Apresentamos uma tradução ao português de um excerto do magnífico livro "Nociones elementales de liturgia", de D. Alfonso Maria Gubianas, OSB, publicado em Barceleno, em 1930.
1º A liturgia participa das notas da Igreja
Para compreender o valor da liturgia católica, fixemo-nos primeiramente no fato de que ela reveste todos os caracteres que distinguem a verdadeira Igreja, e participa de suas notas gloriosas.
Por sua antiguidade, se remonta aos Apóstolos; é una em substância; como a túnica da rainha, não admite diversidade senão em seu ornato e, por assim dizer, nas pérolas e brocados que a embelezem; é universal, pertencendo a todo lugar e tempo; é santa, com a santidade própria do Espírito Santo, que a anima interiormente, e que, falando pelas Escrituras e pela Tradição, forma toda a trama das palavras sagradas.
2º Nos ensina como temos de cumprir o primeiro de nossos deveres religiosos
Consistindo a liturgia no exercício eclesiástico da virtude da religião, se compreende também facilmente que seu valor seja importantíssimo, já que ela nos ensina como devemos cumprir o primeiro de nossos deveres religiosos para com Aquele de quem tudo temos recebido: o dever de adorar a Deus. Assim como nossa primeira relação para com Deus é a relação de dependência absoluta, assim nosso primeiro dever para com Ele é o de adorá-Lo, reconhecendo essa mesma dependência. E a liturgia não só nos ensina o cumprimento deste primeiro dever para com Deus, senão que nos propõe o santo sacrifício da Missa como o ato supremo de culto, com o qual reconhecemos o domínio que Ele tem sobre todos os homens e sobre todas as criaturas.
Mediante o santo sacrifício da Nova Lei, não só adoramos a Deus, senão que por seu intermédio Lhe damos graças por todos os benefícios recebidos, Lhe pedimos tudo quanto nos é necessário, e Lhe aplacamos pelas ofensas com as quais O injuriamos. Assim considerado o santo sacrifício, bem o podemos reconhecer como um sapientíssimo e o mais admirável compêndio do cristianismo.
3º Nos prepara para oferecer o santo sacrifício
A sagrada liturgia não só nos propõe o santo sacrifício da Missa como meio para adorar a Deus e cumprir com nossos principais deveres religiosos, mas também nos prepara e nos ensina como temos de oferecer ao Altíssimo o que Lhe é mais agradável, o que sempre O apraz.
É tão grande o desejo da Igreja de que ofereçamos de modo devido ao Senhor o santo sacrifício, que bem podemos nos assegurar que toda a ordem do Ofício Divino se propõe a elevar nossa mente e nosso coração para que nos encontramos melhor dispostos ao oferecimento da Vítima que nos reconcilia com nosso Deus, três vezes santo.
Não somente a ordem do Ofício Divino é uma preparação para oferecer a Deus o santo sacrifício da Missa, senão que mediante o sacramento do Batismo e o da Penitência, a liturgia prepara e dispõe as almas para apresentar ao Altíssimo a vítima de um valor infinito, o sacrifício do próprio Jesus Cristo.
4º Nos ajuda para a santificação de nossas almas
A santificação de nossas almas é o segundo dos fins a que se propõe a sagrada liturgia.
É tão certo que a liturgia se propõe também a nossa santificação que na atual economia da graça ninguém poderá se santificar prescindindo voluntária e conscientemente da liturgia, deixando de lado o que nos propõe a sagrada liturgia, omitindo os meios de santificação oferecidos pela sagrada liturgia, já que com ela e mediante os santos sacramentos, que constituem uma de suas mais importantes partes, nos purificamos de toda mancha de pecado, se nos comunica abundante e copiosamente a graça que nos eleva a uma ordem sobrenatural, e nos faz santos, agradáveis a Deus e participantes de sua própria divina natureza.