatro Glorias etc. Estão ali também as composições para a aspersão da água benta: o Asperges e o Vidi aquam, este usado no Tempo Pascal, aquele usado fora do Tempo Pascal.

O Kyrie mais simples é o de número XVI, cuja indicação é para os dias de semana do Tempo Comum. Mais simples porque praticamente todo silábico.


Gravação dos beneditinos de São Paulo encontrável neste site:

Como já vimos, a Forma Extraordinária do Rito Romano faz cada invocação ser pronunciada três vezes. Assim também na música. Esta partitura foi retirada do Graduale Romanum de 1961, destinado ao Rito Tridentino, e indica as três vezes que cada invocação é cantada. Observaremos na figura abaixo as letras iij, indicando que se deve cantar três vezes.

iij indica três. Por quê, então, mais adiante aparece apenas ij? Porque nas últimas três vezes em que se canta Kyrie eleison, nesta composição, as duas primeiras são iguais, mas a terceira é um pouco diferente, e vem escrita por extenso na seqüência, depois do ij.

Para facilitar a compreensão, pensemos no Kyrie como um conjunto de nove súplicas. Assim considerando, escrevi na figura o número de cada uma delas, para que se possa ver bem que a última delas tem sua própria melodia, um pouco mais ornamentada.


No Rito Novo, decorrente da reforma litúrgica de 1969-1970, o Kyrie passou a ser um conjunto de seis súplicas, em que cada uma das três invocações se diz duas vezes. Em cumprimento a essa determinação, este rito utiliza do seguinte modo esta peça:


Algumas peças para o Kyrie nos dão melodias diferentes para cada vez em que uma invocação é cantada. É o caso do décimo Kyrie. Neste caso, mesmo no Rito Novo, cantam-se todas as melodias escritas. As rubricas da Forma Ordinária, ao mesmo tempo em que fixam as seis súplicas, estabelecem que o número pode ser maior, por razões de composição musical. Mesmo nas composições polifônicas, em ambos os ritos se admite um número maior de repetições.



No vídeo abaixo, o leitor poderá ouvir um Kyrie polifônico, cujo autor é Palestrina (1525-1594), por muitos tradicionalmente considerado o maior compositor da Liturgia católica. Se este julgamento é correto, não sei; mas de que Palestrina seja grande, não existe a menor dúvida. Este é o Kyrie de sua Missa Papae Marcelli, cujo título homenageia o Santo Padre Marcelo II. Este papa reinou por apenas 22 dias em 1555 e, quando cardeal, apoiava e admirava Palestrina.



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