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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cardeal Koch: Se a crise da Igreja é acima de tudo na Liturgia, comece-se por renová-la

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Original em alemão: Rádio Vaticana
Tradução do alemão para o inglês: New Liturgical Movement
Tradução do inglês para o português: Salvem a Liturgia

O restabelecimento da antiga missa latina [forma extraordinária do Rito Romano] é apenas “um primeiro passo”, de acordo com o Cardeal Kurt Koch, um oficial da Cúria Romana. Contudo, o tempo ainda não está maduro para os próximos passos, disse Koch no fim de semana em Friburgo. As questões litúrgicas estão obscurecidas por ideologias, especialmente na Alemanha [NdT: não só por lá, como bem sabemos nesta Terra de Santa Cruz]. Roma só poderá agir quando os católicos demonstrarem-se mais dispostos a pensar na nova reforma litúrgica “para o bem da Igreja”. O Cardeal discursou numa conferência sobre a teologia de Joseph Ratzinger, a qual também considerou o pontificado de Ratzinger como Papa Bento XVI. Em julho de 2007 o Papa Bento decretou que a Missa no Rito Tridentino, de acordo com o missal de 1962, pode ser novamente celebrada no mundo todo. O Missal de 1970 é ainda, entretanto, a “forma ordinária” da Celebração Eucarística na Igreja Romana. Koch é o presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Ele tentou refutar a acusação de que Bento XVI está indo contra o Concílio Vaticano II (1962-65), em suas questões litúrgicas: “o Papa sofre com esta acusação”. Muito pelo contrário, a intenção do Santo Padre é antes implementar os ensinamentos conciliares sobre a liturgia, ignorados até agora. As práticas litúrgicas atuais nem sempre tem algum fundamento real no Concílio. Por exemplo, a celebração versus populum nunca foi exigida pelo Concílio, disse o Cardeal. Um maior desenvolvimento na forma de culto divino é necessário para a renovação interior da Igreja: “Uma vez que a crise atual da Igreja é acima de tudo uma crise da liturgia, é necessário que se comece a renovar a Igreja hoje por meio da renovação da Liturgia".

Una Voce Natal - Rio Grande do Norte

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A Una Voce Natal é uma associação de leigos católicos interessados na promoção e apoio da Missa Tradicional (ou "Tridentina", isto é, a Forma Extraordinária do Rito Romano) no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil.

Organizada em outubro de 2007 e civilmente reconhecida em outubro de 2010, a Una Voce Natal foi a primeira e é a única associação Una Voce devidamente reconhecida pela Foederatio Internationalis Una Voce (Federação Internacional Una Voce - FIUV) no Brasil, honra que foi concedida em outubro de 2011.

Seus associados estão diretamente ligados à promoção e apoio da Forma Extraordinária do Rito Romano no Estado do Rio Grande do Norte, especialmente no território da Arquidiocese de Natal.
A Forma Extraordinária da Missa Romana é celebrada todo domingo em Natal.

Aos poucos, a Una Voce Natal, pretende disponibilizar publicamente todos os folhetos publicados desde a primeira Missa tradicional celebrada em Natal após a publicação do motu proprio Summorum Pontificum: são mais de 300 folhetos das nossas celebrações regulares.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Música litúrgica - índice de links do Próprio e do Ordinário da Santa Missa

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Há poucos dias terminamos de publicar aqui no Salvem a Liturgia uma série de textos sobre a música no Ordinário da Missa. Assim, completamos o Próprio e o Ordinário.

Estão reunidos nesta postagem os links para todos aqueles textos. Incluí também link para um texto escrito pelo Rafael Diehl sobre o "Glória pirata", e um texto de D. Mark Kirby, OSB sobre o Próprio da Missa. Os restantes abordam cada uma das partes do Próprio e do Ordinário.

Ordinário

Introdução ao Ordinário

Kyrie - primeira parte

Kyrie - segunda parte

Gloria

Credo

Sanctus

Agnus Dei

"Contra o Glória pirata", escrito por Rafael Diehl

Próprio

Introito

Salmo Responsorial

Gradual

Aclamação antes do Evangelho

Seqüência

Ofertório

Comunhão

"O Próprio da Missa antes e agora", escrito por D. Mark Kirby, OSB

sábado, 28 de janeiro de 2012

Cardeal Tarcísio Bertone, SDB preside Santa Missa para a Rota ROmana

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Via  Subsidio Liturgico
A Santa Missa de inauguração do Ano Judiciário do Tribunal da Sacra Rota Romana foi celebrada pelo cardeal Bertone, secretário de Estado do Vaticano, no dia 21 passado, na Capela Paulina.
Destaca-se o uso de paramentos tradicionais  e o altar conforme as indicações e o exemplo do Papa.
  












sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Ano da Fé e a Sagrada Liturgia

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O Santo Padre proclamou recentemente um Ano da Fé, com início no dia 11 de outubro de 2012 – cinquentenário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II e 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica  –, e fim na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo (24 de novembro de 2013). Trata-se de um “convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo” (Carta ap. Porta fidei, n. 6), com uma ênfase muito forte na catequese e na nova evangelização, como se pode entender do restante da proposta do Santo Padre.

A escolha da data inicial não se trata de mera coincidência, mas antes “ocasião propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, «não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja” (Ibid., n. 5). E o Sumo Pontífice ainda recordou as palavras do célebre discurso em que comentou, pela primeira vez como Papa, a questão da abordagem hermenêutica diante do Concílio, ruptura ou continuidade:
Quero aqui repetir com veemência as palavras que disse a propósito do Concílio poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: «Se o lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja». (Discurso à Cúria Romana (22 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006), 52)
O que o Ano da Fé tem a ver com a Liturgia? Tudo! Lex orandi, lex credendi. E o modo como a maioria das nossas celebrações litúrgicas acontece parece indicar ao mundo que nossa fé em nada difere de outras “opções” disponíveis no “mercado” das religiões, das seitas e da auto-ajuda. Mas se de fato cremos que o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós, oferecendo-se a Si próprio em sacrifício ao Deus Altíssimo para nos resgatar das trevas do pecado, e que este sacrifício é perpetuado no tempo de forma incruenta por meio do Santo Sacrifício do Altar, é isto que nossas celebrações litúrgicas – em especial a Santa Missa – precisam dizer. Penso que é isto que o Santo Padre quis dizer quando falou que “sem a liturgia e os sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que sustenta o testemunho dos cristãos” (Carta ap. Porta fidei, n. 11). Afinal, de que adianta dizer “eu creio” se não há uma coerência de vida, tanto na vida secular como na vida espiritual? Como dizer “eu creio” e rezar como se não se cresse ou como se isso não fizesse diferença?

O Santo Padre nos indica o caminho. Conhecer e assimilar os textos do Concílio Vaticano II. E aqui entra a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. O primeiro documento a ser aprovado pelos padres conciliares, e certamente o primeiro a ser ignorado quando de sua aplicação prática. Que o Concílio Vaticano II quis uma reforma litúrgica, isso todo mundo sabe, afinal é quase que um dos únicos ponto do documento que se comenta. Curiosamente, estas pessoas que se dizem aplicadores da reforma litúrgica são as mesmas que dizem por aí que o Concílio aboliu o latim, que o Concílio quis o fim da celebração orientada (versus deum, ad orientem).

Não é nada disso que o Concílio quis dizer no tocante à Sagrada Liturgia porque não foi para nada disso que os 2147 padres conciliares deram seu placet, quando aprovaram o documento. O Papa Bento, no mesmo discurso citado acima, classifica como perigosa a hermenêutica da descontinuidade, que “afirma que os textos do Concílio como tais ainda não seriam a verdadeira expressão do espírito do Concílio”. Seguindo a chave hermenêutica do Papa, o que quis de fato o Concílio foi - apenas citando dois exemplos:
  • a conservação do uso do latim nos ritos latinos, deixando, porém, maior espaço para o vernáculo, especialmente nas leituras e admonições, em algumas orações e cantos (Sacrosanctum Concilium, n. 36);
  • a primazia do canto gregoriano na ação litúrgica, como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano, embora não se excluam outros gêneros de música sacra, como a polifonia (Sacrosanctum Concilium, n. 116);

Complementando o motu proprio que promulgou o Ano da Fé, no último dia 6, Solenidade da Epifania do Senhor, a Congregação para a Doutrina da Fé publicou a “Nota com indicações pastorais para o Ano da Fé”. Alguns pontos que destaco, por estarem relacionados direta ou indiretamente com a Sagrada Liturgia e a ressacralização litúrgica que vem sendo promovida pelo Santo Padre ao longo de seu pontificado:

III. A nível diocesano 
1. Deseja-se uma celebração de abertura do Ano da Fé e uma solene conclusão do mesmo a nível de cada Igreja particular, ocasião para “confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro” (Bento XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 8). 
2. Será oportuno organizar em cada Diocese do mundo uma jornada sobre o Catecismo da Igreja Católica, convidando especialmente os sacerdotes, as pessoas consagradas e os catequistas. Nesta ocasião, por exemplo, as Eparquias orientais católicas poderiam preparar um encontro com os sacerdotes para testemunhar a sensibilidade específica e a tradição litúrgica próprias ao interno da única fé em Cristo; assim as jovens Igrejas particulares nas terras de missão poderão ser convidadas a oferecer um testemunho renovado daquela alegria na fé que tanto as caracterizam. 
5. Será oportuno controlar a assimilação (receptio) do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica na vida e na missão de cada Igreja particular, especialmente em âmbito catequético. Neste sentido se deseja um empenho renovado por parte dos Ofícios catequéticos das Dioceses, os quais – com o apoio das Comissões para a Catequese das Conferências Episcopais ; têm o dever de providenciar à formação dos catequistas no que diz respeito aos conteúdos da fé. 
6. A formação permanente do clero poderá ser concentrada, especialmente neste Ano da Fé, nos Documentos do Concílio Vaticano II e no Catecismo da Igreja Católica, tratando, por exemplo, de temas como “o anúncio do Cristo ressuscitado”, “a Igreja, sacramento de salvação”, “a missão evangelizadora no mundo de hoje”, “fé e incredulidade”, “fé, ecumenismo e diálogo interreligioso”, “fé e vida eterna”, “a hermenêutica da reforma na continuidade”, “o Catecismo na preocupação pastoral ordinária”.

 
IV. A nível das paróquias / comunidades / associações / movimentos
2. O Ano da Fé “será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia (Ibid., n. 9). Na Eucaristia, mistério da fé e fonte da nova evangelização, a fé da Igreja é proclamada, celebrada e fortalecida. Todos os fiéis são convidados a participar dela conscientemente, ativamente e frutuosamente, a fim de serem testemunhas autênticas do Senhor.
3. Os sacerdotes poderão dedicar maior atenção ao estudo dos Documentos do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica, tirando daí fruto para a pastoral paroquial – a catequese, a pregação, a preparação aos sacramentos – e propondo ciclos de homilias sobre a fé ou sobre alguns dos seus aspectos específicos, como por exemplo “o encontro com Cristo”, “os conteúdos fundamentais do Credo”, “a fé e a Igreja” (Cf. Bento XVI, Exort. Ap. Pós-Sinodal Verbum Domini, 30 de setembro de 2010, nn. 59-60 e 74)

Finalizo, seguindo as indicações da Nota pastoral, com um apelo a todas os clérigos e aos leigos que, de alguma forma, trabalham com a liturgia, em pastorais e grupos de acólitos: leiamos a Sacrosanctum Concilium, para que os seus 130 pontos sejam verdadeiramente recebidos e aplicados, e para que a forma ordinária do Rito Romano seja celebrada com toda a dignidade e zelo que é devido ao Santo Sacrifício.
Estou convencido de que a crise na Igreja, pela qual passamos hoje, é causada em grande parte pela decadência da liturgia, que às vezes é concebida de uma maneira etsi Deus non daretur [Como se Deus não existisse], isto é, que nela não importa mais se Deus existe e se Ele nos fala e nos escuta. Quando, porém, na liturgia não aparece mais a comunhão da fé, a unidade mundial da Igreja, o mistério de Cristo vivo, onde, então, ainda aparece Igreja, em sua essência espiritual? Aí a comunidade ainda celebra somente a si mesma, mas isso não vale a pena. E já que a comunidade por si só nem existe, e é sempre formada somente pela fé, sendo criada como unidade pelo Senhor, é inevitável, naquela suposição, que a Igreja se divida em partidos de todo tipo, e os grupos se oponham uns aos outros dentro de uma Igreja que se dilacera a si mesma. Por isso precisamos de um novo movimento litúrgico, que dê vida à verdadeira herança do Concílio Vaticano II.” (Cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, Lembranças da Minha Vida, Paulinas, São Paulo, 2006)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Reflexões sobre a Missa nova e a Missa antiga

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Artigo escrito pelo Prof. Carlos Ramalhete, que gentilmente nos envia:

Alguns pontos sobre a relação dos católicos com a liturgia, tendo em vista uma reintrodução da liturgia clássica como uso normativo (coisa que não tem praticamente chance nenhuma de acontecer, mas que enfrentaria menos dificuldades no Brasil que em qualquer outro país, com a possível exceção dos países do Oriente e da África):

A suposta "espontaneidade" das Missas paroquiais normais (no rito novo) não tem nada de espontânea. Ao contrário, aliás: o que ocorra na imensíssima maioria das paróquias é ou bem um padre que decide tudo e faz uma "equipe de liturgia" que invente besteiras do tipo que ele gosta, ou um grupinho de pessoas que se sentem importantes e têm "ministérios" (que eles percebem como se fossem ministérios de Estado, ou coisa assim: coisas que os fazem ser "VIPs") que fazem tudo. O povão fica sentado e aceita o lixo que se lhes é apresentado.

O povo brasileiro é extremamente conservador, culturalmente falando, e isso implica um sentido de respeito à autoridade que não tem equivalente no Primeiro Mundo. O conservadorismo é em geral inversamente proporcional à inserção na "modernidade". O resultado disso é que o "conservador" de internet é geralmente muitíssimo menos conservador que o porteiro do prédio dele, por exemplo.

A prática católica, no Brasil, pode ser dividida em alguns grupos.

O maior em número é o daqueles que vão à Missa pq domingo é dia de ir à Missa, não participam de "pastorais" (como sempre digo, falta "ovelhal" pro pessoal participar sem tomar o lugar do padre...), rezam antes de comer e de dormir e ao acordar, e toleram quase qualquer coisa que ocorra na Missa. Este grupo simplesmente não teria nenhum problema com a reintrodução da liturgia clássica. É claro que nos primeiros dois ou três meses haveria um estranhamento, mas não mais do que isso. Muitos, aliás, que não vão à Missa por não se sentirem bem no meio daquela azáfama e daquele auê, voltariam a ir à Missa. Eu conheço muita gente que não vai à Missa por não gostar do auê. Aqui na minha região, aliás, ocorre uma coisa curiosa: há um padre da Adm. Apostólica que tem família na região. Quando o pároco era um monsenhor mais conservador, ele era chamado de vez em quando para celebrar nas capelas rurais. Simplesmente não havia nenhuma estranheza. Todo mundo ia à Missa (inclusive gente que normalmente não ia), e a Missa tradicional era percebida simplesmente como sendo uma Missa.

O segundo grupo, em número, é o dos que se metem nas "pastorais" e se percebem como "atores" da Igreja, agindo predominantemente na paróquia. Estes são os que reagiriam contra a reintrodução da liturgia clássica, unindo-se nisso ao clero. O clero não gostaria da reintrodução da litugia tradicional pq ela dá muito menos espaço para o "show" do padre. O padre some, não é o "Faustão" que muitos padres se vêem como sendo. Neste sentido, aliás, é interessante perceber como é hoje em dia mais comum que na foto do convite da ordenação o padre apareça com um microfone que com o Santíssimo! Os leigos "ativos" perceberiam, com razão, que a Missa de sempre iria fazer com que eles não pudessem mais ficar bancando "otoridade", botando roupitchas engraçadas e se achando donos da Missa.

O menor grupo é o dos modernistas, de esquerda e de direita. Os modernistas de esquerda muitas vezes se confundem com o pessoal das "pastorais": a diferença é que eles em geral têm alguma "causa" externa (ideias remanescentes da "Teologia da LIbertação", por exemplo) que serve como desculpa para sua atração pelo "poder" intra-paroquial que agir nas famigeradas "pastorais" lhes dá. Os modernistas de direita dedicam-se a condenar a Santa Sé, os Bispos e o Clero, e raramente agem nas paróquias, que só servem para demonstrar que, como os presentes e atuantes da liturgia não são todos santos e puros, são evidentemente crias chifrudas do demônio. Ambos os grupos de modernistas reclamariam muito. Os de esquerda, por perceber que simplesmente não teriam mais espaço para fazer o que fazem; os de direita, pq a Missa antiga seria celebrada de uma forma que eles perceberiam como imperfeita.

Os carismáticos, na sua imensa maioria, pertencem ao primeiro grupo, com a diferença de que eles procuram, como crianças que se vêem sem os pais, fazer o melhor para dar uma "sacralidade" à liturgia. Como a sua herança litúrgica lhes foi negada, eles o fazem imitando cultos protestantes, que são a única coisa que eles conhecem que fala de Nosso Senhor Jesus Cristo de forma evidentemente devota e sem misturar com política ou auto-ajuda. Se eles tiverem a liturgia clássica, vão achar o que vinham procurando. Alguns poucos pertencem ao segundo grupo, mas mesmo estes são, em geral, mais verdadeiramente devotos que os modernistas de esquerda e os simplesmente vaidosos que lhes fazem companhia no grupo, e provavelmente teriam grande prazer em trabalhar em prol de uma liturgia bem celebrada.

O povão pobre pertence quase todo ao primeiro grupo, com um pequeno contigente de "buscadores de poder", muitos deles modernistas de esquerda em dioceses que foram dominadas pela TL por muito tempo. Para a imensa maioria da população, a introdução da Missa antiga seria simplesmente uma mudança não muito maior que a que eles experimentam quando muda o pároco e a liturgia vira de ponta-cabeça (afinal, na Missa nova, cada padre celebra de forma tão diferente que poderiam ser religiões diferentes, e o povão aguenta). Para a maioria, seria um alívio não ter gente que só falta cutucá-los para que fiquem berrando respostas e sacudindo folhetinhos.

Os paulistas quatrocentões e quetais, em sua maioria, são modernistas de esquerda. Alguns poucos são modernistas de direita, e todos são pessoas acostumadas a ter o que querem. Para eles, o retorno à liturgia clássica seria uma coisa horrorosa por não lhes ter sido perguntado se era isso que eles queriam, além dos problemas dos grupos a que já pertencem. Eles são um pouco mais próximos aos cidadãos do Primeiro mundo, com o agravante de terem sido criados como "coronéis" e se acharem no direito de dizer com as coisas devem ser feitas.

O que o Papa diz no seu livro Introdução ao Espírito da Liturgia é que, por mais que a "reforma" tenha sido na prática um fracasso, com coisas abomináveis sendo introduzidas na liturgia (como, por exemplo, o padre se enfiar atrás do altar, fazendo com que a Missa passe a ser uma celebração da assembléia reunida, sem abertura para o Divino...) não vale a pena fazer outro horror como o que foi feito em 1970 e mudar bruscamente de novo. O objetivo, contudo, é retornar à liturgia clássica ou, ao menos, a algo tão próximo dela que seria difícil perceber a diferença. Isto de comer o mingau pelas beiradas, contudo, a meu ver é algo que faz mais sentido no Primeiro Mundo (onde *só há* modernistas de esquerda e de direita, por a sociedade ter-se descristianizado na Europa e nunca ter sido católica, nos EUA). O que eu descrevi daqui (a Missa antiga que é celebrada sem que ninguém estranhe) é algo inimaginável no Primeiro Mundo, em que todo mundo se considera um indivíduo dotado de voz e voto e que precisa ser convencido.

De todo modo, o problema aqui seria outro. Aqui, como no resto do mundo, os padres são, via de regra, pessoas que não tiveram uma formação decente e que, muitas vezes, tornaram-se padres por quererem ser "showmen" ou políticos. Para efetuar esta mudança no Brasil, seria necessário nomear bons Bispos, dando a eles a missão de formar bons padres, e ajudá-los a "dar a volta" no clero enquanto formam uma geração de padres que acolha a Tradição, para substituir os que estão por aí. O laicato é obediente, mas o clero não. Uma ordem de Roma seria simplesmente ignorada pelo clero, e em algo como a Missa que deve ser celebrada, ou mesmo como ela o deve ser, é fundamental que haja adesão do clero às instruções emanadas da Santa Sé. E isso só virá com uma geração que tenha sido formada de maneira ortodoxa.

A reforma dos seminários, já ordenada, é um bom passo neste caminho. É necessário que os Bispos cuidem disso também.

Lembro ainda, tratando do conceito de participação plena, muitas vezes usado de forma errônea para justificar o injustificável, que quanto mais se "faz coisas", quanto mais se crê entender o que está acontecendo por se entender as palavras usadas em vernáculo, quanto mais se crê entender e - horresco referens - "criar" uma liturgia, maior é a dificuldade para que haja uma participação real. É até curioso perceber como muita gente boa, qdo vai na Missa clássica pela primeira vez, fica perdido tentando "fazer coisas", acompanhar no Missal, etc., acostumado a ser instado a se distrair da Missa, como sói acontecer na Missa nova. Quando percebem que ninguém ali está forçando a isso, em geral acabam participando muito mais na Missa clássica que na nova.

O Sacramento é um "sinal visível e eficaz de uma realidade invisível". A liturgia verdadeira, a realidade da liturgia, é invisível. É por isso que o padre fala "unamos a nossa voz à dos Anjos e dos Santos", por exemplo: porque o Santo Sacrifício que está ocorrendo não é visível. Ele ocorre na Jerusalém Celeste e é miraculosamente tornado presente ali pela eficácia do sinal que é a celebração da Missa.

Note que é um sinal, não um símbolo. Um sinal é, por exemplo, como a fumaça que sinaliza que há fogo; um símbolo é como uma cruz vermelha que indica que ali pode haver doentes, pode haver médicos, etc.

A Missa que é celebrada é um sinal, como a fumaça. Ela indica a Missa Eterna, que ocorre fora do Tempo e entra no Tempo ali, devido à eficácia deste sinal. O foco da participação, porém, não é nem pode ser o sinal, sim aquilo que ele sinaliza. O fogo, não a fumaça. A liturgia que se celebra é a fumaça; se ela sobe naturalmente, ela aponta com segurança para o fogo que a origina, e é fácil encontrá-lo. Se, ao contrário, fica-se brincando de "esculpir" a fumaça com ventarolas e ventiladores, daqui a pouco se tem um fluxo caótico que não aponta para o fogo, e fica muito mais difícil saber onde podemos nos esquentar.

Paradoxalmente, o projeto da Missa nova, a visão que a construiu (porque ela é uma coisa construída, ao contrária da liturgia clássica, desenvolvida organicamente pelo Espírito Santo ao longo dos séculos), é uma visão muito, muitíssimo, mais "seca" e "reta" que não só a celebração mais comum dela, mas que a própria Forma Extraordinária. Permanecendo na mesma analogia, Dom Bugnini (o presidente do comitê que escreveu o Missal de Paulo VI) queria uma fumaça absolutamente reta, apontando sem firulas, sem o que ele percebia como "repetições inúteis" para o fogo da Missa eterna.

Cabe sempre lembrar que o CVII não mandou criar uma liturgia aberta à espontaneidade. Foi um problema decorrente do momento histórico em que surgiu a liturgia nova, somado às ideias erradas que animaram Dom Bugnini. O que ele tinha em mente era uma coisa seca e racional, mais ou menos no estilo da Comunidade de Bari, e assim ele criou uma liturgia comparável a um quarto de hotel: algo racional e seco, em que tudo está no lugar mais evidente. E, como num quarto de hotel, há escolhas possíveis: onde botar a mala, a senha do cofre, a temperatura do ar condicionado, etc.

Mas aconteceu com o "quarto de hotel" o mesmo que aconteceu com as "máquinas de morar" que a arquitetura moderna dizia que as casas tinham que ser. O arquiteto Le Corbusier, inventor da expressão “máquina de morar”, pariu gatinhos de ódio quando percebeu que os conjuntos habitacionais medonhos que ele fizera – grandes cubos de cimento nu – foram “embelezados” pelos moradores com cortininhas, florezinhas, paninhos coloridos, etc., numa tentativa de dar alguma vida àqueles ambientes secos e racionais.

O mesmo ocorreu com a liturgia, com o agravante de ter havido um abandono maciço da Fé nos anos pós-conciliares, o que levou a ver na liturgia um espaço em branco para preencher com qualquer besteira imanente que pareça importante. No tempo da “Teologia da Libertação”, era comum ver enxadas, facões e bandeiras vermelhas. Agora que os hippies velhos já estão quase todos aposentados, em geral são ou besteiras de autoajuda e xuxuzismo (ser amiguinho de todo mundo, ter autoestima, etc.) ou simplesmente emoções açucaradas que são usadas, como as samambaias dos habitantes dos conjuntos habitacionais do Le Corbusier, como forma de injetar alguma vida numa coisa seca.

Mas isso é extremamente problemático, porque - como a Igreja sempre ensinou e como até mesmo os últimos Papas já disseram e repetiram ad nauseam - a liturgia não é algo a ser inventado ou criado.

A visão "seca" bugniniana não está de acordo com a natureza humana. Ela decorre de um erro de antropologia filosófica, por sua vez decorrente da mentalidade moderna. Cartésio dizia que ele pensa, logo existe a sua mente racional. Mas ele não tinha certeza de que tinha braço. Isso porque a razão (ou, como esse pessoal gosta, a Razão, com "R" maiúsculo) é simples, seca, eficiente. O corpo sua, solta pum, fica com fome. A visão bugniniana do homem é a visão moderna, que acha evidente que a casa tem que ser uma "máquina de morar", feita de linhas retas de concreto nu. A Missa nova é uma "máquina de oferecer o Sacrifício", feita de linhas retas e secas. Mas a natureza humana não aceita estas linhas. Ela exige curvas, exige fractais complexos.

A Missa tradicional oferece estes fractais, na forma justamente daquilo que tanto ofendia o desejo de secura de Dom Bugnini: nas repetições e adições aparentemente sem sentido, como é aparentemente sem sentido a organização que uma dona de casa faz de uma despensa, como é aparentemente sem sentido uma segunda e uma terceira voz em contraponto numa música de Bach. O padre diz "ite, missa est" (“ide, este é o envio/a Missa acabou”), e depois continua?! Isso não faz sentido! O "ite, missa est" tem que ir pro fim da Missa! E por aí vai.

Mas este "ite" ali, antes do fim, ressalta de maneira perfeitamente adequada à natureza humana a nossa necessidade da bênção que vem depois. E esta bênção nos chama, de modo admiravelmente adequado à nossa natureza, para ouvirmos a proclamação do Evangelho final. O sentido que isto faz não é o sentido racional, incorpóreo, que Dom Bugnini prezava, mas um sentido divinamente humano, tão humano quanto o dos dois passos que o marido, já à porta, dá de novo para dentro de casa para roubar um último beijo da mulher que ama antes de sair para o trabalho.

Na Missa nova, isto faz uma falta tremenda. E é por isso que as pessoas sentem a necessidade de inventar coisas, de botar "samambaias e paninhos" aqui e ali. Le Corbusier ficava especialmente irritado com as cortinas que os moradores instalavam; ora, ele havia pesquisado a posição do sol naquele lugar, e feito enormes quebra-sol de concreto para garantir que o sol não fosse entrar nos apartamentos-máquinas-de-morar. Mas, mesmo assim, as pessoas insistiam na "repetição inútil" das cortinas. Por quê? Porque são seres humanos, a quem a secura é... seca demais.

Estas invenções, contudo, são quebra-galhos. Elas servem para aliviar a secura, mas elas não estão de acordo com o projeto arquitetônico. E nisso Le Corbusier tinha razão. Mas o que estava errado ali não era a cortininha, sim o projeto.

O mesmo ocorre na liturgia nova: celebrada corretamente (o que é raríssimo, mas que eu já tive ocasião de assistir habitualmente), ela aponta secamente para o Mistério, para a Missa eterna na Jerusalém celeste. Mas aponta como uma seta: reta, seca, vagamente irritante. É uma fumaça que sobe reta, sem cheiro de cedro ou eucalipto, sem a luminosidade difusa do fogo que a alimenta. Fica faltando algo que "descanse os olhos", que "descanse a alma", que aponte organicamente para o fogo. Daí as invencionices litúrgicas.

Mas essas invenções não apontam para o fogo, porque a irritação com a secura daquela seta nua faz com que esta se torne, paradoxalmente, o centro da atenção. É por isso que as invenções raramente são invenções devotas, e quando o são, em geral, são de um tipo de devoção que distancia do Mistério.

Por exemplo: é muito mais comum que sejam enfiadas na liturgia referências à comunidade, a peculiaridades locais ou à política que jaculatórias piedosas. E quando se enfia uma jaculatória piedosa, é comum que ela seja, de modo não intencional, uma forma de negação do próprio Mistério. Aqui na minha região, por exemplo (Sul de MG), é comum que seja dita a jaculatória indulgenciada de São Tomé na Grande elevação. Mas as pessoas a dizem em voz alta (a indulgência é para quem a diz de modo silencioso) e ainda acrescentam ao fim; ao invés de "meu Senhor e meu Deus", dizem "meu Senhor e meu Deus, eu creio em Vós; aumentai a minha Fé". Ora, a forma original significa "este é/Vós sois meu Senhor e meu Deus". Quando se faz este acréscimo, se está substituindo um reconhecimento do Mistério (a presença de Nosso Senhor nas Sagradas Espécies) por uma oração que poderia ser feita em qualquer momento, mesmo distante do Santíssimo Sacramento.

A expressão "como estranhos ou espectadores mudos", usada na Sacrosanctum Concilium (n. 48), que muitos aplicam à situação dos fiéis na Missa tradicional apenas, é a meu ver, muitíssimo mais aplicável à liturgia nova. O que a secura da forma nova fez foi atrair a atenção para o que ocorre no tempo, e distrair do Mistério que ocorre fora dele. As pessoas passaram a ser estranhos ao fogo, e familiares à fumaça. É um tal de olhar para o lado, de ver o que se está fazendo, se levantar folheto, abanar folheto, de ser instado a cantar junto, que o foco da ação passa a ser não a realidade invisível ali sinalizada eficazmente, mas os acidentes do sinal.

Já na Missa antiga, o que se tem é uma busca de participação no Mistério: um reza em silêncio, outro sussurra o terço, outro segue um livro de devoções, outro responde junto com o coroinha... A fumaça, que está ali, aponta para o fogo, sinaliza que o fogo está lá, e é o fogo o centro das atenções.

O problema é este: o CVII pediu que fosse feita uma reforma (não uma reinvenção) buscando uma "nobre simplicidade". Ao invés disso, criou-se uma coisa nova, que é "simples" (ou melhor, seca) onde não deveria ser e complexíssima onde não deveria. O ciclo trianual de leituras, por exemplo, fez com que pela primeira vez na história da Igreja os padres não tivessem sempre à mão um tesouro de homilias para cada domingo do ano. É o oposto de simplicidade: leituras aos borbotões, mudando tanto e levando tanto tempo para serem novamente encontradas, que a familiaridade do fiel médio com elas se tornou quase impossível. Ao mesmo tempo, na hora em que a sociedade passava da modernidade à pós-modernidade em que "tudo o que é sólido desmancha no ar", perdeu-se o referencial do Eterno que é a liturgia tradicional. E por aí vai.

Uma mudança no sentido oposto, com pequeníssimas mudanças na liturgia propriamente dita (leituras feitas no ambão nas Missas rezadas, vernáculo nas leituras dominicais, novas leituras feriais...), somado a uma ênfase nos sinais externos da Tradição católica (tonsuras, batinas, etc.) teria ajudado enormemente a Igreja e o mundo. Mas, infelizmente, o que se fez foi provocar um agravamento da crise gravíssimo, de que só sairemos plenamente em algumas gerações.

Visita de D. Antonio Rossi Keller, Bispo de Frederico Westphalen-RS, ao SMME

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Venha a nós o vosso reino!

Dom Antonio Rosse Keller, Bispo de Frederico Westphalen, visitou o SMME, onde estudam alguns dos seus seminaristas, e celebrou a Santa Missa dominical com a comunidade.


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