Fundamentação bíblica
Se há fundamentações escriturísticas muito fáceis de serem assinaladas, são as que se referem à dimensão sacrifical da Eucaristia. Basta recordar as palavras da instituição eucarística, nos evangelhos sinóticos e em S. Paulo, e reler a promessa narrada por S. João (6,51), para nos darmos conta de que a intenção sacrifical não é uma invenção da Igreja.
Não há dúvida alguma de que, narrando as palavras da instituição recebidas pela Tradição, S. Paulo subentende a intenção sacrifical: Na noite em que ia ser entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: "Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim". Do mesmo modo, ao fim da ceia, tomou o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim". E a versão de S. Lucas parece mais luminosa a este respeito: "Isto é o meu corpo que é dado por vós" (Lc 22,19). Compreendemos, assim, que o corpo não é somente dado em alimento, mas dado aos convivas presentes em sacrifício. Seja dito de passagem que, no N.T, encontramos o verbo 'dar' utilizado por Jesus para designar o seu sacrifício: "Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10,45; Mt 20,28). A mesma precisão existem em S. Lucas a respeito do cálice. É assim que, onde Paulo fala de "nova aliança em meu sangue", Lucas acrescenta "derramado por vós": "Este é o cálice da nova aliança em meu sangue, que é derramado em favor de vós" (Lc 22,20). Teria Lucas querido completar a fórmula breve demais de Paulo, mesmo ao preço de uma difícil concordância gramatical? Em todo caso, a referência ao sacrifício realça de alguma maneira o dom do corpo e do sangue. E é necessário acrescentar que o próprio S. Paulo, em 1 Cor 11,26, não esconde o anúncio da morte de Cristo em cada Eucaristia, sem dúvida uma oferenda não sangrenta, mas não menos real: "Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha".
Aqueles que ainda teriam dificuldade para reconhecer o caráter sacrifical da Eucaristia precisarão apenas ler esta passagem de S. João: "Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo" (Jo 6,51). Neste versículo, a alusão sacrifical é tanto mais plausível, que Jesus não fala do dom de sua "vida", como em Jo 10,15.17 ou Jo 15,13, mas fala antes de sua "carne". A palavra "carne" não seria senão o equivalente de "isto é o meu corpo dado por vós", assim como "para que o mundo tenha vida" seria o equivalente de "para muitos". De seu lado, a alusão ao sangue que é preciso beber, em Jo 6,53, designaria o cálice sacrifical, o "sangue derramado por vós" dos relatos sinóticos.
O ensinamento de Trento
Na 22a. sessão do Concílio de Trento, em 17 de setembro de 1562, nos cânones 1 e 3, os padres conciliares são taxativos:
"Se alguém diz que na Missa não se oferece a Deus um sacrifício verdadeiro e autêntico, ou que esta oferenda está unicamente no fato de que o Cristo nos é dado em alimento, que seja anátema". (cf. DS 1751)
"Se alguém diz que o sacrifício da missa é apenas um sacrifício de louvor e de ação de graças, ou uma simples comemoração do sacrifício realizado na cruz, mas nãu um sacrifício propiciatório (...) que ele seja anátema". (cf. DS 1753)
No capítulo 1 da Doctrina, certamente tomaram cuidado de lembrar a instituição do santíssimo sacrifício da missa. Temos aqui dois trechos:
"(...) Como a sua morte, entretanto, não devia por fim ao seu sacerdócio (Hb 7,24), na última ceia, na 'noite' em que foi entregue, ele quis deixar à Igreja, sua esposa muito amada, um sacrifício visível onde seria representado o sacrifício sangrento, que se ia realizar uma única vez na cruz, cuja lembrança perpetuar-se-ia até o fim dos séculos (1 Cor 11, 23ss) e cuja virtude salutar aplicar-se-ia à redenção dos pecados, que nós cometemos cada dia..." (cf. DS 1740)
"(...) é uma única e mesma vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos padres, que então se ofereceu a si mesmo na cruz; somente a maneira de oferecer é diferente. Os frutos desta oblação (sangrenta) são colhidos em grunde abundância por esta oblação não sangrenta (incruenta), que não prejudica aquela de modo algum". (cf. DS 1743)
O papa Pio XII, na Mediator Dei reforça o caráter sacrifical da Santa Missa:
"O augusto sacrifício do altar não é, pois, uma pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no qual, imolando-se incruentamente, o sumo Sacerdote faz aquilo que fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima agradabilíssima".
Também o papa Paulo VI, na Carta Encíclica Mysterium Fidei afirma:
"O Senhor imola-se de modo incruento no Sacrifício da Missa, que representa o Sacrifício da Cruz e lhe aplica a eficácia salutar, no momento em que, pelas palavras da consagração, começa a estar sacramentalmente presente, como alimento espiritual dos fiéis, sob as espécies de pão e de vinho." (n.34)
O Concílio Vaticano II na Sacrosanctum Concilium deixa claro:
"O nosso Salvador instituiu (...) o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o sacrifício da Cruz". (n. 47)
E João Paulo II, na Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, reafirma:
"Em virtude de sua íntima relação com o sacrifício do Gólgota, a Eucaristia é sacrifício em sentido próprio, e não apenas em sentido genérico como se se tratasse simplesmente da oferta de Cristo aos fiéis para seu alimento espiritual". (n.13)
Também o papa Bento XVI, na Exortação apostólica Sacramentum Caritatis, diz: "Jesus é o verdadeiro Cordeiro pascal, que se ofereceu espontaneamente a si mesmo em sacrifício por nós, realizando assim a nova e eterna aliança. A Eucaristia contém nela essa novidade radical, que nos é oferecida em cada celebração." (n.9)
Prof. Alexandre, queria parabenizá-lo pelo seu artigo e enfatizar que, aqueles que acham ser apenas um simbolismo o sacrifício de Nosso Senhor, ainda terão a graça de mergulhar nesse Mistério e alcançar por meio do Espírito Santo a profundidade do amor do Cordeiro, imolado pela nossa salvação. Logo Ele, que não tinha pecado algum, "Deus o fez pecado", pois somente Ele seria capaz de beber do cálice, obediente à vontade do Pai. Um abraço, Cláudio Corrêa (Escola Mater Ecclesiae, Núcleo Freguesia)
ResponderExcluirÉ BOM TOMAR CONHECIMENTO TAMBÉM DA PRECIOSA REVELAÇÃO SAGRADA SOBRE A SANTA MISSA: A Santa Missa, Testemunho de Catalina Rivas, Missionária leiga do Coração Misericordioso de Jesus, Imprimatur de Mons. José Oscar Barahona C., Bispo de San Vicente (El Salvador, C.A.)
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