Por Pe. Jean-Pierre Herman
Tradução: Pe. Jean-Pierre Herman / Daniel Pereira Volpato
O Missal promulgado por Paulo VI em 03 de abril de 1969 praticamente eliminou as antigas vigílias e oitavas para as principais festas.
As oitavas são agora limitadas à Páscoa e ao Natal. Quanto às vigílias, permanece, para algumas festas, uma "Missa à noite anterior", que muitas vezes passa despercebida nas paróquias. É uma antecipação da festa e não mais um dia de jejum e preparação para a ela.
A Missa da Vigília de Pentecostes é um caso especial. Ela oferece a opção de quatro textos para a primeira leitura. São textos do Antigo Testamento que preparam para o dom do Espírito Santo. Isso é tudo o que resta da antiga e rica liturgia da vigília de Pentecostes.
A "desmontagem" da liturgia de Pentecostes foi feita em duas etapas. A vigília caiu durante a reforma dos anos 50, e a oitava foi abolida durante a promulgação do novo missal.
Embora o sacramento do Batismo seja distinto do da Confirmação, ele recebe esse nome porque a descida do Espírito Santo na alma do fiel completa a obra de sua regeneração sobrenatural. Através do caráter sacramental, é conferido ao neófito uma mais perfeita semelhança com Jesus Cristo, que imprime o último selo ou confirmação à sua união com o divino Redentor. A palavra confirmação era também utilizada na Espanha para indicar a oração invocatória do Espirito Santo durante a missa: Confirmatio sacramenti; também a analogia existente entre a epíclese (que na missa, pede ao Paráclito a plenitude de seus dons sobre aqueles que se aproximam da Santa Comunhão) e a Confirmação, que os antigos administravam imediatamente após o batismo, esclarece o profundo significado teológico que está escondido sob o vocábulo “Confirmação” atribuído ao segundo sacramento. [3]
Tertuliano já fala da celebração dos batismos, não só na grande vigília de Páscoa, mas também para o Pentecostes:
Outro dia solene do batismo é Pentecostes, quando acontece um longo intervalo de tempo para dispor e educar aqueles que devem ser batizados.
A escolha não é inocente, porque no batismo, o bispo coloca sua mão direita sobre a cabeça do neófito, chamando o Espírito Santo por meio de uma bênção. [4]
Temos também uma carta do Papa Siricius (384-399) [5] ao bispo de Tarragona Himera atestando essa prática. Além disso, em uma carta aos bispos da Sicília, o Papa São Leão Magno (440-461) exorta-os a imitar São Pedro, que batizou três mil pessoas no dia do primeiro Pentecostes. [6]
Os livros litúrgicos posteriores nos dão um diagrama de uma celebração do mesmo tipo da Vigília Pascal, que encontramos em todos os missais que precederam a reforma de Trento e no Missal de São Pio V até a reforma da década de 1950.
Vamos deixar a Dom Guéranger o cuidado de descrever essa prática:
Nos tempos antigos, esse dia se assemelhava a véspera da Páscoa. Na noite os fiéis iam para a igreja para participar nas solenidades da administração do batismo. Na noite que se seguia, o sacramento da regeneração era conferido aos catecúmenos cuja ausência ou alguma doença os tinham impedido de se juntar aos outros na noite de Páscoa. Aqueles que ainda não tinham sido considerados suficientemente aprovados, ou cuja educação não parecia completa, tendo satisfeito as justas exigências da Igreja, também ajudavam a formar o grupo de aspirantes ao novo nascimento que se recebe a partir da fonte sagrada. Em vez das doze profecias que se liam à noite de Páscoa, enquanto os sacerdotes executavam os ritos preparatórios aos catecúmenos para o batismo, eles costumavam ler seis; Isto leva à conclusão de que o número de batizados na noite de Pentecostes era menos considerável. [7]
O círio pascal reaparecia durante esta noite de graça, para educar o novo recruta o que fazia a Igreja, respeito e amor pelo Filho de Deus que se fez homem para ser "a luz do mundo”. Todos os rituais que temos descrito e explicado no Sábado Santo se realizavam nesta nova oportunidade, onde aparecia a fecundidade da Igreja, e o Divino Sacrifício do qual tomaram parte os felizes neófitos começava ainda antes do amanhecer. [8]
Nos tempos antigos, como relata Schuster, a celebração, junto com a Vigília Pascal, se fazia no Latrão durante a noite de sábado para domingo. No século XII foi antecipada para o início da tarde. Pelo fim do dia, o Papa então ia para São Pedro, para o canto das Vésperas e Matinas solenes. A extensão da celebração do batismo a outros dias e a prática do batismo infantil
quam primum removeram a exclusividade destas celebrações na véspera de Pentecostes, reduzindo esse dia ao grau de preparação para a festa, mesmo grau das demais vigílias, mas mantendo na celebração um caráter claramente batismal.
Como apresentou Pio Parsch:
“Hoje é uma vigília solene e, portanto, de penitência completa, com jejum e abstinência (em algumas dioceses, no entanto, esta obrigação não se impõe mais com a pena do pecado; isso não é mais do que um simples conselho). A vigília é sempre um dia de preparação. A casa da alma deve ser limpa e preparada para a grande festa. Dois pensamentos ocupam o cristão que vive com a Igreja: a) ele se lembra de seu batismo; b) ele se prepara para Pentecostes.” [9]
Tempo e Estrutura da Vigília
Depois das nonas, lemos as profecias sem título, com as velas apagadas, assim como no Sábado Santo.
Esta é a rubrica que antecede a celebração da Vigília de Pentecostes nos missais. O seu tempo é o mesmo que o da vigília pascal. Anteriormente celebrada na noite de sábado para domingo, em seguida, no início da tarde, ele caiu dentro do âmbito do decreto de São Pio V, que impôs a antecipação dos ofícios ao amanhecer. A Vigília de Pentecostes, portanto, é celebrada na manhã de sábado.
Sua estrutura é semelhante ao do Sábado Santo, com a exceção da bênção do fogo e do Círio Pascal. Pius Parsch chama-lhe uma
imitação abreviada do Sábado Santo. Ela começa pelas leituras das profecias, cada qual seguida de uma resposta e uma oração pelo celebrante, que é precedido por um convite do diácono:
Oremus. Flectamus genua.
Depois, partimos em procissão até o batistério com a bênção da água, cantando versos do Salmo 41 (Sicut Cervus ad fontes aquarum). Depois de uma oração, o celebrante diz a oração de bênção da água, como na Vigília Pascal. Em seguida, retornamos para o altar em procissão cantando a Ladainha dos Santos, enquanto os celebrantes vão para a sacristia, a fim de revestir os paramentos para a Missa. [10]
A cor da vigília é o roxo. É especificado que o sacerdote utilize a capa de asperges para a procissão para o fonte batismal. O diácono e subdiácono levam a casula plicada (dobrada). A missa é em vermelho, a cor de Pentecostes.
No final das ladainhas, acendem-se as velas, os ministros vão para o altar enquanto o coro canta o Kyrie, eles recitam as orações ao pé do altar e o sacerdote incensa e entoa o Glória, durante o qual se tocam os sinos. [11]
Plano Da Vigília de Pentecostes
Proclamação das seis profecias:
Leitura + resposta + Flectamus genua + Oração
Procissão a pia batismal
Salmo 41
Bênção da Água
Procissão até o altar
Ladainha dos Santos
Missa
As Profecias
No rito primitivo havia doze leituras, como na Páscoa. Este número foi reduzido para seis por São Gregório Magno, e foi assim mantida até o século VIII, quando, sob a influência do Sacramentário Gelasiano, devolvemos à Vigília Pascal suas leituras originais.
As leituras de Pentecostes são tiradas da Páscoa, mas em uma ordem diferente.
Leitura
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Pentecostes
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Páscoa
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1
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Gn. 22 Sacrifício de Abraão
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3
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2
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Ex 14 e 15 A passagem do Mar Vermelho
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4
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3
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Dt 31 O Testamento de Moisés, o cumprimento da Lei
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11
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4
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Is 4 A libertação de Jerusalém
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8
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5
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Bar 3 O retorno à Terra Prometida
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6
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6
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Ez 37 ossos secos
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7
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A cada leitura se segue um responso. Três desses são os mesmos que na Vigília pascal. As orações que se seguem, no entanto, são diferentes, retiradas do Sacramentário Gregoriano [12].
Elas reforçam, a sua própria maneira, a continuidade entre os dois Testamentos, e entre a passagem do Israel do Antigo Testamento, liberto da escravidão, ao novo Israel, de pessoas batizadas, libertas do pecado. Citamos aqui apenas aqueles que seguem a segunda e a quarta leitura, que são admiráveis:
“Deus, Vós revelastes pela luz da Nova Aliança o significado dos milagres realizados nos primeiros tempos: o Mar Vermelho tornou-se a figura da fonte sagrada do batismo, e as pessoas libertados da escravidão no Egito expressam os mistérios do povo cristão: fazei com que todas as nações que receberam pelo mérito da fé o privilégio de Israel sejam regeneradas através da participação em seu Espírito”.
“Deus eterno e Todo-Poderoso, Vós tendes mostrado através de seu Filho unigênito que Vós sois o jardineiro de sua Igreja, misericordiosamente cuidador de todos os ramos frutificados em seu Cristo, que é a videira verdadeira, para que produzam mais frutos: fazei que os espinhos do pecado não sobrepujem vossos fiéis, que libertastes do Egito como uma vinha pela fonte do batismo; e que, fortalecidos pela santificação do Vosso Espírito, sejam enriquecidos por uma colheita sem fim”.
A descida para a pia batismal e a bênção da água, após a oração da sexta profecia, reutiliza todos os textos da Vigília Pascal, com exceção da coleta que precede a bênção da água, a qual fala da festa do dia:
“Concedei, nós vos rogamos, Deus Todo-Poderoso: nós, que celebramos a solenidade dos dons do Espírito Santo, que inflamados dos desejos celestes, tenhamos sede da fonte da vida.”
Vemos claramente, através destes textos, a íntima conexão entre o batismo, o dom do Espírito Santo e vida cristã.
Missa
Como vimos, a missa segue imediatamente a Ladainha. Como à Páscoa, não há Introito. Só mais tarde, quando se espalhou o uso de missas privadas, que se acrescentou o Intróito "Cum sanctificatus”, emprestado da quarta-feira da quarta semana da Quaresma.
É o ápice da Vigília e reitera de uma maneira muito concisa a conexão entre o batismo e o dom do Espírito Santo em sua coleta:
Fazei, nós vos rogamos Deus Todo-Poderoso, que o esplendor de Vossa luz brilhe sobre nós; e o brilho de Vossa luz confirme, pela iluminação do Espírito Santo, os corações daqueles que Vossa graça tem revivido. Por Nosso Senhor...
Esta ligação é enfatizada ainda mais na carta dos Atos dos Apóstolos [13]. Trata-se do encontro de Paulo com os discípulos de João Batista. Eles sequer tinham ouvido falar que há um Espírito Santo, depois do que Paulo batiza-os em nome de Jesus Cristo.
O resto da Missa é inteiramente centrada em Pentecostes, com o Evangelho [14] em que Jesus prometeu a seus discípulos que não os deixaria órfãos, mas que deviam orar ao Pai para que Ele enviasse o Consolador.
A Secreta e a Pós-comunhão pedem a purificação dos corações por meio do derramamento do Espírito Santo.
A oração do Canon contém duas partes próprias. No Communicantes menciona-se a festa do dia:
“Unidos em uma comunhão e celebrando o santo dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo apareceu aos Apóstolos sob a forma de múltiplas línguas de fogo, e venerando primeiro a memória da gloriosa Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo nosso Deus e Senhor (...)”
Enquanto o Hanc igitur, como na Páscoa, reza pelos batizados da noite:
“Então, Senhor, este sacrifício que nós oferecemos, e com todos os seus filhos, hoje especialmente para aqueles que vós vos dignastes a regenerar pela água e pelo Espírito Santo, concedendo-lhes a remissão de todos os seus pecados...”
A reforma de 1955
Nos missais após 1955, a Vigília de Pentecostes é agora reduzida a missa, como descrito acima, com o seu Intróito "
Cum sanctificatus”. As profecias, a procissão e a bênção da água foram simplesmente abolidos.
O caráter batismal da vigília foi apagado e a liturgia é inteiramente direcionada para a vinda do Espírito Santo.
Mantivemos a letra, que faz a conexão entre os dois sacramentos. Mas pode-se perguntar por que mantivemos o Hanc igitur que intercede pelos batizados da noite. E isto para a Vigília, dia e Oitava de Pentecostes, como era feito na Páscoa.
Esta oração já era simbólica antes da reforma, já que quase nunca havia batismos durante a celebração. No entanto, ela alargava o caráter batismal da vigília e [por isso] manteve seu lugar. Sua conservação aqui [após 1955], isola-a do resto da celebração e a reduz, mais do que antes, a um simples vestígio.
O missal de 1969
O Missal de 1969 inclui, como já dissemos acima, uma "Missa da noite." É uma missa de antecipação de Pentecostes que, apesar de uma ou outra oração mantida, está longe de ser a antiga vigília.
A antífona de abertura não é mais o velho Intróito "Cum sanctificatus", mas uma citação de Romanos 5.5: O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Seu Espírito que habita em nós, aleluia.
O aspecto batismal não é mais explicitamente mencionado e a ênfase é sobre a vinda do Espírito Santo e o encerramento do Tempo Pascal.
A antiga coleta foi mantida, mas é uma alternativa a outra, que está listada em primeiro lugar. Isto é, aparentemente, uma nova composição:
“Deus Todo-Poderoso e eterno, Vós quisestes que a celebração do mistério pascal crescesse durante estes 50 dias de alegria; fazei que as nações e os povos espalhados se reúnam apesar da divisão linguística para confessar juntos o teu nome. Jesus ...”
Esta é uma alusão a Babel, à divisão de linguagem, e à leitura Do dia seguinte, dos Atos, onde todos entendem na sua própria língua a pregação dos Apóstolos.
A peculiaridade desta Missa, única no missal, é uma escolha entre quatro textos como primeira leitura:
- Gênesis 11, 1-9: A torre de Babel
- Êxodo 19, 3-20: Deus se manifestou no fogo, no meio de seu povo
- Ezequiel 37, 1-14: Os ossos secos
- Joel 3, 1-5: O Espírito vem habitar em todos os homens
À parte do texto de Ezequiel, todos os outros são diferentes das profecias da antiga vigília.
A continuação da Liturgia da Palavra é fixa:
- Salmo 104, 1: Senhor envie o seu Espírito e renovai a face da terra!
- Romanos 8, 22-27: O Espírito nos ajuda em nossa fraqueza
Quanto ao evangelho, manteve-se Jo 7, 37-39: Jesus promete o Espírito aos crentes
O communicantes próprio da Oração Eucarística I é o do antigo missal:
“Na comunhão de toda a Igreja, celebramos o santo dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo se manifestou aos Apóstolos em inúmeras línguas de fogo; e nós queremos mencionar primeiro a bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e nosso Senhor Jesus Cristo ...”
A mesma fórmula, adaptada, também é transferida para as outras orações eucarísticas e, portanto, à Oração III:
“É por isso que estamos aqui reunidos na vossa presença e na comunhão de toda a Igreja, celebramos o santo dia Pentecostes, quando o Espírito Santo se manifestou aos Apóstolos em inúmeras línguas de fogo. Deus Todo-Poderoso, nós vos imploramos consagrar as ofertas que trazemos ...”
Há logicamente mais menções de batizados no Hanc igitur ou seu correspondente nas novas orações.
A Oração sobre as Oferendas e a Oração Após a Comunhão referem-se frequentemente ao Espírito:
“Nós oramos, Senhor, derramai a bênção de Vosso Espírito em nossas ofertas; que Vossa igreja receba essa caridade que fará brilhar no mundo a verdade de sua salvação.”
E
“Senhor, que esta comunhão nos seja aproveitável, fazendo-nos viver do fervor do Espírito Santo com o qual Vós preenchestes vossos apóstolos maravilhosamente.”
Quanto à Antífona da Comunhão, ela é tirada do Evangelho:
“O último dia da festa, Jesus levantou-se e gritou: ‘Se alguém tiver sede, venha a mim e beba’ Aleluia.”
É de se perguntar por que a seqüência da frase, " Quem crê em mim", não foi adicionada.
Continuidade ou ruptura?
"A obrigação de rever e enriquecer as fórmulas Missal Romano foi sentida. O primeiro passo dessa reforma foi o trabalho de nosso predecessor Pio XII, com a reforma da Vigília Pascal e do rito da Semana Santa. Esta é a reforma que deu o primeiro passo para a adaptação do Missal Romano à mentalidade contemporânea”. Assim se expressa Paulo VI na Constituição Apostólica Missale Romanum [15].
Nós sempre voltamos para a mesma pergunta: as alterações desde os anos 50, e então durante a reforma litúrgica, são elas continuidade lógica e histórica do antigo rito romano-franco ou elas marcam uma ruptura?
Aqui vemos uma prática antiga completamente abolida. Esta eliminação, assim diz Mons. Gromier, remove todo o caráter batismal deste dia e centra-o na vinda do Espírito Santo. Provavelmente era o objetivo dos membros da Comissão insistir sobre o batismo na Páscoa e sobre a confirmação em Pentecostes, através do dom do Espírito Santo.
No entanto, a Missa foi conservada, ainda que contenha elementos que lembram a vigília. Isto é, no mínimo, uma inconsistência. A "restauração" dos anos 50, aqui, nada restaurou. Não há necessidade de grande erudição para se perceber que esta reforma foi realizada às pressas e descobrir nela muitas inconsistências.
Quanto à forma de 1969, ela é, como já mencionado, uma nova criação. Atualmente a maioria das dioceses organizam uma "Vigília de Pentecostes”, às vezes com a Missa da Vigília, frequentemente com o sacramento da Confirmação, mas com largo espaço para "criação" e "criatividade" devido à falta de orientações suficientes da parte do Missal.
Longe do “desenvolvimento orgânico” [16] querido pelo Padre Reid, devemos, mais uma vez, ver a falta de lógica e continuidade nos trabalhos das comissões. Neste caso, muita coisa foi removida, deixando um vácuo e criando um amplo espaço para a improvisação. Talvez mais do que em qualquer outro dia do ano litúrgico, as práticas da Vigília de Pentecostes nos diferentes lugares – dioceses e paróquias -, mostram uma diversidade que é uma lembrança de uma das leituras oferecida a escolha dos celebrantes: a de Babel.
Bibliografia
- SCHUSTER, I., Liber Sacramentorum. Notes historiques et liturgiques sur le Missel romain. Tome IV : Le baptême dans l’Esprit et dans le feu (la Sainte liturgie durant le cycle pascal). Bruxelles, 1939.
- GUERANGER P., L’année liturgique, Tome ii: Le Temps pascal, Mame & Fils, Paris, 1920,
- PARSCH, P., The Church’s Year of Grace, Liturgical Press, Collegeville, 1953.
- REID A., The Organic Development of the Liturgy, St Michael’s Abbey Press, Farnborough 2004
Notas
[3] Schuster, I., Liber Sacramentorum. Notes historiques et liturgiques sur le Missel romain. Tome IV : Le baptême dans l’Esprit et dans le feu (la Sainte liturgie durant le cycle pascal). Bruxelles, 1939.
[4] Tertuliano, De Baptismo 8, 1.
[5] Epist. ad Himerium cap. 2 : Patrologia Latina vol. XIII, col. 1131B-1148A
[6] Epist. XVI ad universos episcopos per Siciliam constitutos : P.L. LIV col. 695B-704A
[7] Durante a leitura das profecias do Sábado Santo, os sacerdotes terminavam os ritos de preparação dos catecúmenos ao Batismo, o que tomava um certo tempo. Daí o comentário de Dom Guéranger sobre a relativa brevidade das profecias.
[8] GUERANGER P., L’année liturgique, Tome ii: Le Temps pascal, Mame & Fils, Paris, 1920, p. 260
[9] PARSCH, P., The Church’s Year of Grace, Liturgical Press, Collegeville, 1953.
[10] A rubrica especifica: nos lugares onde não há pia batismal, depois da sexta profecia com sua oração, o celebrante tira a casula e se prosterna com os ministros diante do altar. E, estando ajoelhados todos os outros, cantam-se as ladainhas. São cantadas por dois cantores no meio do santuário, as dois coros respondem juntos. Ao verso Peccatores, te rogamus o padre e os ministros levantam-se e vão à sacristia, e vestem paramentos vermelhos.
[11] Citamos novamente a rubrica: Ao fim das ladainhas, canta-se o Kyrie Eleison para a missa, repetindo-o conforme o costume. Durante esse tempo o celebrante e os ministros vão para o altar e fazem a confissão. Ao fim do Kyrie Eleison se entoa o Gloria in excelsis Deo e tocam-se os sinos.
[12] Esse documento, catalogado Codex Regina 337, foi recentemente publicado pela Biblioteca Vaticana. É um manuscrito do século VIII que descreve a liturgia papal em Latrão, depois da organização da liturgia pelo Papa São Gregório Magno e seus sucessores, até o tempo do papa Adriano I (+795), que enviou o manuscrito ao imperador Carlo Magno a fim de estabelecer a liturgia romana em todo o seu império. O Codex Regina 337 foi analisado por H.A. Wilson no livro The Gregorian sacramentary under Charles the Great, publicado pela Henry Bradshaw Society em Londres em 1915.
[13] Atos 19, 1-8.
[14] João, 14, 15-21.
[15] 03 de abril de 1969.
[16] Alcuin Reid OSB, The Organic Development of the Liturgy, St Michael’s Abbey Press, Farnborough 2004.